Centrais sindicais assaram 100 quilos de sardinha na frente do Banco Central: sindicalistas gostariam de ver uma redução de um ponto porcentual na taxa Selic, o que é muito improvável| Foto: Marcelo Casal ABr

Protesto

Sindicalistas mandam sardinha aos "tubarões" do BC

Para os tubarões do Banco Central (BC), muitas sardinhas. Foi assim que a Força Sindical protestou ontem contra os juros praticados no Brasil. Com 100 quilos do peixe, os sindicalistas organizaram um churrasco em frente à sede da instituição, que decide hoje o rumo da Selic, taxa que é referência para empréstimos e financiamentos no Brasil.

"A sardinha é uma comida de pobre e também comida de tubarão. Como esses tubarões tecnocratas do Banco Central que se reúnem aqui e decidem o rumo do Brasil", protestou o deputado federal Paulo Pereira da Silva (PDT-SP), presidente da Força Sindical. "Além disso, a sardinha assada também tem um cheiro ruim que vamos tentar levar para lá", dizia Paulinho, apontando para as janelas do alto do edifício do BC. Lá, no 20º e 21º andares do prédio escuro, trabalham os diretores e o presidente da instituição, o economista gaúcho Alexandre Tombini. As janelas, porém, estavam fechadas, exatamente como manda o ar condicionado do prédio.

Com um olho na churrasqueira e outro nas câmeras, os sindicalistas defenderam que o Brasil precisa de juros mais baixos. "É um absurdo o Brasil ter os juros mais altos do mundo. Precisamos de juro mais baixo para aumentar a produção, ter mais desenvolvimento e mais emprego", disse Paulinho. O PDT do deputado paulista, vale lembrar, faz parte da base de apoio ao governo.

O sindicalista reconhece que vai ser difícil, mas diz que queria que o Banco Central surpreendesse a todos com um corte do juro de um ponto porcentual, o que levaria a taxa Selic para 11,5%. Longe da fumaça das sardinhas, porém, no mercado financeiro, prevalece a aposta de que o juro será mantido no atual patamar de 12,5%, interrompendo ciclo de aumento dos juros que teve início em janeiro para esfriar um pouco o ritmo da economia brasileira.

A temperatura, inclusive, deve ter sido um dos motivos para a baixa presença no churrasco. Debaixo de sol forte com 31 graus e 18% de umidade relativa do ar, menos de 50 pessoas protestavam contra os juros. Bom para os manifestantes que, diante dos 100 quilos de peixe, tiveram o direito a degustar pelo menos dois quilos de sardinha assada cada um. Claro, sem contar a farofa.

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Caruaru (PE) - Na segunda-feira, o discurso oficial era de que não haveria pressão sobre o Comitê de Política Mo­ne­tária (Copom), que iniciou ontem sua reunião e decide hoje a taxa Selic, que atualmente é de 12,5% ao ano. Mas, durante viagem ao Nordeste, a presidente Dilma Rousseff afirmou ontem que "começa a ver" a possibilidade de redução dos juros no Brasil. Questionada por jornalistas sobre a elevação em R$ 10 bilhões da meta de superávit fiscal – dinheiro economizado pelo governo para pagar os juros da dívida pública –, Dilma afirmou que manterá todos os investimentos, como o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o Minha Casa, Minha Vida, as obras para a Copa do Mundo e os programas sociais.

"Esses R$ 10 bilhões decorrem do esforço que nós fizemos tanto no que se refere ao gasto de custeio como ao gasto de receita", explicou Dilma. "Nós preferimos utilizá-lo para abrir um novo caminho, além do caminho de aumentar o investimento. A partir deste mo­­mento, nós começamos a ver a pos­si­­bilidade de redução dos juros no Brasil. Hoje, o Brasil pratica as mais altas taxas", acrescentou a presidente em entrevista a rádios locais ao chegar a Caruaru, no agreste pernambucano. Em seguida, ela seguiu para a cidade de Cupira, a cerca de 180 quilômetros da capital, Recife.

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Segundo Dilma, um caminho para a queda dos juros e dos impostos está se abrindo. "Já começamos o programa com o Supersimples. Com ele, nós reduzimos os impostos e aumentamos o limite das rendas. Isso vai permitir que as pessoas, em vez de declararem pelo imposto presumido, declarem pelo Supersimples, que reúne todos os impostos e os torna menores", afirmou.

Crise

A presidente também defendeu cuidados com o mercado interno e os investimentos no país como uma defesa em relação à crise econômica internacional. "A melhor defesa contra a crise é o nosso mercado interno. É ele que permite ao país manter seus empregos e sua economia crescendo. A melhor defesa contra a crise é o crescimento, mas precisamos melhorar as condições, e o Brasil quer a diminuição dos impostos", afirmou.

Dilma alertou sobre importações indesejadas. "Nosso mercado interno é um dos mais vigorosos. Torna-se importante proteger esse mercado e garantir que não usem mecanismos desleais de preços para chegar ao país e destruir toda uma linha de produção", disse a presidente, alertando sobre o problema do consumo em baixa nos países ricos.