Motivos

Para muitos usuários, rede privada e pública se complementam

São muitos os motivos que levam os usuários de plano de saúde a procurarem a rede pública de atendimento: hospitais-referência em certos tratamentos e que funcionam bem pelo SUS; proximidade da unidade pública de casa; negativa de cobertura de exames e medicamentos; e casos de acidente, em que as vítimas acabam sendo levadas para hospitais públicos.

No caso do vendedor Guilherme Segala, é o medicamento gratuito que o leva à rede pública. Ele descobriu um diabetes tipo 1 há quase 20 anos e precisa de insulina três vezes ao dia para manter a doença controlada. Para exames e consultas prefere o plano. "Gostaria de não precisar pagar pelo plano de saúde, mas só para você ter uma ideia, eu espero por uma consulta com um endocrinologista pelo SUS há um ano, não consigo ser atendido. Um complementa a falha do outro", conta o vendedor.

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Dos R$ 128 milhões cobrados pela Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) das operadoras de saúde do Paraná entre 2001 e 2010, pouco mais de R$ 13 milhões foram efetivamente pagos – ou 10% do devido. O montante diz respeito a cerca de 60 mil clientes com cobertura particular no estado que, por algum motivo, procuraram o serviço público no período.

Sempre que um paciente com plano de saúde procura o SUS, o governo cobra um ressarcimento do plano de saúde pelo atendimento. A ação está prevista no artigo 32 da Lei dos Planos (9.656/1998), mas é questionada pelas operadoras tanto administrativamente, na ANS, quanto na Justiça.

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Esses questionamentos até o último prazo possível pelas operadoras e também a demora da ANS na identificação dos atendimentos é que causam o déficit no ressarcimento do SUS.

Os últimos dados disponíveis são de 2010 justamente porque entre a notificação do atendimento e a emissão da cobrança a ANS tem levado cerca de dois anos. No país, o montante devido chega a R$ 1 bilhão.

Como funciona

Quem cruza os dados do SUS com os dos planos de saúde é a ANS. Cada aviso de cobrança dá 30 dias para contestação de ambas as partes. As operadoras dizem que os avisos costumam apresentar falhas. Só a Unimed Paraná conta que conseguiu contestar e derrubar a cobrança de metade dos mais de três milhões de atendimentos feitos por seus pacientes na rede pública. Nos últimos 12 anos, a empresa gastou quase R$ 700 mil com o ressarcimento ao SUS. "Esse valor representa pouco, é menos de 1% de todo o nosso custo assistencial. Tem muito problema de homônimo, pessoas com o nome igual", explica.

Para a gerente geral de Ressarcimento ao SUS da ANS, Lenise Secchin, grande parte dos erros ocorre por problemas nas informações prestadas pelas operadoras, por isso o sistema garante tantas possibilidades para contestar as cobranças. "Ao longo do tempo a gente verificou que a questão de homônimos representava apenas 1%, é marginal. A gente quer que as operadoras melhorem. Quanto melhor for a qualidade dos dados enviados para a gente menor o transtorno. A cada ano a agência vem melhorando a identificação dos pacientes. Atualmente, o índice de deferimento das operadoras, que já foi de 50% está em 20%", explica a gerente.

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Avaliação

Para especialista, cobrança é indevida

Para o presidente da Associação dos Hospitais do Paraná e diretor da Fehospar, Benno Kreisel, a cobrança de ressarcimento das operadoras é indevida, já que ter acesso a rede pública é direito de todos os brasileiros. "Ou a gente reembolsa o SUS ou mantém a universalidade de atendimento, manter as duas coisas é contraditório. E o governo cobra da operadora um valor muito maior do que ele repassa para a prestadora. Fizeram disso um negócio", conclui.

A ANS contesta. Para a gerente geral de Ressarcimento ao SUS, Lenise Secchin, a argumentação de que a cobrança é indevida é genérica. "As operadoras podem contestar a tabela, mas para isso precisam dar detalhes, não basta dizer que estão pagando mais do que cobram [pelos procedimentos]. Para contestar as operadoras precisariam abrir a tabela de custos delas, mas não querem expor os valores reais", afirma a gerente.