Taxas crescem conforme o crédito aumenta
A evolução da oferta de crédito e das taxas de spread e de juros mostra como os bancos mantêm a sua lucratividade. A oferta aumentou cerca de 500% nos últimos dez anos no país, passando de R$ 381,3 bilhões a R$ 2,5 trilhões no sexto mês de 2013. A medida teve suporte do governo para estimular o consumo dos brasileiros e impedir a queda da economia brasileira em um momento de crise internacional.
Com isso, a demanda por empréstimos aumentou e as taxas de juros e o spread se mantiveram baixos. Desde 2010, porém, o crescimento do crédito tem sido menor (veja quadro ao lado). Dessa forma, os bancos aumentaram as taxas de juros e de spreads para manter a lucratividade.
"Essa é uma relação de mercado baseada na lei da oferta e da demanda. Quanto maior a demanda por crédito, mais essas taxas tendem a subir", afirma Otto Nogami, professor do MBA Executivo em Finanças do Insper. Para estimular a oferta do crédito, o governo federal chegou a oferecer dois repasses aos bancos nos valores de R$45 bilhões, em julho e de R$25 bilhões em agosto.
Mas, apesar da diminuição no crescimento do crédito, o especialista em instituições financeiras da agência Austin Rating, Luis Miguel Santacreu, avalia que o crescimento do crédito ainda é uma fonte significativa de lucros para os bancos. "Ainda que menor, houve uma elevação. Ele pode estar subindo a 10% a partir de uma base de crescimento muito grande que aconteceu nos últimos anos, o que representa uma boa receita", explica.
Apesar do mau momento da economia, os maiores bancos privados brasileiros obtiveram lucro nos três últimos trimestres. De janeiro a setembro, Itaú Unibanco, Bradesco e Santander arrecadaram um total de R$ 30,45 bilhões, o que representou um crescimento de 24,12% em comparação com o mesmo período do ano passado.
INFOGRÁFICO: Confira o índice do spread e das taxas de juros em 2014
Os lucros ocorrem mesmo no momento em que o crescimento da oferta de crédito deve ser a menor dos últimos anos 12%, segundo previsão do Banco Central, contra 31,1% registrado seis anos atrás.
Para o especialista em instituições financeiras da agência Austin Rating, Luis Miguel Santacreu, a lucratividade dos bancos é influenciada também por negócios que vão além do crédito. "Os sistemas bancários são grandes conglomerados, não dependem apenas do crédito. Eles têm várias atividades e oferecem outros produtos e serviços como seguradoras, previdência, capitalização e receita com fundos", explica.
Segundo ele, no entanto, os altos juros no crédito livre e o aumento dos spreads (diferença entre o que os bancos pagam pelos recursos e por aquilo que cobram dos clientes na hora de conceder empréstimos) estão contribuindo para elevar a rentabilidade das instituições.
O spread é determinado por diversos fatores, como o lucro dos bancos, a taxa de inadimplência, despesas, tributos, entre outros. Quanto maior o índice, mais os bancos lucram. O spread geral (livre e direcionado) para pessoas físicas e jurídicas foi de 12,8 pontos percentuais (pp) em outubro, uma variação de 1,2 ponto nos últimos 12 meses. O índice era de 11,6 pontos no mesmo mês do ano passado.
Modalidade livre
Os spreads são maiores principalmente para pessoas físicas na modalidade crédito livre (sem destinação específica). Em julho desse ano, o índice foi de 31,7, o maior na série histórica desde 2011, o que representou uma variação de 5,3 pontos no ano. Hoje, está em 31,1 pontos. Santacreu explica que os spreads estavam baixos em anos anteriores por causa da concorrência entre os bancos e da maior oferta de crédito. "Apesar de estarem crescendo, os spreads não estão disparando", pontua.
Otto Nogami, professor do MBA Executivo em Finanças do Insper, explica que o aumento dos spreads está relacionado com os riscos dos bancos com os maus pagadores. "Na composição das taxas de juros entra o risco comercial, as taxas de inadimplência. Isso é o que mais pesa para o aumento dos spreads e quando isso está incorporado, representa ganhos para os bancos."
As taxas de juros no crédito livre também subiram nos últimos meses e atingiram o maior índice na série histórica desde 2011 nesse mês de outubro, com 32,8%.
Impacto
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