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"Modo sobrevivência"

Sem retorno do governo sobre linha de crédito, setor automotivo começa a fazer demissões

Pandemia fez veículos encalharem nas concessionárias
Estoque de veículos das montadoras é suficiente para três meses de vendas. (Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo)

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Após quase dois meses esperando uma resposta do governo federal para uma proposta de uso de créditos tributários acumulados para solucionar problemas de liquidez, o setor automotivo sofre com a falta de linhas de crédito. Além disso, sem demanda e com a produção em queda por causa da pandemia do novo coronavírus, já há montadoras em processo de demissões para equacionar as contas.

De acordo com o presidente da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), Luiz Carlos Moraes, o governo se mantém aberto a conversas sobre a demanda do setor, mas optou por oferecer crédito às empresas menores.

"Esse problema não é de hoje. A Anfavea fala disso há muitos anos. Mas, como o momento é crucial, o tema torna-se mais urgente do que no passado. Antes, brigávamos pelo crédito tributário para fazer investimentos. Hoje, é para pagar a conta do mês", disse Moraes, em coletiva de imprensa nesta terça-feira (23).

A proposta apresentada ao governo, capitaneada pela Anfavea, era de que os créditos tributários acumulados do setor – algo em torno de R$ 25 bilhões – pudessem ser utilizados como garantia para empréstimos com instituições privadas ou até mesmo com bancos públicos, como o BNDES.

Apesar de manter uma interlocução direta com o ministro da Economia, Paulo Guedes, e também com o secretário especial de Produtividade, Emprego e Competitividade, Carlos da Costa, o setor não recebeu nenhuma resposta oficial do governo sobre a proposta. Tampouco a equipe econômica apresentou um projeto próprio para atender às demandas do setor.

A indústria automotiva reclama da demora do governo para reagir, e da falta de um planejamento para a retomada. "Eu acho tudo isso muito lento. A gente está se virando como montadora, mas a rede de concessionários está sofrendo muito mais. Outros países estão concedendo crédito, e mais: têm a retomada como um de seus pilares", afirmou Moraes.

Segundo ele, as ações da Anfavea estão focadas no "modo sobrevivência". Agora, a ideia é buscar, junto ao governo, iniciativas que estimulem o consumo quando o cenário da pandemia se acalmar.

Sem crédito e com demanda em baixa, setor começa a fazer demissões

Um dos mais atingidos pela crise, o setor automotivo prevê que 2020 registre vendas 40% menores do que no ano passado. Só em maio, a produção de autoveículos caiu 84,4% na comparação com 2019 – e o resultado ainda foi melhor que o de abril, em que o fechamento das fábricas resultou em uma produção 99,4% menor do que a do mesmo período do ano passado.

As montadoras também enfrentam o aumento do dólar, que pressiona o valor de peças e acaba se refletindo em aumento de preços para o consumidor. De acordo com a Anfavea, o cenário está um pouco melhor do que no início da pandemia, mas continua desanimador: se, antes, as montadoras tinham estoque para quatro meses de venda, hoje a "gordura" é para três.

As dificuldades já começaram a se refletir em demissões no setor. Na segunda-feira (22), a Nissan demitiu 398 funcionários da fábrica de Resende, no Rio de Janeiro, que já estavam com os contratos de trabalho suspensos. Com a produção reduzida, a montadora decidiu arcar com a multa prevista na Medida Provisória 936 e demitir os funcionários mesmo assim.

"As montadoras vão começar a planejar o seu retorno de produção e o planejamento da capacidade de mão de obra em função da demanda. E a demanda, como indicamos, vai ser muito baixa. A MP 936 foi uma solução temporária. Estamos em risco no emprego, sem dúvida", disse o presidente da Anfavea.

Falta de liquidez já era apontada como gargalo

No início de maio, em entrevista à Gazeta do Povo, o presidente da Volkswagen do Brasil, Pablo Di Si, alertava para o problema da falta de liquidez no setor automotivo. À época, Di Si defendeu a necessidade de o governo federal intervir e garantir crédito para fornecedores e concessionários, os elos mais fracos da cadeia, já que bancos privados estavam com medo de emprestar.

"Não é uma questão só de dinheiro, é de agilidade, de falta de burocracia. Se você conseguir que esse dinheiro chegue rápido, e se reabrir a atividade com protocolos e disciplina, você tem mais chances", afirmou Di Si, em maio.

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