Rio (AG) —No início do mês, diz a ONG americana Human Rights in China, Ren Ziyuan, um professor chinês de 37 anos, foi sentenciado a dez anos de cadeia por "subversão contra o poder do Estado". O crime de Ren foi publicar num blog na internet o ensaio "O caminho para a democracia", em que expõe (ironicamente) seus pontos de vista sobre liberdade de expressão e eleições na China.Todos os dias, jornalistas estrangeiros baseados na China recebem alguma informação sobre a máquina de 30 mil censores da rede chinesa e como o governo tenta enlouquecidamente controlar o conteúdo da internet. O mais corriqueiro é o uso de programas de palavra-chave, que bloqueiam tudo o que se refira a "direitos humanos", "Dalai Lama" e "independência de Taiwan", entre outros conjuntos de palavras.

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Mas, se o governo da China parece obsessivo em manter os chineses ignorantes a respeito de opiniões que, de alguma maneira, afetem o poder do Estado, por outro lado é com impressionante facilidade que passam ao largo da censura chinesa atividades consideradas no mínimo problemáticas em países ocidentais —como a venda de substâncias ilícitas e de órgãos para transplantes ou a exploração comercial de peles de animais em extinção.

Há duas semanas, por exemplo, a China assistiu boquiaberta ao fenômeno de downloads de um vídeo em que uma chinesa em roupas sensuais se dedica a... esmagar com o salto de seu sapato a cabeça de um gatinho. Isso mesmo. O vídeo era oferecido de graça num site dedicado a vender outros vídeos com mulheres maltratando e matando todo tipo de animal, de hamsters a coelhos, por exemplo.

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Na China, não há qualquer lei que ponha na cadeia pessoas que maltratam animais, mas os internautas chineses reagiram indignados e o governo, que se fazia de morto, acabou tendo que reagir. Depois de uma imensa caçada com a ajuda de uma rede de internautas, o governo localizou a mulher, identificada como Wang Jue, uma enfermeira do condado de Luobei, na província de Heilongjiang (Nordeste da China), bem como o produtor do vídeo, Li Yuejun, um câmera da TV de Luobei.

Wang disse que "estava deprimida com o fim de um casamento" e afirmou ter se deixado levar por outras pessoas a pisar em animais como uma forma de extravasar a sua raiva. Ela e o produtor postaram seus pedidos de desculpas no website oficial da província, imediatamente reproduzido por internautas em todo o país. Nos blogs chineses, comenta-se que os dois foram perseguidos por autoridades locais e ameaçados de perder seus empregos, caso não pedissem desculpas públicas pelos absurdos cometidos.

O jornal americano "New York Times" detectou o fenômeno, fez uma busca na rede chinesa e descobriu que palavras-chaves como "sexo quente", "drogas ilegais" ou "jogo", entre outras, oferecem uma série de links que permitem o download de todo o tipo de vídeo estapafúrdio ou mesmo o acesso a cassinos virtuais, o que é proibido por lei na China.

Segundo o jornal americano, a busca resultou na oferta dos seguintes domínios:

1) Um site que imita a página do Industrial and Comercial Bank of China (ICBC), o segundo maior do país, pedindo aos internautas inclusive senhas de acesso.

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2) Um site pornográfico que vende vídeos de sexo explícito a US$2 por mês e oferece conversas online com os participantes pelados, o que é proibido por lei na China.

3) Um site que oferece máquinas que permitem clonar cartões de crédito.

4) Um site que vende drogas capazes de dopar as vítimas sem apagá-las completamente, do tipo usado nos golpes "Boa Noite Cinderela", muito comuns no Brasil.

Xiao Qiang, diretor do China Internet Project da Universidade da Califórnia, ouvido pelo jornal americano, resume bem o estado da internet chinesa hoje: "É um lugar selvagem. Tirando política, a internet chinesa é tão livre quanto qualquer outra e é possível achar pornografia aqui como em qualquer outro lugar".