A disputa no setor de “maquininhas” está cada vez mais acirrada. A Cielo, que fechou 2018 com a pior queda da bolsa (-58,15%), ainda se mantém líder do setor e conta com grande escala através da distribuição do BB e Bradesco e não apresenta sinais de que pode perder o status de maior fatia do mercado para alguma outra empresa. Mas as concorrentes a seguem muito de perto - e não há previsão de cessar fogo na guerra das maquininhas.
A Stone divulgou na sexta-feira (18) uma prévia operacional com números muito satisfatórios: o total de clientes dobrou em 2018 em relação ao ano anterior, para 267,9 mil (alta de 104,1%). Só no quarto trimestre foram mais 33,5 mil clientes. O volume total de pagamento ficou em R$ 26,6 bilhões no mesmo período, e a alta anual foi de 73,8%.
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As ações da empresa na bolsa americana Nasdaq saltaram 7,41% na segunda-feira (21), após a divulgação dos números. Desde a oferta pública inicial (IPO), quando teve um pico, o papel chegou a cair 46,69%. Agora, já vê valorização acumulada de 32,99%.
Enquanto isso, a PagSeguro fechou a compra do Banco Brasileiro de Negócios (BBN) na última sexta-feira (18). A dona da Moderninha pretende expandir e a aprovação do Banco Central abre espaço para a empresa baixar mais ainda suas taxas, com financiamento in house e simplificação de processos. O papel da empresa, listado em Nova York, subiu 5,41% na segunda.
A GetNet, do Santander, por sua vez, lançou uma plataforma de e-commerce para pequenas e médias varejistas mirando abocanhar mais uma parte do mercado.
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Cielo segue líder e recupera perdas
A verdade é que, por enquanto, mesmo com as notícias das três principais concorrentes, a Cielo ainda não sentiu os efeitos negativos neste ano. As ações nesta segunda-feira (21) fecharam com alta de 2,21%. Mas é fato que a empresa já perdeu espaço com o aumento da concorrência no mercado.
Um analista que acompanha o setor afirma que a alta de 19,80% no ano é apenas uma correção das grandes quedas do ano passado. “ O mercado tem feito contas com relação ao valuation da empresa, que apesar de ter perdido market share e margens, ainda é a líder do setor. Há a discussão se a queda do ano passado não foi exagerada e isso explica a reação da ação em 2019”, afirma.
Além disso, segundo ele, esse ano pode ser positivo para o setor em geral. “ Em dezembro as vendas no varejo mostraram recuperação pela primeira vez em 4 anos [para o último mês do ano], de acordo com um índice divulgado pela própria Cielo. E o Banco Central publicou uma regulação sobre o mercado de recebíveis que pode beneficiar as adquirentes, impedindo exigência de exclusividade (trava)”.
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No final do ano passado, a Cielo lançou o Lio, um aplicativo “dois em um” que mescla maquininha e um celular Android, que permite pagamento no modo contactless, ao aproximar o celular, sem precisar de cartão.
Briga de foice
O setor, de fato, enfrenta uma série de desafios com as empresas atacando por todo lado para atrair cada vez mais clientes.
“A Cielo está confiante de que vai recuperar a participação de mercado no segmento de pequenas e médias empresas e ganhar terreno no espaço dos microempresários, uma vez que vem cortando preços agressivamente em toda a linha”, diz relatório da equipe de analistas do Morgan Stanley.
Considerando isso, o banco acredita que o market share total da Cielo pode cair ainda mais em 2019, já que a empresa pode perder alguns clientes no segmento corporativo de grande porte. “A estratégia de preços da empresa também visa consolidar o mercado, o que pode diminuir a lucratividade do setor como um todo”, complementa o documento.
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Stone entra com processo contra GetNet
Enquanto isso, a Stone abriu um processo administrativo contra o Santander.dono da GetNet, no Conselho administrativo de Defesa Econômica (Cade). Ela acusa a concorrente de práticas anticompetitivas no mercado de credenciamento de cartões.
O principal argumento da Stone é de que, como no setor é comum que as empresas credenciem varejistas, profissionais liberais e autônomos para oferecer o serviço, o Santander se aproveita disso e exige exclusividade, via contratos de incentivo e de venda em conjunto com serviços bancários, de acordo com informações do Valor Econômico.
Em consequência, a Stone acredita que esse tipo de prática piora a concentração de mercado que já é bem alta no setor.
As empresas adquirentes ligadas a bancos são Cielo (Banco do Brasil e Bradesco), Rede (Itaú) e GetNet (Santander) - juntas, elas representam 80% do mercado. E concorrem com outras 13 empresas menores.
A empresa quer que o Cade proíba o Santander de alterar as condições de serviços bancários, quando o cliente mudar de credenciadora; impedir o condicionamento da oferta de serviços bancários para contratar os serviços da Getnet; de aplicar multa caso o varejista não atinja a meta de vendas; de aplicar multa caso o varejista rescinda o contrato.
O InfoMoney entrou em contato com o Cade que confirmou o processo e informa que segue em andamento. O Santander e a Stone também foram contatados, mas até o momento da publicação desta matéria não enviaram seus posicionamentos.
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