Cenário ruim
Setor teme desemprego e queda na renda em 2015
Dentro da perspectiva para 2015, a soma de desemprego e queda na renda seria o cenário-pesadelo para os supermercados. Por enquanto, o ramo mantém sua situação privilegiada em relação ao restante do varejo, ainda que o setor tenha se mostrado mais otimista em agosto. Segundo a Confederação Nacional do Comércio (CNC), o índice que mede a intenção de consumo das famílias parou de cair no mês passado. Houve aumento de 0,2% na comparação com julho e queda de 2,1% em relação a agosto de 2013.
Outro dado positivo é o que indica que a massa salarial cresceu mais rapidamente do que a inflação no primeiro semestre. Segundo levantamento do Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese), 93% das mais de 300 categorias avaliadas pelo órgão tiveram ganho real nos salários.
Por isso, a ideia de retomada rápida é recorrente na fala dos empresários. "Não estávamos tão empolgados em relação à economia, mas ela é cíclica: tem crescimento forte e depois queda, fazem-se reajustes e volta a crescer", diz Carlos Tavares, da CSD. A rede pretende manter em 2015 o fluxo dos R$ 60 milhões a serem investidos em uma unidade de distribuição no interior paulista e em reformas de lojas. "Se porventura tivermos desemprego maior e prejuízo à renda, é de se pensar em contenção, mas entendo que não devemos ter grandes problemas", diz.
Política econômica
Mas há incertezas: empresários consultados pela Gazeta do Povo reconhecem que a política econômica a ser adotada em 2015 pode fazê-los rever planejamentos se o poder de consumo do consumidor cair. "Minha maior preocupação é uma recessão gerar desemprego", diz Pedro Joanir Zonta, presidente da rede Condor. O grupo sentiu queda nas vendas de eletrodomésticos no segundo semestre e as vendas de mercearia ainda não cresceram depois da derrocada durante a Copa do Mundo. Mas a rede mantém planos de chegar a 2016 com 45 lojas a meta de 2014 é 40.
Considerados a ponta mais essencial do consumo das famílias, os supermercados sentem os efeitos de um ano que promete ser o menor em incremento de vendas desde 2006. Os índices ainda estão no azul (acima da inflação), mas deixam a desejar em relação aos de anos anteriores. No acumulado de janeiro a julho, o aumento real das vendas do setor registra 1,48% em 2014 contra 4,16% em 2013, por exemplo. O cenário se reflete nas gôndolas que oferecem menos importados e mais marcas baratas e deve influenciar os estoques para o Natal.
INFOGRÁFICO: Veja a expectativa dos supermercadistas sobre as vendas em 2014
A Associação Brasileira de Supermercados (Abras), que previa que as vendas dos setor aumentariam 3% neste ano, recalculou a projeção, no fim de agosto, para 1,9%. No Paraná, porém, os supermercadistas mantiveram os planos de expansão. Como principal argumento, citam a resistência da economia paranaense, que vem crescendo acima da média nacional. "Acreditamos no crescimento do setor e isso justifica investimentos", diz César Tozetto, presidente da Associação Paranaense de Supermercados (Apras).
Outro ponto é a concorrência acirrada no setor a abertura de lojas é estratégica para conquistar espaço no mercado. Há ainda uma terceira explicação, mais pragmática: como as expectativas de vendas do varejo para 2014 ficaram abaixo do previsto, faltou tempo para as empresas refazerem planos. "O varejo expande quando abre e reforma lojas. É o tipo de investimento vultoso e planejado com antecedência. E qualquer ajuste exige timing [tempo hábil]", avalia o especialista em varejo Jorge Inafuco, da PwC.
Por ora, redes paranaenses seguem anunciando investimentos. Na última terça-feira, o grupo Condor abriu uma nova unidade em Almirante Tamandaré, na Grande Curitiba, ao custo de R$ 35 milhões o plano é concluir o ano com três lojas a mais. A Rede Cidade Canção (CSD), de Maringá (Região Noroeste), comprou em junho dez unidades da rede Amigão, do interior de São Paulo. Já o grupo Muffato gastou R$ 30 milhões para reformar seis lojas neste ano e pretende inaugurar outra até dezembro, em Londrina (mais R$ 40 milhões).
Outras redes, como Festval, de Cascavel (Oeste do estado), e Tozetto, de Ponta Grossa, também abriram lojas em 2014. Pelo menos duas empresas Condor e CSD contaram com financiamentos do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).
Menos assíduo
Outro dado da Abras aponta queda no número de vezes em que consumidores vão a supermercados no ano. Entre 2005 e 2010, essa média oscilou entre 14 e 15 vezes. No ano passado, caiu para 13; em 2014, a média até maio aponta 11 idas anuais. Na visão das empresas, essa redução sugere que o consumidor está optando por compras mais "racionais".
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