A blogueira Juliana Regina Pereira diz que não sabe ao certo o que aconteceu quando, há alguns meses, teve todas as suas senhas de e-mails e redes sociais roubadas. Foram necessárias semanas para descobrir que elas haviam sido substituídas pelas palavras "Halls verde" e, assim, recuperá-las uma a uma usando os sistemas de redefinição de cada um dos sites. "Acho que foi alguém querendo me prejudicar. Mas, não sei por que. E, felizmente, não tive outros problemas além da perda de tempo de refazer tudo."
A blogueira teve mais sorte do que a maioria dos usuários que tem suas senhas roubadas. Em geral, a situação pode trazer prejuízos bem maiores, uma vez que o acesso a e-mails ou perfis em redes sociais é um caminho para golpes e crimes virtuais. "O objetivo final dos hackers é sempre um ganho financeiro. A partir do e-mail de qualquer pessoa ele pode encontrar dados mais importantes do que a gente imagina em um primeiro momento", alerta o gerente de relações públicas da Symantec para a América Latina, Bruno Rossini. "Você não deixa a porta de casa aberta para o ladrão. Da mesma forma, não facilite a vida para o criminoso virtual."
O primeiro problema, sem dúvida, é a questão da privacidade. Mas Rossini lembra que nas caixas de correio eletrônico existem informações como números de documentos, endereço e telefone, dados bancários e de cartão de crédito. "Para alguém com algum conhecimento técnico é muito fácil localizar esses dados. As pessoas normalmente guardam e-mails de bancos ou sites de compras, por exemplo, que têm essas informações."
Com esses dados, os hackers podem se passar pelo proprietário original do e-mail tanto em sites de bancos ou de compras virtuais, ou mesmo usar da credibilidade desses usuários junto a outras pessoas para espalhar vírus e programas que capturam dados. "Você recebe um e-mail de alguém conhecido, não desconfia e acaba instalando programas em seu computador. Assim, os criminosos ampliam o golpe."
Um levantamento feito pela McAfee, multinacional especializada em softwares de segurança para a internet, dá uma dimensão do tamanho do risco: seis mil novas ameaças são criadas por dia, em média. Entre elas estão desde vírus simples até programas mais elaborados de captura de dados.
Isso significa, segundo o gerente de suporte técnico da companhia, José Matias Neto, que ter um programa de antivírus instalado na máquina não é sinônimo de segurança total. "Você pode estar no primeiro grupo de pessoas impactadas por essas ameaças, antes mesmo que os antivírus tenham o antídoto", explica. A maioria das tecnologias de segurança disponíveis hoje, como softwares de antivírus, firewalls e dispositivos de detecção de intrusos, é reativa ou seja, normalmente só são eficientes depois de um tempo, quando as ameaças já foram identificadas e classificadas pelos desenvolvedores desses produtos.
Isso significa dizer que a segurança na rede mundial de computadores é resultado de uma combinação desses softwares com um comportamento adequado dos usuários. "As transações na internet são seguras. Os bancos brasileiros são os que mais investem em ferramentas de segurança no mundo. Mas não tem como o banco proteger alguém que não tenha uma conduta segura", orienta Matias Neto.
Varie!
Neste sentido, uma das primeiras e mais básicas orientações dos especialistas é não cometer o mesmo erro da blogueira Juliana e da atriz Michele Sztoltz: usar a mesma senha para várias contas. "Certa vez, roubaram minha senha do Hotmail e do Orkut, que era a mesma. Na época fiquei arrasada por causa do e-mail, mais do que pelo Orkut. Perdi o contato de muitas pessoas das quais eu só tinha o endereço de e-mail", lembra.
Se o e-mail era mais importante, Michele precisava ter uma senha mais elaborada para ele, explica o gerente da McAfee. "Em geral, os códigos de acesso para bancos devem ser mais elaborados, porque envolvem dinheiro. Mas, cada um precisa ter em mente a importância do acesso e o nível de segurança dos sites", orienta.
Michele diz que a senha não era fácil, mas reconhece que usava a mesma há muito tempo e não se preocupava em mudá-la: outro erro grave, segundo Matias Neto. O ideal é que as senhas sejam trocadas com frequência a cada mês ou bimestre, sugere o especialista.
O especialista da McAfee sugere senhas longas, nas quais letras sejam trocadas por números ou até mesmo símbolos e sinais de pontuação. "Fazendo essas trocas você deixa a senha mais forte", diz. "Você pode, por exemplo, usar as primeiras letras de um refrão da sua música preferida."
Depois do problema que teve, a blogueira Juliana adotou todas as recomendações dos especialistas. Diz que trocou a combinação de números da sua data de nascimento por senhas "mega complexas": uma frase que combina letras maiúsculas e minúsculas e até símbolos. "Agora tenho um cuidado bem maior."
Fuja da lan house
Os dois especialistas são categóricos no que diz respeito ao uso de computadores públicos: fuja deles! "Se não tiver outro jeito, só rezando", brinca Rossini, da Symantec. "Você nunca sabe quem usou aquela máquina antes. Então, o ideial é não colocar suas senhas nela, nem usar conexões públicas de wi-fi que você não tenha certeza que são seguras."