Na medida em que a gente se perde cada vez mais no meio de posts e tweets, a habilidade de enxergar modelos em meio a milhões de dados e tirar daí uma conclusão sobre as pessoas que produzem esses bits. Quem são esses internautas? O que fazem, como se sentem? Os americanos Sep Kamvar e Jonathan Harris sabem do enorme potencial monetário de um mecanismo que possa medir esses detalhes. Mas foi sem essa intenção que projetaram o "We Feel Fine", um grande banco de dados que mostra como a rede se sente a cada dia, a cada hora. De acordo com Sep, o "We Feel Fine" funciona muito bem para entender o comportamento do público também como consumidor ou eleitor, e "é muito mais barato do que fazer pesquisas na rua".O sistema varre a web blogs e Flickrs em busca de frases que comecem por "I feel"("eu me sinto" em inglês). Cada sentimento vem associado ao sexo de quem o reportou, ao lugar de onde o post foi escrito, à previsão do tempo naquele lugar, à idade do autor e à data do post. Coletando variáveis tão específicas, o "We Feel Fine" se torna um termômetro de como a internet (ou a internet anglófona, pelo menos) se sente. E o sentimento da internet pode não ser o sentimento do mundo, mas é o mais próximo que já chegamos de medir algo assim.
"Observamos que as pessoas são mais parecidas do que diferentes, emocionalmente. Mas também observamos que as pessoas tendem a serem mais felizes quando ficam mais velhas, que as mulheres expressam tristeza mais frequentemente que os homens, e que o Natal desperta amor e solidão. Há muita observações nessa linha", relatou Sep sobre algumas das conclusões a que ele e Jonathan chegaram com o projeto.
É possível, por exemplo, sondar como se sentem as afegãs de 20 anos quando chove. Ou então, filtre direto pelo sentimento: quantas pessoas se sentem, começando pela letras A, abstratas, anormais, absurdas?
A interface visual do site oferece uma navegação que aproxima o visitante de um mundo pulsante, cheio de gente dizendo, pensando e sentindo coisas. Cada sentimento é representado por uma bolinha, que varia de cor e tamanho de acordo com as características do sentimento que ela representa cores mais escuras para sentimentos sombrios, cores mais claras para sentimentos alegres. Como o "We Feel Fine" coleta cerca de 15 mil novos sentimentos por dia, dá para dizer que o resultado uma tela multicolorida em fundo preto, as bolinhas dançando caoticamente é de fato uma representação artística do humor do mundo em determinado momento.
Os resultados deste estudo se tornaram livro. We Feel Fine: An Almanac of Human Emotions foi lançado em novembro de 2009 e reúne em infográficos e textos tudo o que Sep e Jonathan descobriram sobre os padrões do temperamento humano apenas catalogando posts de blogs. Foram mais de 12 milhões de sentimentos pinçados durante mais de três anos de blogs na internet.
O livro começa com uma citação de uma blogueira norte-americana: "Eu tenho um problema que tenho certeza que muitos outros blogueiros enfrentam: me sinto à vontade para compartilhar detalhes íntimos sobre minhas emoções com os estranhos que conheço online, mas tímida para expressar meus verdadeiros sentimentos para qualquer um que eu conheça na vida real". E é do conforto proporcionado pela tela que o "We Feel Fine" se alimenta. Nunca a humanidade esteve tão confortável para dizer o que sente, mas mais do que isso, nunca antes nós registramos tudo o que sentíamos da maneira como fazemos hoje.