A decisão do governo russo de aumentar as tarifas extracotas para as carnes brasileiras a partir de 1º de janeiro de 2009 deve atingir, principalmente, o setor de aves. A Rússia decidiu elevar de 60% para 95% a tarifa da carne de frango que exceder a cota estabelecida e reajustar também o valor mínimo da tarifa, aumentando de 480 para 800 euros. Pior do que o aumento da tarifa foi a decisão do governo daquele país de reduzir em 21,5% a cota de importação para 952 mil toneladas para o ano que vem. "A medida cabe no que os russos estão dizendo há algum tempo, de que querem reduzir gradativamente sua importação de frango para se tornar auto-suficientes", afirma Christian Lohbauer, diretor-executivo da Associação Brasileira dos Exportadores de Frango (Abef). "Houve uma displicência e desorientação daqueles que comandam a política comercial brasileira", completa.
Apesar de a medida ter por objetivo a proteção do mercado russo, a maior crítica dos exportadores brasileiros é em relação à classificação do País na distribuição das cotas da Rússia. Apesar de ser o maior exportador mundial de carne de frango, o Brasil está incluído na categoria "outros", enquanto Estados Unidos e União Européia possuem quase a totalidade da cota. "O presidente russo veio para o Brasil, o assunto carnes estava na pauta da discussão dele com o presidente Lula e até agora não se viu absolutamente nada. É um absurdo o Brasil demorar tantos anos para sair dessa categoria", afirma Lohbauer.
De acordo com o executivo, em 2008, a cota de importação russa para carne de frango era de 1,2 milhão de toneladas, em números redondos. Desse total, 800 mil toneladas eram dos Estados Unidos, 250 mil da Europa, 5 mil para o Paraguai e 68 mil para outros países, grupo em que está incluído o Brasil. "Até o Paraguai tem uma cota exclusiva. Nós vendemos nosso apoio para a Rússia na OMC (Organização Mundial do Comércio) de graça, porque a única coisa que temos para vender para eles é comida e parece que ninguém enxerga isso", afirma Lohbauer.
Mas não é apenas o setor de frango será prejudicado. A Rússia é o maior importador da carne suína brasileira. Com a mudança, a tarifa para os carregamentos de carne suína que superarem a cota será equivalente a 75% do preço estabelecido nos contratos de importação, mas não poderá ser menor que 1.500 euros por tonelada. O valor que vigora em 2008 é de 60% do preço, com valor mínimo de 1.000 euros por tonelada. "Para entrar na OMC a Rússia havia se comprometido a não ser tão protecionista. O que eles tinham dito era que a tarifa extracota não seria superior a 60%, mas não foi isso que aconteceu", disse Pedro de Camargo Neto, presidente da Associação Brasileira das Indústrias Produtoras e Exportadoras de Carne Suína (Abipecs).
Apesar do aumento da tarifa para as importações que excederem a cota de importação, os russos decidiram aumentar a cota de 2009 em relação ao que foi praticado neste ano. O volume a ser importado dentro da política de cotas é de 531,9 mil toneladas no próximo ano, volume 7,8% superior ao registrado em 2008. Assim como no frango, o Brasil também é classificado na categoria outros e a proposta na mudança da política foi apresentada pelo setor produtivo ao presidente russo em sua visita ao Brasil. A idéia era que fosse aberta uma cota única, deixando os importadores russos livres para comprar dos fornecedores mais competitivos, passando a adotar o sistema chamado de "nação mais favorecida" na OMC.
Tanto para a carne de frango quanto para a suína, a estratégia russa é reduzir as importações. Com a decisão do governo, a expectativa é de que em 2009 a participação da carne importada em tudo o que é consumido na Rússia caia, algo que não acontece nos últimos cinco anos. Segundo dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a produção doméstica vai representar 69,4% do consumo em 2009, enquanto as importações atenderão 30,6% das necessidades. No frango a situação não é diferente. Do consumo previsto para a Rússia no ano que vem, 40% do frango será importado, uma queda expressiva em relação a 2008, quando a fatia das importações era de quase 45%.