Se você pensa que os projetos voltados à reinserção social são foco apenas das ONGs e não têm nenhuma relação com metas de faturamento, saiba que está enganado. A prova: dois brasileiros que residem em Nova York (EUA) que, com pouco investimento e muita vontade de gerar oportunidades de emprego para pessoas em situação de rua, fizeram sua empresa crescer 10 vezes em cerca de dois anos e têm a ambiciosa meta de faturar US$ 750 milhões por mês (cerca de R$ 2,9 bilhões) nos próximos anos.
Trata-se da Soulphia, plataforma online para o ensino de inglês presente em seis países que prepara moradoras de abrigos nova-iorquinos para serem tutoras em aulas do idioma ministradas pela internet. “Acreditamos que é possível transformar as pessoas por meio da educação. Neste caso, o projeto permite que [essas mulheres] usufruam do melhor que têm naquele momento, que é a capacidade de se comunicar em inglês, para que consigam restabelecer suas vidas e competir de igual para igual com outra pessoa no mundo profissional”, afirma Tiago Souza, fundador e CEO do Soulphia.
O projeto nasceu como resultado do envolvimento de Tiago com o trabalho voluntário que oferecia uma refeição especial preparada por um chef para moradores de abrigos da metrópole americana e, principalmente, com as histórias de vida dessas pessoas. “Eram histórias parecidas: pessoas que tiveram boa educação, mas que, por alguma escolha errada, não necessariamente ligada às drogas ou ao álcool, acabaram perdendo o emprego, a casa e foram parar na rua, em um ciclo de pobreza e depressão”, lembra.
Assim, a ideia foi a de usar a habilidade da fluência nativa do idioma para quebrar o ciclo depressivo, oferecer um propósito e resgatar a auto-estima dessas mulheres. Na outra ponta, os alunos seriam beneficiados, pois teriam aulas com professoras que têm o inglês como primeira língua.
Projeto-piloto teve procura quase quatro vezes superior à oferta
Realizado em novembro de 2017, o projeto-piloto do Soulphia contou com a participação de cinco tutoras, que ministraram 400 aulas para cerca de 40 alunos (que pagaram US$ 10 por aula, aproximadamente R$ 38), entre os 150 inscritos. O curso foi divulgado pelas redes sociais e teve duração de dois meses.
Encerrado o piloto, os fundadores analisaram os dados e estruturam um produto que pudesse ser comercializado e, em junho do ano passado, lançaram o Soulphia com um investimento próprio de cerca de US$ 5 mil [aproximadamente R$ 20 mil].
“Começamos a oferecer as aulas e deu certo. Os alunos queriam fazê-las, as mulheres estavam sendo transformadas, mas ainda não éramos uma empresa de educação. Não havíamos trabalhado com isso antes e iríamos quebrar porque não tínhamos algo estruturado”, conta Tiago. Foi aí que ele e Felipe Marinho, também idealizador do projeto, decidiram dar um passo atrás e buscaram a Educurious, empresa de educação da Fundação Bill e Melinda Gates, referência no segmento.
Do acordo de parceria, na qual a Soulphia se comprometeu a pagar retroativamente os valores investidos pela fundação americana (cerca de US$ 20 mil/mês, aproximadamente R$ 76,8 mil) , surgiu uma equipe de 20 funcionários e uma metodologia que permitia o aprendizado conjunto de alunos e professores.
“A qualidade das aulas melhorou muito. Ficamos cerca de seis meses trabalhando no desenvolvimento desses materiais e, hoje, o Soulphia tem mais de 1,5 mil aulas prontas, de diferentes temas e em três níveis de habilidades de fala”, explica o fundador.
Investimento em streaming é novidade da plataforma
Juntamente com o material desenvolvido pela Educurious, que passou a ser utilizado no fim do ano passado, Tiago e Felipe investiram cerca de US$ 150 mil dólares (R$ 577 mil, aproximadamente) em uma plataforma de streaming (completamente disponível a partir de agosto) que permite aos alunos aprenderem inglês seguindo um caminho de aprendizado que envolve vídeo-aulas, aulas em grupo e individuais com as tutoras americanas. Aulas ao vivo também estarão disponíveis na plataforma.
Atualmente, a Soulphia conta com 55 tutoras e 497 alunos, número mais de dez vezes superior ao dos que participaram do projeto-piloto, realizado há pouco mais de um ano e meio. A plataforma, que tem no Brasil e nos Estados Unidos seus principais mercados, também está disponível em outros quatro países: Colômbia, China, Japão e México. São três pacotes de aulas, com mensalidades (válidas a partir de agosto) que variam de R$ 59,90 a R$ 714.
A meta dos fundadores para o negócio é ambiciosa e prevê que 10 mil alunos estejam matriculados até o final de 2019. Em cinco anos, o objetivo é que este número chegue a 500 mil alunos pagantes - a plataforma também oferece aulas gratuitas em projetos sociais em Recife e no Rio de Janeiro -, o que deve gerar um faturamento mensal na casa de US$ 750 milhões de dólares. “Queremos gerar oportunidade de emprego para 500 mil pessoas que moram em abrigos nos Estados Unidos. É a nossa missão”, completa Tiago.
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