Além das eleições, a Copa do Mundo deve criar o cenário necessário para que movimentos sindicais busquem visibilidade em 2014. A Força Sindical anunciou para 6 de junho uma série de manifestações e greves pelo país que, no Paraná, deve ter cronograma definido ao longo da próxima semana, segundo a diretoria regional. No atual discurso da central, que representa 1,7 mil sindicatos, a ideia não é fazer oposição à Copa, mas aproveitar que o evento está no centro das atenções para pressionar governo e empresários.
INFOGRÁFICO: Veja o percentual de reajustes salariais
O fator que levou a Força Sindical a explorar a Copa é a inflação ainda alta, que está sendo o grande empecilho de pedidos de ganho salarial neste ano. Segundo o Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), 86,9% das classes tiveram reajuste acima do índice de preços em 2013, percentual que mostra recuo em relação a 2012 (95,1%) e representa o patamar mais baixo desde 2009. O departamento avalia que o resultado ainda é bom, mas o desempenho só se repetirá em 2014 se a inflação for controlada e o desemprego permanecer baixo.
Na semana passada, economistas consultados pelo Banco Central previram, pela primeira vez, que a inflação deve fechar acima da meta de 6,5% neste ano. "Com a inflação, vislumbramos certa dificuldade nas negociações coletivas", explica João Carlos Gonçalves, secretário-geral da Força. Ele reconhece que o evento traz pressão, mas pondera que a "central não está nessa de anti-Copa porque ela traz investimentos e valorizou emprego e salário".
Ao mesmo tempo, outro estudo do Dieese mostra que paralisações de setores ligados a Copa impactam nas negociações coletivas. De 2011 a 2013, greves nas obras de estádios garantiram aumentos reais bem acima da média das outras classes. Construção civil, obras de infraestrutura e mobiliário também obtiveram desempenhos superiores.
Segundo o Dieese, anos de eleição presidencial e nos estados favorecem mobilização de trabalhadores, em especial de servidores públicos. A soma de pré-eleições e greves tem se refletido nos salários. Em 2010, 88,8% dos sindicatos conseguiram aumento real. Em 4% dos casos, a média de reajuste foi de mais de 5% em relação ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) porcentual superior aos registrados em 2009 (1,3%) e em 2011 (1,5%).
Divisão
O embate político também é responsável por dividir as centrais. Aliada do governo petista, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) não comenta e nem deve apoiar a manifestação agendada para junho pela Força Sindical, assim como a Nova Central Sindical de Trabalhadores (NCST) e a Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB). Por sua vez, a Força nega motivação política, apesar dos rumores de aproximação com o PSDB. "Ao contrário das outras centrais, não temos candidato à presidência", defende Nelson Silva, presidente da regional paranaense.