Previsto para o primeiro trimestre e depois de três adiamentos, o novo plano de negócios da Petrobras (2011-2015) foi aprovado ontem por seu Conselho de Administração e estabelece investimentos de US$ 224,7 bilhões (cerca de R$ 348 bilhões). Trata-se de aumento de apenas 0,3% em relação ao programa atual US$ 224 bilhões de 2010 até 2014 e marca o fim de um período de aceleração de investimentos da estatal que vigorou desde a abertura do mercado de petróleo, no fim dos anos 1990.
A demora em aprovar o plano decorreu da discordância entre o governo e a direção da estatal, que pretendia ampliar investimentos e turbinar a exploração do pré-sal. Da disputa saiu vitorioso o "porta-voz" do Executivo nas negociações, o ministro da Fazenda, Guido Mantega que também é presidente do conselho da estatal.
A ordem do governo era colocar o pé no freio por três motivos: 1) não estimular muito a já aquecida economia com a enorme demanda gerada pelas encomendas da Petrobras; 2) ajudar no superavit primário (e no ajuste fiscal); e 3) a preocupação com o impacto de eventuais reajustes da gasolina e do diesel sobre a inflação.
Reajuste abortado
Usado como premissa nas primeiras versões do plano para projetar um faturamento crescente da estatal, o aumento do diesel e da gasolina representou o principal ponto de atrito e foi abortado por conta da preocupação do governo com a inflação. Os dois combustíveis respondem por 60% da receita da Petrobras.
"Para ampliar investimentos, a Petrobras precisa aumentar a receita e depende de elevar o preço dos combustíveis para isso. Como o governo não autorizou o reajuste, ela não pode apresentar um plano de negócios maior. Isso é claramente resultado da ingerência do governo", diz Rafael Schechtman, diretor da consultoria CBIE.
Nas duas versões do plano rejeitadas, havia a previsão de alta dos combustíveis. Inicialmente, a estatal queria investir cerca de US$ 250 bilhões até 2015. Mas teve de cortar projetos para atender à pressão do governo. No novo plano, a estatal ampliou o peso dos investimentos em exploração e produção de petróleo, de 53% para 57% do total, e diminuiu o ritmo de projetos de novas refinarias no Nordeste, que serão analisados "a partir de metas de redução de custos", segundo a estatal.
Também houve aumento na previsão para o pré-sal de US$ 33 bilhões no plano anterior para US$ 53 bilhões , que responderá por 40% da produção de óleo em 2020. Ela foi estimada 4,9 milhões de barris, ante 2,1 milhões de 2011.
Para Osmar Camilo, analista da corretora Socopa, a "interferência política" nas discussões sobre o plano já está no "preço das ações", que tiveram fraco desempenho nos últimos meses. Ele crê num potencial de recuperação do valor de mercado.
Nova conselheira
A ministra do Planejamento, Miriam Belchior, é a nova integrante no Conselho de Administração da Petrobras. Ela ocupará provisoriamente o lugar do ex-ministro da Casa Civil Antonio Palocci. Sua indicação foi confirmada ontem, por Guido Mantega.