Cientistas americanos analisam características químicas do solo com auxílio de um supercomputador: auxílio poderoso para diversas áreas de pesquisa| Foto: Fotos: Argonne National Laboratory

Informação é a chave para o progresso

The New York Times

Historicamente, os supercomputadores sempre foram montados com peças caras e exclusivas. Os laboratórios governamentais sempre pagaram grandes quantias de dinheiro para utilizar estas máquinas em projetos sigilosos. Todavia, nos últimos 10 anos, as peças vitais dos supercomputadores se tornaram mais acessíveis e uma enorme varieda­de de organizações pode então com­­prá-los.

Recentemente, alunos de graduação participaram de uma competição para montar minisupercomputadores de preços acessíveis. O supercomputador chamado Jaguar, do Oak Ridge National Laboratory, no Tennes­see, se tornou oficialmente o computador mais rápido do mun­­do. Ele conecta milhares de chips da Advanced Micro Devices.

Sete dos 10 maiores super­com­­putadores do mundo utilizam chips padrão Intel ou AMD, assim como 90% das 500 máquinas mais rápidas do mundo. "Acho que isto quer dizer que a tecnologia da super computação é possível de ser adquirida. Esta­­mos cada vez mais longe da nossa torre de marfim", disse Marga­ret Lewis, uma diretora da AMD.

Os pesquisadores avisam que muito do trabalho consiste em liberar o que consideram informações valiosas para uma análise mais aprofundada. No Georgia Institute of Tecnology, por exemplo, os pesquisadores desenvolveram um software que pode ava­­liar exames cerebrais e cardiológicos e identificar anomalias que podem indicar problemas. A fim de avançar e melhorar tais técnicas, os pesquisadores precisam "treinar" seu software através de testes com mi­­lhares de exames corporais. To­­davia, é difícil fazer com que institutos governamentais ou de saúde compartilhem este tipo de exame, mesmo se as informações pessoais dos pacientes se­­jam removidas, de acordo com George Biros, professor do Geor­gia Institute of Technology. "As faculdades de medicina não disponibilizam estas informações", declarou. Bill Howe, cientista sê­­nior do eScience Institute da Uni­­versidade de Washington, vem pressionando organizações de pesquisa para disponibilizar suas informações. "Todos os da­­dos que coletamos em nome da ciência devem ser acessíveis, mas infelizmente esta não é a realidade atual", revelou.

Howe ainda disse que estudantes do Ensino Médio e os chamados cientistas cidadãos poderiam fazer grandes descobertas, se tiverem uma chance de acessar um supercomputador. "Va­­mos ver o que acontece quando as salas de aula explorarem estas informações", comentou.

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Em todo o mundo, os supercom­­putadores são tidos há décadas como propriedade exclusiva de universidades e governos. Entre­tanto, o que aconteceria se cidadãos comuns conseguissem co­­locar as mãos numa dessas su­­per­­máquinas?

Eles já estão fazendo isso. O preço dos supercomputadores vem caindo vertiginosamente e, em parte, isso ocorre devido à pos­­sibilidade atual de montá-los com peças de PCs comuns – até processadores usados em videogames têm sudo usados para mon­­tagem de máquinas hipervelozes. Qualquer organização com alguns milhares de dólares pode atualmente montar ou com­­prar um supercomputador. Ao mesmo tempo, grupos de pesquisa e empresas como IBM, HP, Microsoft e Intel estão descobrindo maneiras de transformar gran­­des pacotes de informação disponíveis online através da com­­putação em nuvem. Tais avan­­ços diminuem as grandes muralhas que cercam a pesquisa de computação intensiva. Um re­­sultado disto poderia ser a democratização que dá a pessoas co­­muns uma chance de explorar sua curiosidade sobre o poder de fogo da computação pesada – e, talvez, até descobrindo algo realmente inédito.

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A tendência vem motivando os maiores estudiosos e especialistas em computação de ponta a trabalhar em busca da liberação do acesso gratuito a valiosos e enor­­mes bancos de informação. O objetivo é encher grandes computadores com dados e então per­­mitir o acesso a qualquer ci­­dadão que tenha um PC, incluindo cientistas amadores. "É um bom chamariz. A tecnologia está ali. A necessidade está ali. Isto poderia aumentar exponencialmente a quantidade de pesquisas científicas ao redor do globo", disse Mark Barrenechea, che­­fe-executivo da Silicon Gra­­phics, empresa que vende sistemas de computação a laboratórios e empresas.

A idéia de ter centros de pesquisa de última geração compartilhando dados não vem de hoje. Algumas das primeiras formas do que conhecemos hoje como a World Wide Web ganharam vida para que físicos e outros cientistas pudessem acessar grandes bancos de dados a partir de pontos remotos. Além disso, os laboratórios de universidades e go­­vernos foram os primeiros de­­fensores do que veio a se tornar a Computação em Grade, pela qual redes compartilhadas fo­­ram criadas para a transferência de dados.

A linha atual de pensamento agora é de que os laboratórios po­­dem chegar muito mais longe do que era possível se pegarem carona nas novas tendências da in­­dústria de tecnologia. E institutos de pesquisa, grandes e pequenos, podem hoje participar do cro­­nograma de compartilhamen­to elaborado pelos laboratórios.

A fim de obter inspiração, os cientistas estão olhando em serviços de computação em nuvem como o Google Docs, sites de com­­partilhamento de fotos e o programa de locação do data center da Amazon.com. Eles estão tentando trazer esse tipo de tecnologia baseada em web para seus laboratórios e fazer com que ela gerencie enormes volumes de dados. "Você já viu esses aplicativos de desktop se moverem na nuvem. A ciência está no mesmo rumo. Isso ajuda a democratizar a ciência e as boas ideias", declarou Pete Beckman, o direto da Argonne Leadership Computing Facility, em Illinois.

Com uma verba de US$ 32 milhões, conseguida junto ao De­­partamento de Energia dos EUA, o laboratório Argonne concentra hoje suas energias no Ma­­gellan, um projeto que visa criar uma infra-estrutura de computação em nuvem que possa ser uti­­lizada por cientistas ao redor do mundo. Beckman argumentou que um sistema desses iria reduzir a necessidade de universidades e laboratórios menores gastarem dinheiro em suas próprias estruturas computacionais.

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Outra vantagem seria a de que os pesquisadores não necessitariam passar dias fazendo o download de enormes pacotes de dados a fim de fazer análises em seus próprios computadores. Em vez disso, esses pesquisadores poderiam enviar solicitações ao Magellan e receber apenas as respostas.

Até mesmo pessoas curiosas que vivem antenadas no mundo acadêmico podem ter a chance de se aprofundar em assuntos como as mudanças climáticas ou análise de proteínas. "Algum ma­­temático russo poderia dizer ‘Tenho uma ideia’. As barreiras para testar a ideia seriam tão baixas que ele poderia até explorá-la mais a fundo. Isso aumenta o número de descobridores e, com um pouco de sorte de descobertas", finalizou Beckman.