Os embarques de soja voltaram a subir com força e ajudaram o Paraná a renovar seus recordes de exportação, mas não evitaram que o estado completasse oito meses seguidos de déficit em sua balança comercial algo que não ocorria há mais de uma década.
No mês passado, as exportações de produtos paranaenses somaram cerca de US$ 1,45 bilhão, valor 9% maior que o de igual período de 2011 e o mais alto já registrado em meses de março. Também recordes, as compras de importados aumentaram 19%, para US$ 1,61 bilhão.
O resultado foi um déficit comercial de pouco mais de US$ 150 milhões em março, o oitavo seguido. A última vez em que o estado ficou tanto tempo "no vermelho" em suas operações de comércio exterior foi entre agosto de 2000 e abril de 2001, quando houve nove déficits seguidos, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento (MDIC).
Se não fosse pelo bom desempenho das exportações de soja, o "buraco" nas contas seria ainda mais fundo. Aproveitando os bons preços do mercado internacional, os produtores paranaenses estão escoando a safra mais cedo neste ano, o que inflou os números dos embarques do Paraná primeiros meses de 2012. Exemplo disso é que as vendas de soja em março, que geraram receitas de US$ 301 milhões para o estado, foram 51% superiores à do mesmo mês do ano passado. No trimestre, os embarques do grão somaram US$ 635 milhões, quase o triplo do faturamento dos três primeiros meses de 2011.
Sem a soja, o avanço das exportações totais do estado teria sido bem mais modesto, de 2% em março e de 7% no acumulado do primeiro trimestre. O problema é que, assim como deu um gás extra para os embarques do estado no início do ano, a antecipação das vendas de soja deve cobrar seu preço nos próximos meses: a tendência é que a comercialização do grão perca força, até porque a safra deste ano, prejudicada pela falta de chuvas, foi menor que a anterior.
Destaques
O complexo carnes foi o segundo grupo mais exportado pelo Paraná entre janeiro e março. Suas vendas somaram US$ 191 milhões no mês passado e US$ 515 milhões no primeiro trimestre, em ambos os casos com expansão de 7% sobre iguais períodos de 2011. As exportações da indústria automobilística, por sua vez, ficaram estáveis no mês passado US$ 143 milhões, apenas 1% acima do resultado de um ano antes , mas no trimestre deram um salto de 31%, para US$ 449 milhões.
Pelo lado das importações, destacaram-se as compras de veículos e peças, que cresceram 34% no mês e 41% no trimestre; petróleo e derivados (45% e 32%, respectivamente); e fertilizantes (77% 61%). No entanto, o grupo de máquinas e equipamentos mecânicos, um dos mais relevantes na pauta de importações do estado, registrou recuos de 6% no mês e 3% no trimestre, movimento muito influenciado pela queda nas compras de motores diesel provável consequência do desaquecimento esperado para o mercado de caminhões neste ano.
Câmbio e "custo Brasil" fazem indústria perder espaço
De janeiro a março, o Paraná exportou pouco mais de US$ 1,62 bilhão em manufaturados (produtos industrializados de valor agregado mais alto), valor correspondente a 42,3% de todas as vendas ao exterior. Essa fatia é a mais baixa para um primeiro trimestre desde 1999, quando teve início a série histórica do MDIC.
Há seis anos, os manufaturados dominavam quase 60% das exportações do estado, mas desde então cedem espaço a produtos básicos (como a soja) e semimanufaturados (como a carne de frango). "Quando mais sofisticada a indústria, mais sensível ela é ao movimento do câmbio", diz Julio Suzuki, diretor de pesquisas do Ipardes.
Para Rommel Barion, vice-presidente da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), esse "encolhimento" dos manufaturados, notado em todo o Brasil, é consequência dos altos custos de produção no país. Ele cita uma série de deficiências que eram menos evidentes nos tempos de dólar valorizado: "Temos problemas de carga tributária, uma legislação trabalhista anacrônica, encargos trabalhistas muito altos, deficiências de infraestrutura que encarecem o transporte", diz. "As medidas do governo foram um primeiro passo, mas são insuficientes. Precisamos de reformas estruturais."