Os 130 bilhões de euros do segundo pacote de socorro à Grécia e o corte de 53,5% no valor nominal da dívida grega detida pelo setor privado de aproximadamente 206 bilhões de euros vão ajudar no pagamento da próxima parcela da dívida, de 14,5 bilhões de euros, em 20 de março. Mas não põem fim à crise. Analistas dizem que, a exemplo do que ocorreu no primeiro empréstimo, de 110 bilhões de euros, feito em maio de 2010, este segundo aporte representa apenas uma trégua nas incertezas do mercado mundial sobre o futuro do país.
Dificilmente a Grécia conseguirá reduzir o seu déficit dos atuais 160% do Produto Interno Bruto (PIB) para 120,5% até 2020, conforme acordado com credores e líderes europeus. A recuperação da Grécia, que tem gastado uma média de 10% a mais do que arrecada nos últimos anos, "deve levar uma década ou duas", segundo o novo presidente do Banco Europeu de Investimento (BEI), Werner Hoyer. Isso se tudo der certo.
As medidas de austeridade adotadas até agora são extremamente impopulares e castigam a população. Quase 21% dos gregos estão desempregados, metade deles é jovem. Uma nova legislação, que contém as medidas anunciadas nesta semana, em um total de 80 itens, deve ser votada hoje pelo Parlamento grego.
É difícil saber o limite político do país para ações como o corte de 30 mil funcionários públicos, a redução de pensões e o aumento de impostos. Mas parece não haver outro caminho ao menos não para um membro da União Europeia (UE) para um início de recuperação que não o arrocho dos gastos e salários. E que arrocho: quem hoje recebe mil euros mensais na Grécia ganhará 750 euros em 2014, 25% a menos, sem contar a pressão da inflação sobre o salário.
"Em uma situação comum, de um país independente, a solução mais rápida seria a monetização da dívida, ou seja, a emissão de moeda para o pagamento dos débitos, além da desvalorização do câmbio para recuperar a competitividade do país. No caso da Grécia, esse poder está nas mãos do Banco Central Europeu (BCE), que até agora nem cogitou a possibilidade, mesmo com as condições para isso, com a Europa caminhando para uma deflação, por questões políticas", avalia Marcos Tadeu Caputi Lélis, professor da Unisinos e coordenador de Inteligência Comercial e Competitiva da Apex Brasil, órgão responsável pela promoção das exportações nacionais.
Lélis acredita que os pacotes servem apenas para "empurrar com a barriga" o problema da Grécia, e que duas soluções polêmicas a saída do país da zona do euro e da UE e o calote da dívida ganharão espaço nos próximos meses, porque a Grécia não deve conseguir pagar seus débitos apenas economizando. "O nível de atividade do país, medido pelo PIB, já caiu 13% desde 2007 e já há uma previsão de que cairá 4% neste ano. Com isso, a arrecadação também deve cair", prevê. A recessão no país, que entra no quinto ano, elevou a previsão de déficit em 2012 de 5,4% para 6,7% do PIB, segundo o esboço do projeto que será apreciado pelo Parlamento.
O economista Bruno Lavieri, da Tendências Consultoria, diz que a saída da Grécia do bloco traria efeitos mais negativos ao país que a realização de um ajuste austero, mesmo que longo e profundo como o que vem sendo proposto. "Uma saída assim nem está prevista pela UE, e geraria uma série de efeitos negativos em setores importantes para o país, como o turismo."