Alta do combustível vai empurrar inflação
João Pedro Schonarth
A alta repentina de cerca de 15% registrada nos últimos dias no preço dos combustíveis pode gerar um impacto de até 0,75% na inflação geral de Curitiba é como se apenas um item impactasse em aproximadamente três vezes o registrado pela IPCA em setembro, quando a inflação da capital ficou em 0,29%. Como o IPCA é formado por mais de 400 itens, é provável que o impacto diminua ao longo do mês. De qualquer forma, esse é um demonstrativo de como uma modificação conjunta de preços gera uma onda inflacionária que atinge o bolso do consumidor, principalmente em um cenário em que os combustíveis impactam a formação de outros preços.
Até então, eram os combustíveis que puxavam para baixo a inflação de Curitiba. Com peso de 5,48% na formação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) da capital paranaense, o item acumula queda, nos últimos 12 meses, de 5,3% (contra 4,6% positivos do IPCA) e de -4,9% apenas neste ano Curitiba tem uma inflação no ano de 3,31%.
A alta de 15% verificada nos postos de Curitiba vai refletir em um aumento de 0,75% na inflação geral, pelas contas de Daniel Mojima, diretor do Centro Estadual de Estatísticas do Ipardes. Isso não significa, segundo ele, que a inflação geral vai subir nesta proporção, mas mostra que o impacto de altas nos combustíveis são bastante consideráveis. "Esse índice pode ser diluído, conforme o comportamento de outros indicadores. Até o fim do mês é provável que haja uma queda no valor dos combustíveis, porque os postos devem começar a concorrer. Com isso, o impacto deve ser menor que 0,75% no índice geral".
O item que já apresenta tendência de baixa em outubro e que deve influenciar a inflação de Curitiba são os alimentos, segundo Cid Cordeiro, coordenador do Dieese-PR. Ele calcula que, apesar do peso dos combustíveis ser de cerca de 5% em Curitiba, motoristas que utilizam seus veículos com bastante frequência podem gastar até 8% do orçamento só para abastecer o carro. "Os alimentos em baixa podem compensar o aumento dos combustíveis, que deve aparecer em novembro", ressalta.
Punição
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Em uma ação inédita, o Procon-PR e o Ministério Público do Paraná (MP-PR) aplicaram, em um trabalho conjunto, uma multa de R$ 1.177.200 ao Sindicato do Comércio Varejista de Combustíveis (Sindicombustíveis-PR) devido ao aumento repentino no preço dos combustíveis às vésperas do feriado de Finados. É a primeira vez que o sindicato dos postos é multado em uma ação dos dois órgãos e neste valor.
Na última quarta-feira, motoristas de Curitiba foram surpreendidos com o aumento do preço dos combustíveis, que chegou a subir, entre um dia e outro, quase R$ 0,50 no caso da gasolina e R$ 0,20 no do etanol. De acordo com dados da Agência Nacional do Petróleo (ANP), o valor médio da gasolina na capital, na semana passada, era de R$ 2,46 e do etanol, R$ 1,82. Três dias depois, vários estabelecimentos cobravam R$ 2,89 pela gasolina e R$ 1,99 pelo etanol.
A multa é cautelar, o que significa que o Sindicombustíveis-PR tem um prazo de dez dias após ser notificado para apresentar sua defesa. Após protocolar a impugnação da multa, o Procon-PR vai avaliar se a multa deve continuar a ser aplicada.
Claudia Silvano, coordenadora estadual do órgão, ressalta que a maneira como se deu o reajuste, aplicado por todos os postos em cadeia, pode ser caracterizada como oportunismo e prática abusiva. "Os postos resolveram aumentar todos ao mesmo tempo, em véspera de feriado nacional. Verificamos que havia indícios de prática abusiva e por isso aplicamos a multa", explica Claudia.
Ainda ontem, em entrevista à Radio Bandnews FM Curitiba, uma dona de postos da capital, denunciou que o preço dos combustíveis é combinado em uma espécie de associação clandestina. A mulher, que não quis ser identificada, relatou que há uma determinação para que o preço suba e os empresários que não obedecem sofrem pressão, como aumento da fiscalização por órgãos ambientais.
O Sindicombustíveis-PR, em nota, informou que não recebeu qualquer notificação sobre a multa ainda. O sindicato disse também que "não compra ou vende combustíveis e que não tem nenhuma responsabilidade por aumento ou redução de preço, sendo que tal política de preços cabe individualmente a cada posto revendedor". Claudia, do Procon-PR, ressalta, no entanto, que "não é justo que o sindicato seja o representante das entidades apenas quando o que está envolvido é em benefício dos empresários".
O presidente do Sindicombustíveis-PR, Roberto Fregonese, avalia que a subida de preços se deu porque os valores anteriores estavam muito baixos. "O mercado de Curitiba tem uma concorrência muito grande e havia postos vendendo combustível abaixo do preço de custo. Não há milagre, se o valor estava muito baixo é porque havia fraude", explica Fregonese.
Mobilização
Ontem, um dia após o aumento da gasolina e do etanol em Curitiba, consumidores criaram um grupo no Facebook para trocar informações sobre os preços dos combustíveis. Os internautas compartilham os endereços dos postos que praticam os preços mais baixos. Há ainda o pedido para que os consumidores "boicotem" os estabelecimentos com os preços mais altos. Outro grupo, também no Face, sugere que os consumidores abasteçam o carro com R$ 1 e peçam nota fiscal como forma de protesto até as 20 horas de ontem, a ação tinha mais de 4,7 mil compartilhamentos.
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