Executivos que, para fugir do trânsito dos centros financeiros de São Paulo, passaram a ir para o trabalho de bicicleta descobriram uma série de oportunidades de negócios ao dar comodidade a quem não quer ficar preso em engarrafamentos.
As startups das magrelas vão desde fabricantes nacionais de bikes elétricas até vestiário aberto por chave no smartphone, serviço de entrega acionado via celular e uma espécie de táxi sobre duas rodas.
O economista Danilo Vieira Lamy, 37, afirma que passou a andar de bicicleta há dois anos. Ele optou por ela como resultado da irritação que tinha com o trânsito da avenida Faria Lima, uma das mais movimentadas de São Paulo, onde trabalhava em um banco.
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Conta que a mudança o fez ganhar muito tempo e disposição, mas não conseguia convencer amigos a tomar a mesma atitude. Muitos diziam que não poderiam chegar ao trabalho suados depois do exercício ou tinham medo de andar de bicicleta na capital paulista.
Para atender a esse público, ele criou um aplicativo nos moldes da Uber.
Só que, em vez de chamar um táxi, o usuário é buscado por um condutor de uma bicicleta elétrica de dois lugares, desenvolvida pela própria empresa.
Hoje a companhia tem dez ciclistas autônomos rodando 20 quilômetros de ciclovias de São Paulo de segunda a sexta.
A rota que pode ser percorrida por eles parte da Ceagesp, na zona oeste, e passa pela avenida Engenheiro Luís Carlos Berrini, na zona sul.
No serviço da empresa, o passageiro pode pedalar com o condutor ou apenas ser levado por ele.
“A gente faz o deslocamento deixar de ser uma coisa sufocante, estressante, como era para mim, e faz ele ser a melhor parte do seu dia”, afirma o economista.
Segundo Lamy, já foram 25 mil corridas em um ano. Ele busca investimentos para expandir o serviço pela cidade.
A inspiração para a startup Cipó, do agrônomo Rodrigo Mesquita, 37, também foi resultado de muita transpiração.
Ele conta que passou constrangimento quando quis ir de bicicleta para um curso de MBA que fazia e, dali, percebeu que outras pessoas poderiam ter o mesmo problema.
Seu plano com a empresa é instalar contêineres em espaços ociosos, como vagas de estacionamento, para servirem de bicicletário e de vestiário para quem usa a bike para ir ao trabalho ou à escola.
O banho no contêiner em cabine individual custa R$ 10 por dia, com direito a 20 minutos de chuveiro.
Ainda não houve muita fila, mas Mesquita diz planejar alguma ferramenta de agendamento no aplicativo para que isso não aconteça. Já quem quer guardar a bike no bicicletário da empresa paga R$ 80 ao mês. A startup instalou uma unidade no bairro do Itaim Bibi, em São Paulo, e tem cerca de 50 clientes.
Também há empresas que apostam na produção de bicicletas elétricas olhando para o mercado corporativo e demonstrando otimismo com os negócios. A Vela, que foi lançada em 2015 após a venda de 80 unidades em uma campanha de financiamento coletivo na internet, deve dobrar suas vendas neste ano e entregar 800 bikes, afirma seu criador, Victor Hugo Cruz, 29.
Segundo ele, seu público é formado principalmente por casais jovens, com filhos de até três anos, que veem na bicicleta uma forma de gastar menos com transporte diário.
“Quem acabou de se juntar vê que fica mais barato abrir mão de um carro e ter duas bikes”, diz. As bicicletas da empresa custam de R$ 4.890 a R$ 5.890.
A aposta é parecida com a da E-Moving, com a diferença de que a segunda prefere alugar suas bikes a vendê-las. Gabriel Arcon, 35, fundador da empresa, diz que, como a maioria dos consumidores não conhece esse tipo de bicicleta, alugar, em vez de gastar mais dinheiro em uma compra, aumenta as chances de que eles testem o produto.
O aluguel das bicicletas da empresa parte de R$ 219 ao mês (planos mais longos podem ter desconto). Segundo Arcon, a maior parte dos clientes usa a bicicleta para fins profissionais.
Em geral, eles passam a deixar de gastar uma hora por dia no trânsito com o novo meio de transporte, diz. “A maioria de nossos clientes mora no centro financeiro de São Paulo. Temos muitos executivos da Faria Lima, da Berrini, dos Jardins”, diz.
A companhia entrou no mercado em fevereiro de 2015 com dez bicicletas importadas. Hoje ela fabrica as bikes e tem mais de 500 delas.
Entre os recursos recebidos pela startup estão uma injeção de capital de R$ 1 milhão da locadora de carros Movida.
Além de se beneficiar da busca por mais qualidade de vida por parte dos clientes, as startups se dizem satisfeitas por estar em um mercado aquecido.
Em setembro, a Yellow, startup criada por cofundadores da 99 e ex-presidente da Caloi, levantou US$ 63 milhões (R$ 235 milhões) com investidores para expandir seu serviço de bicicletas compartilhadas, liberadas via aplicativo.
Segundo dados da Abraciclo, associação do setor de produtores de motos e bicicletas do polo da Zona Franca de Manaus, a produção de bicicletas cresceu 16% de janeiro a setembro deste ano na comparação com os mesmos meses de 2017.
Segundo dados da associação, o segmento deve fechar 2018 em patamar próximo ao de 2014, antes da crise que afetou seu desempenho. Naquele ano, foram produzidas 775 mil bikes e, em 2018, são esperadas 765 mil.