Apenas em 2011 o rendimento do trabalho deve voltar a ter a mesma participação na renda nacional que tinha em 1990, de 45,4% A perspectiva consta do estudo Distribuição Funcional de Renda no Brasil: Situação Recente, que o Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) publica nesta quarta-feira (12), com base na análise dos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios e do Sistema Nacional de Contas, ambos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Segundo o estudo, de 1990 a 1996, o rendimento do trabalho perdeu participação relativa no total da renda do país (-15,2%). Depois, de 1996 a 2001, registrou-se crescimento de 5,4% da parcela do rendimento do trabalho na renda nacional. De 2001 a 2004, houve nova queda, de -3,1%. Numa quarta fase, a partir de 2005, houve uma expansão de 4% da parcela do rendimento do trabalho na renda do país.
O estudo do Ipea traça um paralelo entre a variação da distribuição pessoal de renda e a distribuição funcional de renda, que engloba rendimentos de proprietários de terra, donos de capital, lucros, juros e aluguéis, por exemplo.
Segundo o instituto, só houve convergência na queda das desigualdades da distribuição de renda pessoal e funcional nos períodos de 1996-2001 e depois de 2004. A desigualdade pessoal da renda caiu 2,4% e a parcela relativa do trabalho na renda nacional cresceu 5,4%, de 1996 a 2001. Depois de 2004, a desigualdade na distribuição da renda pessoal diminuiu 1,1%, enquanto a participação do trabalho na renda nacional aumentou 6%.
O período em que a renda nacional mais evoluiu foi de 2005 a 2007, de acordo com o estudo, devido ao crescimento do mercado interno e das exportações. A média anual de crescimento foi de 4,2% no período, enquanto nos períodos de 1990-1996, 1996-2001, 2001-2004 a renda nacional cresceu em média, 3,2%, 1,9% e 3,2%, respectivamente.
De 2000 a 2006, o segmento que mais acumulou perdas foram os detentores de renda mista, aqueles que têm meios próprios de geração de rendimentos como aluguéis e trabalho autônomo. As perdas foram de 21,1%, enquanto houve expansão no desempenho das contas do governo (7,7%) - medido pelos rendimentos com imposto líquido sobre produção e importação da renda dos proprietários (2,4%) e do trabalho (1%).
A respeito do desempenho da conta do governo em termos de apropriação da renda nacional, o estudo do Ipea destaca que, se considerada a despesa acumulada pela União de 2000 a 2007, constata-se que o pagamento de juros da dívida pública foi equivalente a 7% ao ano da média total da renda nacional. O governo gastou com juros, no período, R$ 1,267 trilhões. Já os gastos com saúde foram de R$ 310,9 bilhões, com educação foram de R$ 149,9 bilhões e com investimentos, R$ 93,8 bilhões.
Os gastos da União com saúde, educação e investimento corresponderam a 43,8% das despesas com juros no período. No entendimento do Ipea, o gasto com juros é considerado improdutivo, pois não gera emprego e tampouco contribui para ampliar o rendimento dos trabalhadores, termina fundamentalmente favorecendo a maior apropriação da renda nacional pelos detentores de renda da propriedade.