Após as turbulências enfrentadas na maior parte do ano passado, a indústria de Curitiba e região metropolitana abriu uma grande temporada de contratações. A expectativa é de que 4 mil vagas fechadas durante o período crítico da crise sejam reabertas no setor metal-mecânico que concentrou boa parte das demissões em 2009 até o fim do primeiro semestre. Só a Bosch, que tem unidade na Cidade Industrial de Curitiba, inicia na próxima segunda-feira um processo seletivo para contratar 400 pessoas. Uma pesquisa do Sindimetal-PR, sindicato que representa o segmento no estado, indica que 35 empresas têm planos de aumentar suas equipes de produção. Estimativas iniciais indicam que cerca de 70% das 6 mil vagas eliminadas durante a crise financeira internacional sejam reativadas.O movimento da indústria curitibana está ligado à conjuntura atual do setor: ontem a Fundação Getulio Vargas (FGV) divulgou que as previsões de emprego industrial em todo o país estão no nível mais alto desde julho de 1986. As contratações, voltadas para operação de produção, têm o objetivo de atender a um aumento de demanda percebido desde o começo do ano, tanto de clientes nacionais quanto no mercado internacional.Este aquecimento sinaliza a primeira retomada do mercado de trabalho na indústria desde a onda de demissões causada pela crise. Entre as empresas da base do Sindimetal, foram cerca de 6 mil dispensas em 2009. Apenas a Bosch, demitiu cerca de 900 funcionários em junho do ano passado, diminuindo sua capacidade produtiva em 25% para lidar com a baixa dos pedidos internacionais. "O mercado lá fora ficou muito tempo reprimido, as vendas pararam. Mas, durante estes meses, os estoques disponíveis nos países consumidores foi sendo queimado. A demanda agora é justamente de recomposição desses estoques, há demanda de reposição de peças", diz o presidente do Sindimetal, Roberto Karam. Essa recuperação foi confirmada pelo gerente de recursos humanos da Bosch em Curitiba, Duilo Damaso, mas ele diz que a empresa também percebe aquecimento no mercado interno. "No mercado nacional, vimos crescimento acima das expectativas. Algumas montadoras já realizaram ampliação de turno de trabalho", afirma.Contratos temporários
Por enquanto, a tendência é admitir empregados por tempo determinado, de acordo com uma demanda de curto prazo. "A palavra de ordem ainda é cautela. Estamos hoje com aumento da demanda, e é claro que torcemos para que esse movimento tenha continuidade, mas ainda não temos como saber se isso é sustentável", diz Karam, do Sindimetal. "Por outro lado, é fato que nossas empresas foram pegas até de surpresa com este ritmo forte na demanda, especialmente no segmento internacional. Foi uma boa surpresa", avalia.
Damaso, da Bosch, também é cuidadoso ao pintar o quadro positivo. "Falar em aumento da confiança da indústria ainda é um pouco de exagero. Continuamos tratando o mercado com bastante cautela. O momento é de reaquecimento", diz.
A pesquisa do Sindimetal contemplou 35 empresas, sem incluir a Bosch. Entre as firmas do levantamento, houve demissão de cerca de 1,4 mil trabalhadores no ano passado, mas em janeiro deste ano elas já haviam recontratado 369 pessoas. "Nossa estimativa é repor no primeiro semestre deste ano até 70% da mão de obra que foi dispensada no ano passado", diz Karam.
Confiança
O aumento do otimismo da criação de empregos foi apurado pelo Índice de Confiança da Indústria (ICI), da FGV, que subiu 1,9% em fevereiro em relação a janeiro taxa bem mais intensa do que a apurada no mês passado, quando o ICI subiu 0,2% ante dezembro de 2008. O destaque do nível das expectativas do empresariado ficou por conta das previsões de emprego: das 1.056 empresas consultadas em fevereiro, 31,3% pretendem aumentar o total de pessoal ocupado na empresa no trimestre fevereiro-abril; e apenas 3% preveem demissões. O Nível de Utilização de Capacidade Instalada (Nuci) da indústria com ajuste sazonal alcançou 84% em fevereiro, o maior desde outubro de 2008 (que alcançou 85,1%).