A queda nas vendas de automóveis, que fez com que os estoques da indústria atingissem em abril o maior nível desde novembro de 2008, ameaça o emprego de 30 mil trabalhadores das empresas de autopeças, o que representa 10,7% dos postos do setor no país. A avaliação é do presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo e Mogi das Cruzes e presidente interino da Força Sindical, Miguel Torres.
"A indústria de autopeças passa por uma situação gravíssima porque já tem empresário querendo demitir", afirmou. De acordo com Torres, se considerados também os empregos indiretos da cadeia automotiva, o número de postos em perigo chegaria a 90 mil. "O empresário quando chega ao ponto de demitir é porque está sofrendo há algum tempo", disse. "Estamos tentando esgotar as ferramentas existentes para evitar demissões", afirmou, referindo-se à concessão de férias coletivas ou redução da jornada de trabalho em troca da manutenção de empregos.
O presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, Sérgio Nobre, compartilha a preocupação. "Se em junho o cenário continuar ruim a onda de demissões já deve começar", prevê.
Dados divulgados nesta semana pela Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea) mostram que a produção de veículos caiu 15,5% em abril em relação a março e 7,5% ante o mesmo mês de 2011. As vendas no mercado interno recuaram 14,2% em abril ante março e 10,8% em relação a abril de 2011, o que elevou os estoques para 43 dias de vendas.
Para Nobre, os mecanismos utilizados para evitar demissões nas montadoras, como férias coletivas, redução de jornada e utilização de banco de horas, são mais limitados nas empresas de autopeças, por serem de menor porte. "Grandes empresas têm fôlego para dar férias coletivas e interromper a produção, o que não acontece com as pequenas companhias", disse o sindicalista.
O Conselho de Competitividade do Setor Automotivo, que faz parte do programa Brasil Maior do governo federal, deve se reunir daqui a 15 dias para discutir a crise do setor, segundo o presidente da Confederação Nacional dos Metalúrgicos, ligada à Central Única dos Trabalhadores (CUT), Paulo Cayres.
Torres, da Força Sindical acredita que a indústria vai se recuperar a partir do mês que vem. "A ameaça causada pelos produtos importados está freando e os bancos privados vão baixar os juros", disse, ao lembrar que os sindicatos vem mantendo contato tanto com as empresas como com o governo federal em busca de soluções para a crise. Cayres acredita que o país retomará o crescimento a partir do segundo semestre. "Precisamos utilizar os mecanismos existentes para segurar os empregos até o segundo semestre, quando o país deve retomar o crescimento", afirma.
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