A lua de mel que o mercado financeiro viveu com o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva dissipou-se na gestão da presidente Dilma Rousseff. A atual política econômica tornou-se alvo de críticas do setor que, há um ano e meio da eleição, mostra preferência pelos nomes do senador Aécio Neves (PSDB-MG) e do governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB). O jornal O Estado de S. Paulo conversou com dez influentes integrantes do mercado, entre os quais banqueiros, economistas de instituições financeiras, operadores e donos de fundos de investimento. Com o compromisso de não se identificarem, eles traçaram um diagnóstico convergente sobre a gestão Dilma. Emitiram, ainda, opiniões sobre a sucessão do ano que vem e os demais presidenciáveis.

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Apesar da resistência à presidente e, especificamente, ao ministro da Fazenda, Guido Mantega, os integrantes do mercado avaliam que Dilma vencerá a eleição. E no 1.º turno. Aécio e Campos já buscam aproximação com o mercado, tradicional financiador de campanhas. Neste ano, os dois se reuniram com donos de bancos e gestores de fundos. Dilma, que manteve pouco diálogo com o setor nos dois primeiros anos de mandato, acatou conselho de Lula e, a partir de janeiro, começou a conversar com banqueiros no Planalto.

Dilma desperta mais restrição no mercado que Lula. Após anos de desconfiança mútua, o petista começou a mudar o paradigma em 2002, quando prometeu honrar os contratos por meio da Carta ao Povo Brasileiro. "Lula foi fantástico para pobres e ricos. Dilma nem para ricos nem para pobres, que estão vendo a inflação corroer salários", disse o dono de um fundo de investimento.

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A conjuntura econômica no governo Lula favoreceu a relação. Na sua gestão, contou com cenário externo favorável, que, aliado a uma política de aumento real do salário mínimo e de ampliação dos mecanismos de transferência de renda, permitiu crescimento econômico. Lula manteve integrantes do governo FHC na equipe, e o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, era executivo de banco.

Dilma recebeu um real valorizado de R$ 1,65 por dólar e assiste à queda no preço das commodities. Além da conjuntura, há o estilo: com ela haveria menos diálogo e mais resistência à iniciativa privada e interferência no BC. Na semana passada, a taxa de juros aumentou 0,25 ponto porcentual e foi para 7,5%, após declarações polêmicas de Dilma sobre o tema que afetaram o mercado.

"A imagem de Dilma está em processo de deterioração galopante no mercado. Ela dá sinais conflituosos, interfere na economia com mão pesada e não tem agenda de reformas", afirmou o diretor de um banco estrangeiro.

A posição de integrantes do mercado é ponderada por alguns acadêmicos. Para Francisco Lopreato, da Unicamp, a mudança no patamar de juros na gestão Dilma está por trás da insatisfação. "Você tem que tirar um pouco o doce da boca da criança e provavelmente eles vão chorar mesmo.

"A presidente fez mudanças importantes na economia, todas elas, aliás, reclamadas por amplos segmentos empresariais: redução dos juros, estabilização cambial, redução do custo da energia, desoneração da folha de pagamentos, investimento em infraestrutura em parceria com o setor privado etc. Como em qualquer mudança, há sempre interesses contrariados, mas creio que são minoritários", disse Ricardo Carneiro, diretor do Banco Interamericano de Desenvolvimento. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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