São 147.456 processadores, 143 terabytes de memória, 6.675 toneladas de aparelhos de ar condicionado, milhões de watts de energia elétrica e quase 4 mil metros quadrados de área. É esse o tamanho do maior cérebro artificial do mundo, construído no laboratório de inovação IBM, na Califórnia.Os números podem impressionar, mas o Blue Gene/P consegue simular apenas o cérebro de um gato e, ainda assim, de forma simplificada como se fosse um gato meio burrinho. Os robôs ainda passam longe da mente humana: o supercomputador não consegue imitar nem 1% dela. É, robôs ainda têm um bocado para aprender.A maior dificuldade em um projeto de engenharia reversa do córtex é também a mais óbvia: como reconstruir algo que não sabemos ao certo como funciona? Fundindo as máquinas mais velozes do mundo à nanotecnologia e à neurociência, as simulações, hoje, não passam de aproximações. Rascunhos que, como no tal cérebro mecânico do gato, ignoram estruturas e conexões do órgão real."A capacidade computacional da mente é absurda. Por isso, criamos um modelo para tentar entendê-la", defende-se o cientista indiano Dharmendra Modha, chefe do setor de computação cognitiva da IBM e criador do projeto. Para ele, "o cérebro é um paradigma", pois "consegue sentir, perceber, interagir, lidar com ambiguidade e entender contextos" e, mesmo assim, "usar menos energia do que uma lâmpada e ocupar um espaço mínimo".Mais humana
Impensável antes da descoberta da estrutura do DNA, em 1953, a compreensão da mente em termos biológicos é o principal desafio da ciência do século 21. É a possibilidade de entender, finalmente, os caminhos da aprendizagem, da percepção, das lembranças e da consciência, e também a fronteira do livre-arbítrio (afinal, a mente também tem lá seus limites).
Mas e a meta da tecnologia, qual é? Ao que tudo indica, é tentar seguir esses mesmos passos. Mesmo com poder de arquivamento enorme, as máquinas ainda são incapazes de fazer o feijão-com-arroz da mente: pensar, sentir, adaptar-se.
"Não há máquina que tenha visão crítica e ativa da realidade, que generalize e entenda contextos. A nova computação deve evoluir imitando o cérebro", decreta Miguel Nicolelis, chefe do setor de neurociência da Universidade de Duke. O futuro da tecnologia artificial é se tornar um pouco mais humana.
Mente+máquina
Se você pensou em um ciborgue retrô da ficção científica, tão dominado pela tecnologia que perdeu a humanidade, esqueça-o. As interfaces homem-robô há tempos já saíram da imaginação dos escritores para entrar na realidade de pesquisadores.
Os projetos são inúmeros e promissores. Vão de uma cadeira de rodas que permite que pessoas paralisadas a controlem apenas com o pensamento, da Toyota, até um capacete que transforma impulsos cerebrais em tweets (que pode significar um avanço para pessoas paralisadas com atividade mental perfeita).
O próprio Miguel Nicolelis confia na integração mente-máquina para seu projeto mais ambicioso: levar impulsos cerebrais de quadriplégicos a uma estrutura robótica e devolver-lhes o movimento.
Até o consumo deve ser afetado, como mostra uma pesquisa do Intel Labs, de Pittsburgh, que tem o objetivo de "ensinar as máquinas a entender um algoritmo daquilo que pensamos", nas palavras do cientista Dean Pomerleau, cabeça do projeto. A intenção é que, a partir disso, sejam desenvolvidas "interfaces mais ricas que as de hoje", que seriam controladas sem dispositivos.
Aposentar controle remoto, mouse e teclado, além de dar uma esperança para quem perdeu os movimentos, são só algumas das promessas dessa área que não sabe mais se é ciência ou tecnologia (e nem precisa mais).