Obter uma solução para o problema do crédito rotativo do cartão vai ser difícil. “É preciso achar um equilíbrio”, disse nesta sexta-feira (11) o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, em evento da Federação das Associações Comerciais e Empresariais do Paraná (Faciap), em Curitiba.
Na véspera, em audiência no Senado, Campos Neto havia dito que BC e Fazenda estudam uma saída para o rotativo – e que ela provavelmente será a extinção da modalidade. Nesta sexta, em Curitiba, ele contou ter levado um "puxão de orelha" por causa da declaração no Senado – mas não revelou de quem.
O comércio depende muito dos cartões em suas vendas. Segundo ele, 40% das vendas no comércio são feitas nessa modalidade. Em países emergentes, esse índice fica entre 10% e 15%. E nos Estados Unidos, o percentual é de 28%.
Mas a indústria de cartões também pode enfrentar problemas se não houver uma resolução para este cenário. A inadimplência é elevadíssima. Segundo o BC, ela chegou a 53,42% da carteira em maio e caiu para 49,05% em junho. “Não conheço país no mundo com essa situação”, disse o presidente do BC.
A modalidade tem uma das taxas de juros mais elevadas: em junho, a média era de 15,04% ao mês (437,26% ao ano), e em situações extremas pode superar os 800% ao ano. “Quem cai no rotativo do cartão de crédito entra em uma situação muito complicada”, afirmou Campos Neto.
BC e Ministério da Fazenda estudam acabar com o rotativo
Uma solução está em estudo pelo Banco Central e pelo Ministério da Fazenda. Também estão envolvidas entidades empresariais e bancos. Um grupo de trabalho foi formado e tem um prazo de 90 dias para encontrar uma saída.
Na quinta (10), Campos Neto disse que a alternativa que está se encaminhando é a do fim do crédito rotativo. “Que o crédito vá direto para o parcelamento e que seja uma taxa ao redor de 9% [ao mês]. Quem não paga o cartão vai direto para o parcelamento”, afirmou o presidente do BC em audiência no Senado.
Hoje a taxa média das compras parceladas no cartão de crédito é de 9,47% ao mês, segundo o Banco Central, ante 15,04% ao mês no caso do rotativo – este cobrado de quem paga apenas parte da fatura do cartão e fica devendo o restante.
Número de transações com cartão vem crescendo com força
Segundo o presidente da autoridade monetária, a raiz do problema com o rotativo está no elevado crescimento do número de cartões registrado nos últimos anos. Há gente com cinco cartões, citou.
Dados da Associação Brasileira das Empresas de Cartão de Crédito e Serviços (Abecs) mostram que as transações com a modalidade atingiram R$ 2,1 trlhões no ano passado, um crescimento de 29,4% em comparação a 2021. Na primeira metade do ano, o ritmo de expansão perdeu força: foi de 10,1% em relação ao mesmo período de 2022. Foram 8,4 bilhões de transações, uma queda de 5,1%.
Outro problema é a assimetria na hora de dar o crédito: “quem concede não administra o risco”, destacou. Os prazos médios da modalidade parcelada se estenderam 42,5% entre junho de 2022 e de 2023. Era de 6,38 meses e passou para 9,09.
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