Na tentativa de aumentar a renda do setor, os suinocultores decidiram convencer as merendeiras a incluir carne suína no cardápio das escolas. A suinocultura enfrenta nova crise com o aumento dos custos, provocado pela elevação dos preços dos principais ingredientes da ração (milho e farelo de soja). Como a produção continua acima da demanda interna desde a crise da aftosa, deflagrada em 2005, é preciso ampliar o mercado para que os preços não caiam, argumenta a Associação Paranaense de Suinocultores (APS).
A meta da APS é fazer com que 80 dos 399 municípios do estado passem a comprar carne suína para a merenda escolar neste ano. As licitações são realizadas pelas prefeituras, mas as escolas é que decidem o que será comprado. O cardápio, definido em discussões com pais, professores e nutricionistas, não muda se não houver quem saiba preparar os ingredientes. A estratégia dos suinocultores é mostrar às prefeituras que o preço da carne suína baixou e oferecer cursos de culinária às merendeiras.
O Paraná produz cerca de 430 mil toneladas de carne suína por ano, conforme projeção do setor baseada em números do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O consumo interno estaria em cerca de 120 mil toneladas, e as vendas externas não garantem mercado às outras 310 mil toneladas. Para que os preços voltem a cobrir os custos, é necessário dar nova saída para cerca de 65 mil toneladas (15% da produção), estima o presidente da APS, Irineu Wessler.
Os produtores alegam que o custo de produção subiu de R$ 1,70 para R$ 2,00 o quilo nos últimos três meses. Eles continuam recebendo entre R$ 1,60 e R$ 1,80 na hora de distribuir o produto. O prejuízo chega a 40 centavos por quilo. O setor esperava melhores preços neste ano, para superar a crise da febre aftosa. Com a imposição de barreiras internacionais às carnes paranaenses, a oferta interna é maior que o consumo há 15 meses.
As indústrias alegam que não podem pagar mais aos suinocultores porque seguem as regras do mercado. O diretor de Mercado da Associação Brasileira da Indústria Produtora e Exportadora de Carne Suína (Abiceps), Jurandir Machado, afirma que o primeiro trimestre é historicamente um período de baixo consumo de carne, por causa do calor. A Abiceps representa as principais indústrias, incluindo Frimesa, Perdigão, Sadia e Seara.
Ele argumenta que o produto poderia estar custando menos ao consumidor, o que elevaria a demanda. "Os supermercados usam o frango como chamariz. No caso do suíno, a margem é bem maior."
Machado não acredita que a crise suína trará retração na atividade industrial a médio prazo. Ele considera que, mesmo que decidam abandonar o setor, os criadores precisam de tempo. O ciclo da produção de carne suína leva de 9 a 10 meses, da gestão à oferta de animais com 135 quilos.