Escassez de recursos naturais, consciência ambiental e os desafios de se produzir mais e melhor com cada vez menos ou com matérias-primas até então preteridas ou desvalorizadas pelo mercado. Os desafios ambientais fizeram com que, muito mais do que uma estratégia de marketing, a sustentabilidade conquistasse seu espaço no dia a dia de grandes players da indústria e do varejo e receba cada vez mais investimentos na busca por soluções de menor impacto e capazes de proporcionar ao consumidor escolhas mais conscientes.
Um exemplo? No último dia 12 de setembro a Nestlé, gigante da indústria de alimentos, inaugurou o Institute of Packaging Sciences (Instituto de Ciência de Embalagens, em tradução livre) com o objetivo de acelerar e otimizar os esforços em oferecer ao mercado soluções funcionais, seguras e ecologicamente corretas para as embalagens dos produtos da empresa, que tem a ambiciosa meta de tornar 100% delas recicláveis ou reutilizáveis até 2025.
A marca não divulga o valor investido na implantação do instituto, que tem sede na Suíça e trabalhará com projetos para todas as plantas da companhia em parceria com universidades e startups, mas afirma que ele é resultado de um trabalho de pesquisa e desenvolvimento realizado ao longo dos anos. “Temos uma missão forte, a de que nenhuma de nossas embalagens termine [em aterros sanitários]. Ou seja, que possamos entregar um produto de qualidade, que preserve seu sabor, mas que com isso não gere impacto para o meio ambiente”, destaca Cristiani Vieira, gerente de sustentabilidade da Nestlé no Brasil.
No país, 87% das embalagens da companhia já são recicláveis. Além disso, produtos como o Nescau Prontinho já trocaram os canudos plásticos por modelos de papel, que pode ser reciclado. “A legislação [do setor] não permite que utilizemos materiais reciclados para a confecção das embalagens, então investimos em matérias-primas que possam ser recicláveis”, acrescenta Cristiani.
O oposto ocorre com a Renner, uma das maiores varejistas de moda do país. A marca acaba de lançar nova coleção com peças produzidas com fio reciclado e outros materiais com apelo sustentável, como liocel (fibra de origem renovável extraída da madeira), algodão e viscose certificadas e poliamida biodegradável, para citar alguns exemplos.
Identificados com o selo Re - Moda Responsável, lançado em 2018, os produtos também englobam processos e tecnologias que reduzem o impacto ao meio ambiente. Já o selo, por sua vez, vai além deles e chancela todas as iniciativas ambientais da varejista em diversos âmbitos do negócio.
E elas não são poucas. Além das coleções “sustentáveis”, a marca disponibiliza coletores nas lojas para o descarte de frascos de perfumaria, cosméticos e de roupas em desuso pelos clientes, segue um manual de obras baseado em práticas sustentáveis voltadas à redução do consumo de água e energia na construção e reforma das lojas e conta com unidades abastecidas com energia gerada a partir de fazendas solares. A empresa ainda assumiu compromissos para 2021 voltados à redução de emissões de CO² e certificação socioambiental da cadeia de fornecimento.
Todo este conjunto fez com que a Renner se tornasse a única varejista têxtil brasileira reconhecida entre as empresas mais sustentáveis do mundo pelo ranking Dow Jones Sustainability World Index 2019/2020. “As iniciativas da Renner envolvem um trabalho contínuo de pesquisa e desenvolvimento de produtos que é feito em parceria com a nossa rede de fornecedores. Acreditamos que este é o caminho. Quanto mais integrada e engajada estiver a cadeia têxtil, mais viável será para produzir de forma sustentável em larga escala, com benefícios para os clientes e a empresa”, avalia Eduardo Ferlauto, gerente sênior de sustentabilidade da Lojas Renner.
Posicionamento e educação ambiental fundamentam as ações
A maior preocupação e investimento das empresas em produtos e processos ecologicamente amigáveis há tempos deixou de ser uma tendência e já pode ser entendida como algo intrínseco ao dia a dia das companhias. Pelo menos é o que aponta Luiz Macedo, gerente executivo do Centro de Excelência em Varejo da Fundação Getúlio Vargas e pesquisador do programa Varejo Sustentável. Na avaliação dele, dentro de uma linha do tempo, a sustentabilidade podia ser entendida como tendência até por volta de 2010. “A partir daí, as empresas começaram a praticar, a amadurecer a temática e a integrá-la em seus negócios”, aponta.
Com isso, mais do que simplesmente colocar um produto no mercado, as companhias estão se posicionando em relação ao tema e estimulando os consumidores sobre ele. Neste quesito, na opinião do pesquisador, repousa o principal desafio da indústria e do varejo, qual seja, o de comunicar e educar os consumidores para que sejam mais conscientes em suas escolhas.
“Levar isso para a ponta é o grande desafio. As grandes empresas têm o papel de liderar o processo quando falamos em sustentabilidade. Elas educam o consumidor para que ele seja mais consciente, estimulam e integram fornecedores para trazer mais sustentabilidade à cadeia e investem em lojas e operações mais sustentáveis”, destaca Macedo.
Para quem ainda não iniciou este movimento, o especialista faz o alerta de que é preciso se inteirar e aprofundar sobre o tema, além de não tratar a questão como um investimento pontual, mas sim como algo de valor transversal dentro do negócio. “Os consumidores estão cada vez mais conectados aos comportamentos sustentáveis, como a redução do consumo de água e energia e a coleta seletiva, o que faz com que amadureçam cada vez mais suas intenções de compra baseadas nos critérios de sustentabilidade”, completa.
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