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Europa

Socorro traz alívio e dúvida

Grupo de cegos protesta em Atenas contra a redução de benefícios pagos pelo governo: manifestações contra medidas impopulares devem influenciar as eleições de abril | Louisa Gouliamaki/AFP
Grupo de cegos protesta em Atenas contra a redução de benefícios pagos pelo governo: manifestações contra medidas impopulares devem influenciar as eleições de abril (Foto: Louisa Gouliamaki/AFP)
Christine Lagarde e o primeiro-ministro Papademos: Grécia tem feito

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Christine Lagarde e o primeiro-ministro Papademos: Grécia tem feito

Parlamento grego |

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Parlamento grego

Antiga moeda grega, a dracma |

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Antiga moeda grega, a dracma

Um calote superior a 70% nos pagamentos a credores privados viabilizou o socorro financeiro à Grécia e, pelo menos por enquanto, garantiu a permanência do país na zona do euro. O acordo fechado entre os ministros de Finanças da região prevê um valor total de 130 bilhões de euros em empréstimos ao país. Em troca, os gregos precisarão tomar medidas de austeridade fiscal que reduzam a dívida a 120,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do país até 2020. Os ministros europeus reduziram ainda os juros de empréstimos oficiais à Grécia e aceitaram limitar rendimentos do Banco Central Europeu com os títulos gregos.

A troca de dívida com credores privados deve ser iniciada em 8 de março e concluída três dias depois. Assim, o governo grego evita ter de pagar 14,5 bilhões de euros em bônus com vencimento em 20 de março. O governo grego já havia deixado claro que não teria condições de cumprir esse compromisso, o que resultaria em uma moratória desordenada – este, o pior cenário possível para todos os envolvidos. O acordo fechado ontem, depois de 13 horas de negociações, evitou o pior.

"O envolvimento do setor privado que permitirá uma significativa redução da dívida para a Grécia e vai assegurar o futuro da Grécia na zona do euro", disse Jean-Claude Juncker, do Eurogroup (o grupo dos ministros das Finanças da zona do euro). Os rendimentos dos bônus da Itália e da Espanha caíram com o alívio de investidores, que temiam o alastramento da crise para outros países periféricos da zona do euro. "É um resultado importante que remove os riscos imediatos de contágio", disse o primeiro-ministro italiano, Mario Monti.

Incerteza

Mesmo assim, analistas alertam para a possibilidade de a Grécia se desviar dos planos da União Europeia, caso seja incapaz de implementar com rapidez todas as mudanças necessárias. Um estudo confidencial feito pelo Fundo Monetário Internacional e pela União Europeia, datado da semana passada e obtido na segunda-feira pela agência de notícias Reuters, descreve a recuperação grega como um processo que continuará incerto pelos próximos anos, e diz que Atenas precisará de ajuda internacional por um período indefinido.

Os autores manifestaram particular preocupação de que a demora na adoção de impopulares reformas estruturais e privatizações agravará a recessão, que já está em seu quinto ano. "Isso resultaria em uma trajetória muito mais elevada da dívida, levando-a a 160% do PIB em 2020", diz o texto. Esse é aproximadamente o nível atual, antes do cancelamento de 53,5% do valor de face dos títulos em poder dos investidores privados – a perda desses credores pode chegar a mais de 70%, levando-se em conta o alongamento dos prazos. Pelo acordo, entretanto, a Grécia deveria chegar a 2020 devendo, no máximo, 120,5% do PIB.

De fato, ainda que o acordo dê mais tempo para que a União Europeia prepare novas medidas para a crise, ele significa que a Grécia terá que encarar anos sem crescimento econômico. As medidas de austeridade fiscal impostas sobre Atenas são impopulares e pressionarão políticos que pretendem disputar eleições previstas para abril. Protestos nas ruas poderão ser um teste para o compromisso de políticos com os cortes de salários, aposentadorias e empregos. Os dois maiores sindicatos da Grécia convocaram para hoje manifestações em Atenas.

FMI pode entrar com 23 bilhões de euros

O Fundo Monetário Internacional poderia contribuir com 23 bilhões de euros no pacote de resgate à Grécia, afirmou o ministro das Finanças da Alemanha, Wolfgang Schaeuble. "O FMI vai participar do novo programa", afirmou Schaeuble em entrevista coletiva. "A proposta é 13 bilhões de euros mais 10 bilhões que não foram usados no primeiro programa. Mas a decisão será tomada pela diretoria do FMI em sua próxima reunião", emendou.

O foco de Schaeuble na negociação era um acordo com os credores do setor privado, que envolve o perdão de 100 bilhões de euros da dívida. O FMI acredita que só o acordo com credores privados será insuficiente para esse objetivo, e pede que o Banco Central Europeu, o maior credor da Grécia, aceite deixar de lucrar 15 bilhões de euros para que a meta seja atingida. A diretora-gerente do Fundo, Christine Lagarde, acompanhou as discussões do Eurogrupo, em Bruxelas, e foi diplomática em relação à sua posição sobre a capacidade de o país se recuperar. "A Grécia tem realizado esforços muito significativos", limitou-se a dizer, em um encontro com o primeiro-ministro Lucas Papademos.

Resgate não basta para entusiasmar mercados

AFP

Os mercados reagiram com cautela ao anúncio do novo resgate grego. O euro ganhou terreno diante do dólar e ao iene, mas as bolsas europeias abriram sem maiores variações e em seguida passaram a operar em queda. O índice FTSEurofirst 300, que reúne as principais ações europeias, terminou em queda de 0,51%, após dois dias de valorização diante das expectativas com a proximidade de um acordo. Em Frankfurt, o índice DAX recuou 0,58%. Em Paris, o CAC-40 teve baixa de 0,21% e, em Milão, o índice Ftse/Mib registrou oscilação negativa de 0,08%.

Vários economistas duvidam de que o novo plano de resgate seja o último capítulo da crise grega e, portanto, da crise da dívida que há dois anos perturba a Eurozona. O temor dos analistas gira em torno do fato de que os ajustes possam comprometer a possibilidade de recuperação econômica do país. "O plano grego continua sendo frágil e vulnerável. Inclusive pelo fato de que este acordo com a Grécia possui a maior parte de seus problemas por vir e não no passado", disse Sony Kapoor, diretor do centro de estudos Re-Define.

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