Uma indústria que chega ao final dos primeiros oito meses do ano com um aumento de 8,6% na sua produção de bens de capital não pode estar passando por um processo de desindustrialização, segundo analistas consultados pela Agência Estado. Para os economistas do Besi Brasil, Flávio Serrano, e Banco Santander, Fernanda Consorte, isto não condiz com as práticas de um setor que elevou em 0,9% a sua atividade em agosto comparativamente a julho, enquanto a indústria como um todo recuou 0,2% no período.
O eco das vozes daqueles que preconizam o curso de um processo de desindustrialização no País repercutiu no governo. Em agosto, a presidente Dilma Rousseff lançou o Plano Brasil Maior, uma nova política industrial. No mês passado, o governo aumentou o Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) de carros importados de fora do Mercosul. Mas nada disso, de acordo com os economistas, contribuiu para o crescimento mostrado pela indústria de bens de capital em agosto. O segmento apresenta trajetória de crescimento desde o começo do ano. A média mensal de expansão do setor de janeiro a agosto é de 0,8%, sendo que em julho, antes do Brasil Maior, a expansão experimentada pela produção de bens de capital foi de 2%.
"Isso indica que a tese de desindustrialização é 'furada'. Não se pode dizer que o setor está se desindustrializando se está produzindo e importando bens de capital. É uma indústria que está investindo e que não está passando por um colapso", avalia Serrano. Segundo o Besi Brasil, a produção industrial como um todo deverá encerrar este ano com um crescimento entre 1% e 2%, que, se confirmado, será determinado pelo mercado interno. É para atender a esta demanda doméstica que a indústria de máquinas e equipamentos está investindo.
"A indústria crescerá entre 1% e 2% e não 4% (taxa próxima da prevista pelo Ministério da Fazenda) porque falta demanda externa", diz Serrano. Ele lembra que, no ano, um dos segmentos que apresentaram a menor taxa de crescimento foi o de bens intermediários (0,6%), que é o mais exposto às variações da economia internacional. Pelo índice de média trimestral de agosto, de acordo com o IBGE, o destaque foi a queda da 0,8% dos bens intermediários. A exceção foi justamente o avanço de 0,7% dos bens de capital.
Para a economista Fernanda Consorte, do Banco Santander, a indústria tem se enfraquecido desde setembro de 2010 porque, até o mês passado, o dólar estava fraco e a taxa de juros, bem restritiva. "Quando recorremos aos modelos econométricos, verificamos que a indústria responde mais rápido (ao câmbio e ao juro) do que o setor de serviços, por exemplo", diz Fernanda.
Além disso, afirma ela, dentro das rodadas de crise, o cenário internacional tem permanecido fraco. "Bens intermediários, que tem uma participação de quase 60% na produção industrial, é o segmento que recebe mais rapidamente os impactos do mercado externo", explica. Para Fernanda, a média trimestral negativa em 0,8% dos bens intermediários sugere que a produção industrial continuará a cair nos próximos meses. "Por outro lado, o crescimento da produção de bens de capital, apesar de representar apenas 7% da produção industrial, sinaliza uma melhora da indústria mais à frente". Para este ano, o Santander trabalha com um crescimento da produção industrial entre 1% e 1 4% e para 2012, com uma expansão de 2,5%.
No Banco Fator, o economista-chefe José Francisco de Lima Gonçalves não descarta a possibilidade de o crescimento da produção de bens de capital ser uma indicação de mais produção estar sendo contratada para frente. Ele pondera, no entanto, que esse crescimento da produção pode também estar indicando uma modernização das máquinas e não expansão da produtividade.
Lima Gonçalves avalia que os dados relativos à indústria não são conclusivos para se dizer que esteja em curso um processo de desindustrialização no País. "Para afirmar isso, teríamos que pegar setor por setor durante todo o ano. Desindustrializar é ter uma queda substancial da produção ou perda de participação no PIB. Mas acho cedo para dizer que a produção industrial no Brasil, num patamar razoável, está perdendo participação no PIB". Ele trabalha com uma expectativa de 1,5% de crescimento para a indústria em 2011.