Volta e meia, o problema se repete em algum canto no Brasil: dificuldades para embarcar cargas para exportação. O motivo: falta de contêineres, falta de linhas de navegação ou até mesmo de espaços nos navios. Um dos últimos segmentos a sentir esse problema foram os exportadores de granito do Ceará. “Ficamos sem local para estocar a produção em dezembro”, diz Davi Silveira, diretor comercial da Granitos S.A., de Caucaia.
Cargas chegaram a partir com até um mês de atraso. A situação só melhorou em janeiro porque é entressafra para os produtores de frutas, com quem os exportadores de granito disputam espaço nas embarcações. A empresa vende seus produtos para países como Estados Unidos, China, Itália, Polônia e Reino Unido.
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A situação já se normalizou para Silveira. Mas ele já projeta que os problemas voltarão no segundo semestre, quando começar a safra de frutas. “E não há nada o que fazer”, lamenta. Segundo ele, produtores de rochas ornamentais também enfrentaram o problema no Espírito Santo. O motivo é que saem muito mais contêineres carregados do Brasil do que entram.
A Maersk, uma das maiores operadoras logísticas do mundo, reconhece o problema da falta de contêineres. A justificativa é de que as importações não conseguem acompanhar o ritmo das exportações. No ano passado, o Brasil importou US$ 181,2 bilhões, o melhor resultado em quatro anos, mas, mesmo assim, o mesmo nível de 2010. E exportou US$ 239,9 bilhões, 10,2% a mais do que em 2017. É o maior desempenho desde 2014.
Uma das alternativas que a empresa tem encontrado, segundo o executivo, é trazer contêineres vazios da China, encarecendo ainda mais o custo do transporte. “É um desafio fechar essa conta”, destaca Matias Concha, gerente de produto da Costa Leste da Maersk.
Outro segmento que sentiu o problema foi a cafeicultura. O Brasil é o maior exportador mundial, No ano passado, as exportações de café caíram 5,3%, segundo a Secretaria de Comércio Exterior. Os resultados poderiam ser melhores, caso as empresas que atuam no setor não tivessem dificuldades para exportar por causa da falta de contêineres e de lugar nos navios, apontou o Conselho dos ExportadorMes de Café (Cecafe) à agência de notícias Reuters.
O consultor de logística da Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Luiz Antônio Fayet, disse que este problema é estrutural e não deverá ser resolvido no curto prazo. “A gente traz contêineres vazios e saem cheios. É um problema típico de um país que exporta muito.”
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E esse cenário não deve mudar nos próximos anos, porque os superávits na balança comercial tendem a continuar. O Relatório Focus, uma pesquisa feita pelo Banco Central com bancos e corretoras, projeta que a diferença entre exportações e importações chegará a US$ 51 bilhões neste ano. E as projeções indicam, até 2022, superávits entre US$ 46 e US$ 50 bilhões.
Os problemas na infraestrutura brasileira evitam que o problema seja maior. “Só não ultrapassamos os Estados Unidos por causa disso”, diz Fayet. Segundo o consultor, o agronegócio, um dos principais carros chefe das exportações brasileiras, poderia ter melhores resultados no mercado internacional se não fossem as deficiências na logística de escoamento da produção.
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