A Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) não resistiu à leva de notícias negativas dos Estados Unidos (EUA) e fechou o pregão de ontem em forte queda de 2,7%, devolvendo parte da valorização de 10,5% acumulada ao longo de sete sessões seguidas de alta. O dólar comercial, por sua vez, chegou ao fim do dia valendo pouco mais de R$ 2, com alta de 2,6%. O motivo para o nervosismo dos mercados foi o mesmo que vem pressionando as cotações desde o início do mês: a crise do setor imobiliário norte-americano.
"Tivemos sete dias consecutivos de alta. Como os rumores sobre os EUA começaram já pela manhã, muitos investidores aproveitaram o dia para vender ações e embolsar os ganhos dos últimos pregões", disse João Carlos Becher, gerente da mesa de operações da Petra Corretora em Curitiba. Segundo ele, é possível que o mercado inicie a sessão de hoje sob pressão, já que encerrou o pregão de ontem perto do menor nível do dia.
Rogério Garrido, diretor da Investir Consultores Financeiros, de Curitiba, prevê que os próximos dias terão mais turbulência, por conta da divulgação de uma série de indicadores relativos à economia dos EUA. "Há indícios de que a atividade imobiliária americana continua fraca e a economia em acomodação. Por isso, a volatilidade continuará por um bom tempo, até o mercado ter certeza de que a crise financeira não terá tanto impacto sobre a economia real", avalia Garrido. "E o mercado brasileiro tem apresentado sintomas pouco saudáveis. Ele saiu da euforia para o medo. Qualquer número bom o faz subir, qualquer número ruim o derruba."
Nesta semana, saem vários indicadores sobre emprego e índices de inflação nos EUA, que, se indicarem desaquecimento da economia, podem piorar o humor das bolsas. Enquanto o pessimismo reinar lá fora, dificilmente haverá dado positivo dentro do Brasil que anime a Bovespa.
Dados divulgados ontem renovaram a preocupação sobre o setor de construção civil dos EUA. O preço das residências caiu 3,2% no segundo trimestre, a maior queda desde 1987. Além disso, a agência de classificação de risco Merril Lynch reduziu sua recomendação para ações de bancos de investimento que tenham operações com créditos imobiliários do tipo "subprime", que têm alto risco.
Com o nível alarmante dos calotes do subprime nos EUA, bancos de todo o mundo que tinham ativos atrelados a esses créditos foram prejudicados o que vem causando fortes tremores nos mercados desde o início do mês. Para piorar, a confiança do consumidor norte-americano caiu ao menor nível desde 2005. A informação é preocupante porque o consumo responde por dois terços da atividade econômica do país.
Esses dados pressionaram as bolsas norte-americanas e a Bovespa logo no início do dia, e a divulgação da ata da última reunião do Federal Reserve (Fed), o banco central dos EUA, reforçou o pessimismo. Embora tenha reconhecido que a crise do mercado financeiro pode afetar a economia, o Fed sinalizou que dará mais ênfase ao controle da inflação ou seja, a instituição pode não cortar a taxa básica de juros na intensidade em que se esperava.
A reunião do Fed foi realizada no dia 7, antes de a crise piorar, mas mesmo assim os investidores receberam mal o recado da ata. No entanto, persiste a expectativa de que, em sua próxima reunião, em 18 de setembro, o Fed reduza os juros hoje em 5,25% ao ano para impedir uma recessão.