Números do Banco Central mostram que o aumento do spread bancário (diferença entre o juro do crédito e o custo de captação dos recursos) nos últimos meses acabou anulando completamente o repasse para o consumidor final da queda do custo de captação e o efeito das medidas de incentivo ao crédito anunciadas pelo governo para amenizar o impacto da crise, como a redução do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) e a liberação de alíquotas do depósito compulsório.
A taxa geral de captação dos empréstimos - que é quanto o banco paga para captar o dinheiro no mercado - tem caído nos últimos meses. No quarto trimestre de 2008, entre setembro e dezembro, esse valor cedeu 1,4 ponto, para 12,6% ao ano. A redução ocorreu principalmente em dezembro, quando os juros futuros começaram a recuar com a expectativa de corte da taxa básica, a Selic.
Além disso, o custo para os bancos também diminuiu como consequência dos seguidos anúncios de queda do depósito compulsório desde setembro. Também houve diminuição pela metade da alíquota do IOF cobrada das pessoas físicas nos empréstimos, de 3% para 1,5% ao ano. Juntos, esses fatos diminuem o custo dos bancos para realizar um financiamento.
Mas essa redução de custos não foi repassada aos clientes. No trimestre, a taxa média de juro subiu 2,8 pontos, para 43,2% ao ano. Essa alta do juro é explicada pelo aumento do spread geral (que inclui o crédito para pessoas físicas e aquele para empresas), que subiu 0,5 ponto de novembro para dezembro, para 30,6 pontos porcentuais, no maior patamar desde agosto de 2003. Sozinho, o spread para pessoa física subiu 2 pontos de novembro para dezembro, para 45,1 pontos, maior desde setembro de 2004.
Altamir Lopes diz que bancos podem ter elevado o spread para cobrir eventuais prejuízos futuros que podem ser gerados por um eventual aumento da inadimplência. Ele observa, no entanto, que o aumento foi expressivo. "Não sei se isso (aumento do risco) seria suficiente para elevar o spread nessa magnitude", disse.