O suicídio de um aposentado grego em frente ao Parlamento do país rapidamente se tornou um símbolo das duras medidas de austeridade dos últimos tempos, e deve virar tema da campanha eleitoral de políticos contrários aos cortes orçamentários exigidos por credores internacionais.
O farmacêutico aposentado Dimitris Christoulas, de 77 anos, deu um tiro na própria cabeça na terça-feira após gritar a transeuntes na praça Sytagma, no centro de Atenas, que não aguentava mais viver endividado. No seu bolso havia um bilhete em que ele afirmava que sua única opção seria fuçar o lixo atrás de comida.
O caráter altamente público e simbólico desse suicídio gerou uma onda de solidariedade popular, incluindo uma passeata e um memorial improvisado no local do suicídio, com bilhetes reclamando da crise.
O jornal conservador Eleftheros Typos disse que Christoulas se tornou um "mártir da Grécia", e que o "profundo simbolismo político" do seu ato pode "chocar a sociedade grega e o mundo político, e despertar sua consciência" a pouco mais de um mês de uma eleição parlamentar que determinará o futuro do país.
O alvo da indignação popular são os políticos locais, mas também os credores internacionais, que exigiram fortes medidas de austeridade em troca de ajuda financeira para tirar o país da sua pior crise econômica desde a Segunda Guerra Mundial.
"É horrível, não deveríamos ter chegado a esse ponto. Os políticos no Parlamento que nos trouxeram até aqui deveriam ser punidos por isso", afirmou a aposentada Anastassia Karanika, de 60 anos.
O parlamentar conservador Panos Kammenos, fundador do recém-criado partido antiausteridade Gregos Independentes, disse que "quem deveria ter cometido suicídio há muito tempo são os políticos que sabidamente decidiram levar este país e seu povo a este estado de coisas".
O GI e outros pequenos partidos têm crescido nas pesquisas, enquanto os tradicionais Nova Democracia (conservador) e Pasok (socialista), que governam em coalizão, registram queda.
Juntos, os dois grandes partidos devem conseguir menos de 40 por cento dos votos, e estão ameaçados de não poderem repetir sua aliança de governo, o que teria profundas implicações para as finanças gregas, já que o país continua recebendo ajuda da União Europeia e do FMI, condicionada a novas reformas para reduzir gastos e elevar a arrecadação.