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Comércio exterior

Soja infla exportações, mas não evita o 8.º déficit seguido da balança do PR

Terminal de soja no Porto de Paranaguá: embarques do grão somaram US$ 635 milhões no primeiro trimestre, quase o triplo do registrado entre janeiro e março de 2011 | Daniel Castellano/ Gazeta do Povo
Terminal de soja no Porto de Paranaguá: embarques do grão somaram US$ 635 milhões no primeiro trimestre, quase o triplo do registrado entre janeiro e março de 2011 (Foto: Daniel Castellano/ Gazeta do Povo)

Os embarques de soja voltaram a subir com força e ajudaram o Paraná a renovar seus recordes de exportação, mas não evitaram que o estado completasse oito meses seguidos de déficit em sua balança comercial – algo que não ocorria há mais de uma década.

No mês passado, as exportações de produtos para­naenses somaram cerca de US$ 1,45 bilhão, valor 9% maior que o de igual perío­do de 2011 e o mais alto já registrado em meses de março. Também recordes, as compras de importados aumentaram 19%, para US$ 1,61 bilhão.

O resultado foi um déficit comercial de pouco mais de US$ 150 milhões em março, o oitavo seguido. A última vez em que o estado ficou tanto tempo "no vermelho" em suas operações de comércio exterior foi entre agosto de 2000 e abril de 2001, quando houve nove déficits seguidos, segundo dados do Ministério do Desenvolvimento (MDIC).

Se não fosse pelo bom desempenho das exportações de soja, o "buraco" nas contas seria ainda mais fundo. Aproveitando os bons preços do mercado internacional, os produtores paranaenses estão escoando a safra mais cedo neste ano, o que inflou os números dos embarques do Paraná primeiros meses de 2012. Exemplo disso é que as vendas de soja em março, que geraram receitas de US$ 301 milhões para o estado, foram 51% superiores à do mesmo mês do ano passado. No trimestre, os embarques do grão somaram US$ 635 milhões, quase o triplo do faturamento dos três primeiros meses de 2011.

Sem a soja, o avanço das exportações totais do estado teria sido bem mais modesto, de 2% em março e de 7% no acumulado do primeiro trimestre. O problema é que, assim como deu um gás extra para os embarques do estado no início do ano, a antecipação das vendas de soja deve cobrar seu preço nos próximos meses: a tendência é que a comercialização do grão perca força, até porque a safra deste ano, prejudicada pela falta de chuvas, foi menor que a anterior.

Destaques

O complexo carnes foi o segundo grupo mais exportado pelo Paraná entre janeiro e março. Suas vendas somaram US$ 191 milhões no mês passado e US$ 515 milhões no primeiro trimestre, em ambos os casos com expansão de 7% sobre iguais períodos de 2011. As exportações da indústria automobilística, por sua vez, ficaram estáveis no mês passado – US$ 143 milhões, apenas 1% acima do resultado de um ano antes –, mas no trimestre deram um salto de 31%, para US$ 449 milhões.

Pelo lado das importações, destacaram-se as compras de veículos e peças, que cresceram 34% no mês e 41% no trimestre; petróleo e derivados (45% e 32%, respectivamente); e fertilizantes (77% 61%). No entanto, o grupo de máquinas e equipamentos mecânicos, um dos mais relevantes na pauta de importações do estado, registrou recuos de 6% no mês e 3% no trimestre, movimento muito influenciado pela queda nas compras de motores diesel – provável consequência do desaquecimento esperado para o mercado de caminhões neste ano.

Câmbio e "custo Brasil" fazem indústria perder espaço

De janeiro a março, o Paraná exportou pouco mais de US$ 1,62 bilhão em manufaturados (produtos industrializados de valor agregado mais alto), valor correspondente a 42,3% de todas as vendas ao exterior. Essa fatia é a mais baixa para um primeiro trimestre desde 1999, quando teve início a série histórica do MDIC.

Há seis anos, os manufaturados dominavam quase 60% das exportações do estado, mas desde então cedem espaço a produtos básicos (como a soja) e semimanufaturados (como a carne de frango). "Quando mais sofisticada a indústria, mais sensível ela é ao movimento do câmbio", diz Julio Suzuki, diretor de pesquisas do Ipardes.

Para Rommel Barion, vice-presidente da Federação das Indústrias do Paraná (Fiep), esse "encolhimento" dos manufaturados, notado em todo o Brasil, é consequência dos altos custos de produção no país. Ele cita uma série de deficiências que eram menos evidentes nos tempos de dólar valorizado: "Temos problemas de carga tributária, uma legislação trabalhista anacrônica, encargos trabalhistas muito altos, deficiências de infraestrutura que encarecem o transporte", diz. "As medidas do governo foram um primeiro passo, mas são insuficientes. Precisamos de reformas estruturais."

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