| Foto: Daniel Castellano

Com 25 anos de experiência em dança, o empresário, coreógrafo e produtor cultural Octávio Nassur sentiu a necessidade de dar um novo passo. Com o objetivo de eliminar o abismo entre projetos culturais e verbas disponíveis via leis de incentivo, ele criou com outros dois sócios a Estilyngue, uma plataforma de financiamento coletivo que garante autonomia a artistas e produtores para que viabilizem seus projetos junto à sociedade sem precisar recorrer à esfera pública. Depois de seis meses de encubação, a startup dá seus primeiros passos em sede própria e quer multiplicar o acesso dos brasileiros à cultura.

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“Criamos um lugar no qual as pessoas se encontram sem depender de verba pública. Chegou a hora de a arte repensar a forma de comunicar com a sociedade e despertar o interesse das pessoas”, diz Nassur, que há 14 anos organiza em Curitiba o FIH2, festival internacional de Hip Hop.

R$ 5,7 bilhões

Foi o montante aprovado em 2014 para incentivo à cultura via Lei Rouanet. Destes, apenas R$ 1,3 bilhão foi proveniente do Imposto de Renda de pessoas físicas e jurídicas para projetos culturais. Pessoas físicas com declaração completa podem destinar até 6% de seu IR, enquanto empresas na modalidade lucro real podem destinar até 4% de seus impostos para a cultura.

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Aberta a projetos culturais de todos os tipos e lugares, apoiados ou não pela Lei Rouanet, a plataforma cobra taxa de 10% do valor arrecadado e permite que o proponente selecione livremente a meta de arrecadação e o prazo em dias. Do outro lado, tanto empresas quanto pessoas físicas podem selecionar propostas e contribuir com valores diferentes, todos com contrapartidas proporcionais e acompanhamento constante pelo site das fases de execução do projeto. Caso a meta não seja atingida, o apoiador pode selecionar outros projetos para direcionar a cota, que pode ser doada via lei de incentivo ou investimento particular.

Lançado com um hotsite em setembro de 2014, quando Octavio falou sobre a iniciativa no programa Domingão do Faustão, em dois dias o Estilyngue recebeu mensagens e projetos de 419 cidades brasileiras de artistas que buscam apoio.

“Existem muitas ideias e muitos recursos, mas falta informação, as pessoas querem ajudar mas não sabem que podem destinar parte de seu imposto de renda, por exemplo”, diz Nassur. Em 2014, apenas 22% da verba disponibilizada pela Lei Rouanet foi destinada aos projetos, devido à falta de informação ou à dificuldade da doação, já que uma pessoa pode destinar até 6% do seu Imposto de Renda, mas só será restituída no ano seguinte.

Mantido pela iniciativa O Boticário na Dança e pela Associação Comercial do Paraná (ACP), a Estilyngue espera que o Ministério da Cultura reconheça e apoie o crowdfunding como uma forma mais eficiente de garantir o destino da verba aprovada e disseminar a cultura da doação. “A tecnologia veio acelerar a solução, eles sabem que não funciona como está e que não podem competir com a velocidade da rua”, diz o empresário.

Convertendo aplausos em cifras

Com um sócio no Vale do Silício e seis meses de aceleração e mentoria no Instituto Brasileiro de Qualidade e Produtividade (IBQP), a startup garantiu uma base de programação avançada, capaz de sustentar uma demanda exponencial de acesso e doações no site, já pensando na segunda estratégia de arrecadação, uma plataforma mobile para doação imediata e divulgação em teatros por todo o Brasil.

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Com oito teatros parceiros e uma meta de 80 até dezembro, a Estilyngue vai exibir vídeos após as apresentações, convidando o público a acessar o aplicativo e contribuir com o espetáculo que acaba de ser apresentado, além de garantir outros benefícios. “Oitenta teatros reúnem um público anual de 134 milhões de pessoas. Se cada uma doar R$ 1 por mês, teremos R$ 1,6 bilhão em um ano”, calcula o coreógrafo.