Com 25 anos de experiência em dança, o empresário, coreógrafo e produtor cultural Octávio Nassur sentiu a necessidade de dar um novo passo. Com o objetivo de eliminar o abismo entre projetos culturais e verbas disponíveis via leis de incentivo, ele criou com outros dois sócios a Estilyngue, uma plataforma de financiamento coletivo que garante autonomia a artistas e produtores para que viabilizem seus projetos sem precisar recorrer à esfera pública. Depois de seis meses de incubação, a startup dá seus primeiros passos em sede própria e quer multiplicar o acesso dos brasileiros à cultura.
“Criamos um lugar no qual as pessoas se encontram sem depender de verba pública. Chegou a hora de a arte repensar a forma de se comunicar com a sociedade e despertar o interesse das pessoas”, diz Nassur, que há 14 anos organiza em Curitiba o Festival Internacional de Hip Hop, o FIH2.
Aberta a projetos culturais de todos os tipos e lugares, apoiados ou não pela Lei Rouanet, a plataforma cobra taxa de 10% do valor arrecadado e permite que o proponente selecione livremente a meta de arrecadação e o prazo em dias. Do outro lado, tanto empresas quanto pessoas físicas podem selecionar propostas e contribuir com valores diferentes, todos com contrapartidas proporcionais e acompanhamento constante pelo site das fases de execução do projeto. Caso a meta não seja atingida, o apoiador pode selecionar outros projetos para direcionar a cota, que pode ser doada via lei de incentivo ou investimento particular.
Lançado como um hotsite em setembro de 2014, quando Nassur falou sobre a iniciativa no programa Domingão do Faustão, da TV Globo, em dois dias o Estilyngue recebeu mensagens e projetos de 419 cidades brasileiras de artistas que buscam apoio. “Existem muitas ideias e muitos recursos, mas falta informação. As pessoas querem ajudar, mas não sabem que podem destinar parte de seu Imposto de Renda (IR), por exemplo”, diz. Em 2014, apenas 22% da verba disponibilizada pela Lei Rouanet foi destinada a projetos culturais, devido à falta de informação ou à dificuldade da doação, já que uma pessoa pode destinar até 6% do seu IR, mas só será restituída no ano seguinte.
Mantido pela iniciativa O Boticário na Dança e pela Associação Comercial do Paraná, a Estilyngue espera que o Ministério da Cultura reconheça e apoie o crowdfunding como uma forma mais eficiente de garantir o destino da verba aprovada e disseminar a cultura da doação. “A tecnologia veio acelerar a solução, eles sabem que não funciona como está e que não podem competir com a velocidade da rua”, diz o empresário.