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Crise

Sob pânico e especulação, petróleo bate novo recorde

São Paulo – O petróleo voltou a bater recordes de alta nos mercados mundiais ontem. Nos Estados Unidos, o tipo leve chegou a ser vendido por US$ 78,40 o barril nos contratos para agosto, mas cedeu e fechou em US$ 77,03. Em Londres, subiu até US$ 78,03, mas baixou para US$ 77,27, uma alta de US$ 0,58 ante o preço de quinta-feira. Foi o segundo dia de altas recordes do petróleo em razão do temor de que se alastre o conflito no Oriente Médio, iniciado após os bombardeios do grupo extremistas libanês Hezbollah contra Israel e a resposta israelense no sul do Líbano. "Os especuladores estão criando pânico porque acreditam que o conflito vai se espalhar", disse Mike Barry, diretor da consultoria Energy Market em Londres.

Segundo Mohammed Ali Zeimi, analista do Centro de Estudos de Energia Global londrino, o maior temor é que os ataques israelenses provoquem a reação de outros países muçulmanos, como o Irã, o quarto maior produtor mundial de petróleo. Esse temor cresceu hoje, depois que o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, advertiu que qualquer ataque à Síria será considerado um ataque ao mundo islâmico e poderá provocar uma "resposta violenta". Tanto o Irã quanto a Síria apóiam o Hezbollah.

A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep) tentou acalmar os mercados afirmando que o abastecimento é suficiente para atender à demanda mundial. "O mercado continua bem abastecido", disse a entidade, num comunicado. O secretario de Energia dos Estados Unidos, Sam Bodman, discorda. "Os fornecedores mundiais de petróleo perderam o controle dos mercados, são incapazes de elevar as provisões", disse. "Cederam o controle aos operadores e os preços estão sendo fixados em Nova Iorque, Londres e Tóquio", disse.

O presidente do Centro Brasileiro de Infra-Estrutura (CBIE), Adriano Pires, acha que o petróleo pode chegar a US$ 100. "Não é exagero. Pode ser US$ 80, US$ 100, US$ 110", disse. Além das questões geopolíticas, Pires observou que, desde o ano 2000, o crescimento econômico mundial fez a demanda por petróleo encostar na oferta. "O mundo cresceu muito e surgiu um grande novo consumidor, a China", explicou.

Segundo ele, a demanda hoje está em torno de 84 milhões de barris por dia e a oferta, em 85 milhões de barris. "Pode-se dizer que a oferta é igual à demanda." Além dos fatores climáticos, como os vários furacões do ano passado, que sempre pressionam os preços do petróleo, ele disse que a atuação das bolsas de petróleo também faz com que os preços subam muito.

"Há uma especulação muito grande", acrescentou. O especialista reconhece que o impacto do aumento do preço do petróleo sobre as economias hoje é mais reduzido do que foi no passado, como na crise da década de 70. "Agora, o petróleo nos US$ 70 começa a influenciar de maneira considerável as taxas de crescimento mundial, não tenho a menor dúvida", disse, ressaltando que a economia brasileira também pode ser afetada se o petróleo se mantiver nesses níveis.

No Brasil, o mercado financeiro alternou ontem momentos de ganhos e perdas, ao sabor de dados internacionais. No fechamento dos pregões, os segmentos de câmbio e juros eram os mais tranqüilos: o dólar caiu 0,32%, e as taxas futuras terminaram em queda na BM&F. A Bovespa, depois de chegar a perder 1%, recuperou-se na última hora de pregão e fechou praticamente estável (baixa de 0,01%).

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