Para engrossar as fileiras de manifestantes em defesa da greve dos bancários, o sindicato que representa os trabalhadores da categoria em Curitiba e região metropolitana incorporou as práticas de mercado e partiu para a contratação direta de piqueteiros.
A manifestação realizada ontem na agência do Banco Real na Rua Marechal Floriano Peixoto, no centro da capital, contou com a participação de aproximadamente 120 "grevistas", que receberam R$ 40 acrescidos de dois sanduíches de queijo e presunto cada um para participar do protesto das 6 horas da manhã até o fim da tarde.
Para o Sindicato dos Bancários de Curitiba e Região, as pessoas contratadas estavam contribuindo para o movimento sindical. "Uma estrutura de greve requer pessoas para tarefas como a colocação de faixas e distribuição de panfletos", argumenta Otávio Dias, presidente da entidade. "Não considero essa uma prática condenável do ponto de vista ético. As pessoas não podem trabalhar de graça", justifica.
De acordo com o secretário de finanças do sindicato, Antônio Firmino, os trabalhadores foram pagos com recursos da própria entidade. "Até o momento não fizemos o balanço e não temos como informar o custo final da manifestação nem o número total de contratados", informou. Segundo o diretor, os manifestantes foram capacitados para informar a população sobre os motivos e justificativas da greve.
No entanto, a maioria dos manifestantes parecia alheia à luta por salário da categoria dos bancários. "Vim mesmo só por causa do dinheiro", garantiu a empregada doméstica Maria Fernanda Naiser, que participou da manifestação com mais 10 colegas da Vila Lorena. A mesma justificativa foi dada por uma manifestante desempregada, que não possui conta em banco. O servente de pedreiro Marcelo Nunes Santos conta que soube da oportunidade após ouvir uma convocação na rádio. "É mais fácil ganhar [dinheiro] para ficar parado do que empilhando tijolos", afirmou.
Negociação
Representantes nacionais dos bancários se reúnem na tarde de hoje, em São Paulo, com a Federação Nacional dos Bancos (Fenaban) para um nova rodada de negociações, que pode pôr fim à greve que já dura oito dias. Às 17h30, os trabalhadores realizam assembléias para avaliar a proposta patronal.
A reivindicação dos trabalhadores é de um reajuste salarial de 13,23% 5% de aumento real mais a reposição da inflação no período , vale-alimentação no valor de um salário mínimo (R$ 415), vale-refeição de R$ 17,50 ao dia, auxílio-creche de R$ 415, participação nos lucros e resultados (PLR) de três salários mais adicional de R$ 3,5 mil e aumento progressivo do piso até atingir o "mínimo ideal" de R$ 2.074, calculado pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese).
Em Curitiba, a partir das 10 horas, os manifestantes vão se reunir em frente à agência do banco Bradesco da rua Marechal Deodoro, no centro da cidade, para um ato "contra o interdito proibitório e pela liberdade de manifestação". O interdito proibitório é um instrumento legal obtido pelos bancos Bradesco e Itaú, que garante o funcionamento normal de suas agências durante a greve.
Já o HSBC recorreu a outra tática para contornar a greve. Segundo um funcionário da sede administrativa da empresa, os trabalhadores foram "convidados" a iniciar a jornada de trabalho diária após as 17 horas, quando encerram-se os piquetes em frente ao local. "A greve é um direito dos trabalhadores, sou totalmente favorável. Mas, em uma empresa privada, temos metas a cumprir. E, de uma forma ou de outra, quem fica a favor [da greve] sempre acaba pagando a conta", diz.
Transtornos
A Federação Brasileira dos Bancos (Febraban) informa, por meio de assessoria de imprensa, que não está contabilizando os efeitos da greve no sistema bancário de todo o país. Segundo a entidade, os clientes que foram prejudicados deverão negociar caso a caso com os gerentes dos bancos.
Alguns clientes têm relatado transtornos na utilização dos sistemas de auto-atendimento. Para evitar o acúmulo de envelopes em dinheiro nos caixas eletrônicos, alguns gerentes estão desabilitando esta função das máquinas.
Segundo o superintendente adjunto do Banco do Brasil no Paraná, José Antônio Kaspreski, a tendência dos bancos é a de minimizar ao máximo os prejuízos sofridos pelos clientes em decorrência da greve. "Vamos avaliar caso a caso, na maior boa vontade", garante.
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