Curitiba O Wal-Mart, maior rede de varejo do mundo, está muito próximo de fechar um acordo para comprar a operação na área de supermercados do grupo português Sonae no Brasil. Segundo fontes que conhecem a negociação, as duas empresas precisam acertar detalhes técnicos para que a aquisição seja finalizada. A companhia americana estaria disposta a pagar em torno de 800 milhões de euros (R$ 2,4 bilhões) para ficar com as 171 lojas do braço varejista do Sonae em solo brasileiro, de acordo com um site especializado em fusões.
Os rumores de que o Wal-Mart negocia com o Sonae ficaram mais fortes no fim de julho. Na época, a revista Exame noticiou que executivos da rede americana se encontraram com a diretoria do grupo português em Porto Alegre. Fontes do setor apontam como prova de que o entendimento está próximo a contratação de uma consultoria pela companhia americana para avaliar os números do Sonae.
Um acordo entre as duas redes não seria uma surpresa no setor. A direção do Sonae se mostrava insatisfeita com os resultados da filial brasileira sucessivas desvalorizações cambiais achataram o faturamento em euros, o mercado cresceu menos do que o previsto e o grupo precisou lidar com lojas deficitárias. Entre elas, estavam dez unidades de São Paulo, da bandeira BIG, que foram vendidas ao Carrefour em junho deste ano. Na época em que o negócio foi anunciado, o Sonae divulgou que concentraria esforços na Região Sul, onde trabalha com as marcas BIG, Mercadorama, Nacional e Maxxi.
"O Wal-Mart sempre busca ser o primeiro ou o segundo em todos os mercados em que atua", destaca o analista Alexandre Garcia, da corretora Ágora. "Não é segredo que eles querem aumentar a presença no Brasil." A rede americana tinha 25 lojas no país até o ano passado, quando decidiu crescer mais rapidamente. Além de inaugurar seis novas lojas, a companhia comprou no ano passado, por R$ 900 milhões, a rede nordestina Bompreço. Com isso, o Wal-Mart se consolidou na terceira posição do ranking de maiores do setor, com vendas de R$ 6 bilhões por ano. Mas ainda está longe do segundo colocado, o Carrefour, que faturou R$ 12 bilhões em 2004. Após a fusão com o Sonae, a rede ficaria a menos de R$ 2 bilhões do grupo francês.
Para o consultor em varejo Moacir Moura, a compra das lojas do Sonae será um negócio ainda melhor do que a aquisição do Bompreço. "O mercado do Sul tem maior poder aquisitivo e fica mais perto do Sudeste", explica. Com a operação no Nordeste, segundo Moura, a rede ganhou experiência para gerir lojas menores. O consultor diz que hoje a operação do Sonae no Brasil apresenta um bom volume de vendas e superou os obstáculos culturais que atrapalharam seu desempenho quando desembarcou no país, no fim da década de 1990.
O especialista em varejo Nelson Barrizzelli, professor da Universidade de São Paulo (USP), também avalia que a incursão no Sul do país é mais interessante para o Wal-Mart do que a presença no Nordeste. "Mas as duas compras se completam. Parece claro que a intenção da empresa é montar uma rede nacional", diz. "Se fecharem a aquisição, terão uma estrutura com porte similar a do Carrefour."