Miki Agrawal ergue o vestido branco translúcido e aponta para sua calcinha. “Estou usando um dos nossos protótipos”, ela diz. A calcinha é preta e lisa – o tipo que você reserva para ocasiões especiais. E também absorve até cinco colheres de chá de sangue. “É libertador”, diz ela. “Depois que você se liberta da sujeira, das frustrações e das manchas, fica mais fácil falar sobre isso – sobre sua menstruação”.
Agrawal, 37 anos, é a cofundadora e executiva-chefe da Thinx, uma empresa que vende calcinhas multicamadas, antimicrobianas e à prova de vazamentos. A empreendedora social, como ela mesma se denomina, faz parte de uma onda cada vez maior de mulheres de negócios que estão se valendo de novas tecnologias e das mudanças de atitudes para abalar o mercado de US$ 19 bilhões da higiene feminina.
Oito décadas após um médico patentear o absorvente interno nos Estados Unidos e mais de um século após as primeiras toalhas sanitárias descartáveis terem chegado às lojas, esses itens rotineiros das farmácias ainda dominam o ramo, desfrutando da lealdade construída por gerações de consumidoras. Desde 2014, porém, a Thinx e uma multidão de outras startups chefiadas por mulheres vêm tentando sacudir esse sistema de duas só opções de produtos menstruais, ao introduzir desde tangas que absorvem umidade até discos coletores feitos de látex.
Essas empresas acreditam que o mercado já está pronto para elas, em grande parte porque as pessoas hoje falam mais abertamente sobre menstruação. Uma corredora terminou a maratona de Londres de 2015 com as leggings ensopadas de sangue, dizendo aos entrevistadores que a menstruação “existe e precisamos lidar com ela todos os dias”. Uma atleta olímpica chinesa no Rio de Janeiro reclamou da sua menstruação na TV. Uma modelo inglesa comentou com repórteres que já perdeu castings por causa do seu ciclo.
As empreendedoras estão explorando esse diálogo, alcançando as novas gerações com a franqueza de seus tweets e vídeos no Facebook. Elas descrevem as realidades do corpo feminino como se fossem aquela irmã mais velha e descolada, promovendo suas invenções como alternativas mais saudáveis e de manutenção mais barata.
Alternativa
O primeiro absorvente comercial chegou à nação em 1896, com a Johnson & Johnson anunciando as toalhinhas sanitárias feitas em algodão. Quase quatro décadas depois, um médico do Colorado chamado Earle Haas patenteou o que viria a ser o absorvente interno moderno.
Lauren Schulte, de 30 anos, criadora da Flex Company, odeia os dois produtos. Os absorventes internos, como ela aponta, precisam ser trocados com frequência, a fim de evitar vazamentos e síndrome do choque tóxico, uma infecção bacteriana ligada ao seu uso prolongado. Já os externos, para ela, são simplesmente desconfortáveis.
Ela investiu sua poupança de US$ 70.000 para desenvolver seu produto dos sonhos: o Flex, um selo com formato de um disco de hóquei feito de um polímero flexível de uso médico, que coleta sangue por até 12 horas até sua usuária jogá-lo fora.
Os investidores, segundo ela, amaram o produto – Schulte arrecadou US$ 4 milhões até agora. O Flex já tem registro na Food and Drug Administration (FDA) dos EUA, e a primeira remessa, oferecida como amostra grátis, chegou a 20.000 clientes este mês. Um pacote com 24 discos custa US$ 15 por mês, se a compradora se inscrever no serviço de entrega. Um pacote da Tampax Pearl, em comparação, com 36 absorventes internos, custa menos de US$ 9, mas a vida útil de um absorvente interno é de quatro até oito horas.
Schulte diz que a discussão sobre menstruação lhe deu coragem para correr atrás da sua ideia. “Quanto mais nós sairmos e falarmos das nossas experiências por aí”, ela diz, “mais o tema chega ao público em geral”.
O mercado desejado
Absorventes descartáveis continuam sendo os produtos menstruais mais vendidos do país. Segundo os números mais recentes, 62% das mulheres dos EUA afirmam usar absorventes externos, enquanto 42% preferem os internos (essas porcentagens incluem as respostas de quem afirma usar ambos os tipos de produtos, mas a enquete não perguntava se elas usavam só um ou só o outro).
Já Svetlana Uduslivaia, chefe dos produtos de higiene da Euromonitor Internacional, uma firma de pesquisa de mercado global, dá o aviso de que as alternativas “ainda constituem uma parcela pequena das vendas”. “Esses são produtos, porém, para os quais precisamos ficar de olho quanto ao seu impacto a longo prazo. Conforme mais mulheres, sobretudo jovens, se familiarizam com eles, fica mais provável de que elas repassarão essas informações para suas filhas”, afirma.
A canadense Lunapads não fez muito sucesso logo de cara. Ela começou vendendo absorventes reutilizáveis em 1993 para um pequeno nicho de clientes: mulheres que não podiam usar absorventes internos por motivos médicos ou porque não queriam poluir o meio ambiente. Mas, no ano passado, segundo a empresa, as vendas saltaram 40%.
“Eu sabia que estávamos em alta quando a Target ligou”, disse a cofundadora Madeleine Shaw, sobre o seu primeiro acordo com a famosa varejista dos EUA, estimando projeções de que o acordo aumentará as vendas da empresa em 180%. “Nossos absorventes serão vendidos lá até o final deste ano”.
A Diva International, criadora da DivaCup, um copinho coletor reutilizável, de silicone, para uso interno, também teve um pico de vendas. O produto está disponível desde 2003, mas as vendas cresceram mais de 150% desde 2014, segundo sua porta-voz, Daniela Masaro (uma primeira versão do coletor menstrual surgiu na década de 1930, mas não pegou tanto quanto seus rivais descartáveis).
“As clientes estão em busca de produtos que melhorem sua saúde e o meio ambiente”, disse Masaro. “A categoria de produtos de higiene feminina não é exceção”.
Apesar de não haver prova de que os materiais tradicionais de absorventes internos façam mal à saúde das mulheres, as alternativas que são vendidas como opções naturais buscam capitalizar o interesse do público consumidor por produtos orgânicos. A maioria dos absorventes internos vendidos nos Estados Unidos são feitos primariamente de algodão e rayon, segundo o FDA. As empresas, porém, não são obrigadas a listar seus ingredientes.
A Lola, uma startup que entrega seus absorventes internos, feitos 100% de algodão, direto na sua casa, está aproveitando essa incerteza. A companhia, que foi lançada ano passado, emprega nove funcionárias em período integral, todas elas mulheres, e despacha as caixas para o endereço das clientes inscritas em seu serviço em 48 estados.
Um vídeo da Lola postado no Facebook, que questiona os padrões de segurança da fabricação dos absorventes internos, teve já mais de 2,5 milhões de visualizações.
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