Custos, impostos, capital de giro, controle de estoque... Como um malabarista, são inúmeros os itens que um empreendedor tem que manter sob controle para que o seu negócio não corra riscos de desandar, mas nem todos têm dado conta do desafio. Números da Serasa Experian divulgados recentemente apontam que as micro e pequenas empresas lideraram os pedidos de falência e recuperações judiciais em julho de 2019. O crescimento foi de 131% na comparação com o mesmo mês do ano passado, saltando de 52 para 120 requisições.
Nesse ambiente, ajudar a empreitada alheia a prosperar também virou negócio no país, com empresas voltadas a oferecer soluções seja para quem ainda está estudando as possibilidades de empreender, seja para aqueles que já entraram na jornada.
Para Daniel Miranda, gerente-geral da plataforma para microempreendedores Azulis, "o aumento de pequenos negócios que fecham as portas, ou que estão perto disso, acompanha o crescimento dos empreendimentos no Brasil. Foram mais de 1,5 milhão de pequenas empresas criadas no primeiro semestre deste ano. As pessoas estão arriscando mais, indo atrás de seus sonhos, e isso acaba se refletindo também na quantidade das empreitadas que dão errado".
Criada para oferecer soluções digitais para MEIs, autônomos e para micro e pequenas empresas, a startup aparece como uma "caixa de ferramentas". Tem serviços para facilitar a gestão financeira e de cobrança, emissão de boletos, lembretes para não atrasar o pagamento de impostos e até um comparador de 'maquininhas'. No marketplace, o empreendedor pode consultar informações e condições oferecidas pelas principais empresas do mercado.
No Brasil desde 2018, a plataforma soma mais de 1,6 milhão de acessos neste ano e mais de 100 mil pedidos de máquinas de cartão. "A gente procura transformar essa escolha em algo simples, esse é um dos nossos diferenciais, afinal, já é tão difícil ter negócio no país", pontua Miranda.
Foco nos pequenos
Em uma pegada similar, a Nextar também promete ser um facilitador para uma gestão mais simples e eficiente, mas chegou ao mercado de olhos voltados para o pequeno varejo. O CEO da empresa, João Borges, conta que desde criança vivenciou essa rotina (por causa dos avós comerciantes) e que chegou a um ponto da carreira como profissional de TI no qual decidiu dedicar esforços para o segmento, por ser "uma atividade em que as empresas de software não focavam. Era uma oportunidade de atender o pequeno, que era abandonado de boas soluções", avalia.
Assim foi criado o Nex, programa desenvolvido pela startup e que atualmente está presente em 50 mil estabelecimentos (inclusive fora do país). Entre os usuários está a Deguste Saúde, loja do Wilde Robert que começou como um negócio de duas prateleiras e 10 itens em Salvador (BA) e que hoje comercializa mais de três mil produtos no segmento de alimentação saudável. O empreendedor e administrador conta que "no estudo que eu fiz antes de abrir a minha loja eu procurei descobrir porque outras lojas faliam, até de outras áreas. A maior percepção minha foi que as empresas não se adaptavam tão rapidamente quanto deveriam e eu sempre quis me preparar antecipadamente."
Motivado por essa preocupação, Robert buscou uma ferramenta de gestão para manter a loja rentável e garantir o controle de vendas, estoque, caixa, cadastro de produtos clientes, fornecedores. No terceiro ano de funcionamento, o comerciante já passou a se valer dos dados de operação mantidos pelo software para inovar. Uma das apostas foi desenvolver um sistema de fidelização a partir da criação de listas de favoritos com base nas compras anteriores dos consumidores frequentes.
Ainda nos preparativos
A ajuda oferecida por startups a empreendedores vai além de atender empresas que já entraram no mercado. A Start Ponto Com permite que aquele cara que ainda não colocou o negócio para andar avalie se a ideia é viável. A plataforma automatiza o processo de criação do plano de negócios, cruzando os dados oferecidos por quem quer empreender com a base de dados da Start, que concentra planos pré-preenchidos para diversos tipos de negócios, como confeitarias, petshops, açougues, padarias.
De acordo com Alan Correia, especialista em Tecnologia da Informação (TI) e um dos fundadores da startup, o modelo já permite à pessoa responder de antemão a diversas perguntas, como quanto vai ser necessário investir em máquinas e equipamentos, qual deve ser o estoque inicial, quais os custos fixos, qual o peso dos impostos. "É importante porque a pessoa não trabalha com o famoso achismo e pode iniciar o negócio sem errar ou diminuindo esse erro ao máximo", destaca.
A maquiadora Ananda Lima, que começou seu estúdio como MEI e já mudou de faixa, lembra que resolveu embarcar no empreendedorismo depois de algum tempo trabalhando em salões. "Fiz um empréstimo, estava com esse dinheiro em mãos, mas ao mesmo tempo estava com medo de investir errado. Quanto mais eu pesquisava mais eu percebia que era muita coisa e foi ótimo encontrar o serviço, porque tinham coisas que eu nem imaginava que teria que lidar, como os impostos, os gastos do primeiro ano", revela.
Criada em 2017, a startup foi construída a partir de mais de 30 anos de experiência de campo do consultor de negócios Luiz Lima, que passou pelo Sebrae e por outros serviços de apoio e fomento ao empreendedorismo. Com toda essa bagagem na área, Lima destaca que “a viabilidade de uma ideia de negócio passa por três etapas fundamentais: concepção da ideia, implantação do negócio e análise dos resultados. Este cuidado é a base, que só se obtém através do plano de negócio estruturado para apontar de forma direta e objetiva se tal negócio tem viabilidade ou não".
Em dois anos de atividades, mais de 5 mil planos já foram feitos com auxílio da plataforma e só em 2019 foram 200 as ideias estruturadas dessa maneira.