O mercado de trabalho brasileiro voltou a dar mostras de fraqueza, com o índice de desemprego subindo para 8,1% no trimestre encerrado em maio, segundo dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do IBGE. Esse número é o maior da série da pesquisa, iniciada em 2012. No mesmo período do ano passado, o índice era de 7%. No total, 8,157 milhões de pessoas estão atrás de emprego no Brasil, um número também recorde.
INFOGRÁFICO: acompanhe a evolução dos indicadores sobre emprego no país
Mas o número de desempregados poderia ser ainda maior caso alguns brasileiros não tivessem recorrido a um “plano B”. Muitos têm passado a trabalhar por conta própria ou até se convertem em empregadores. Na comparação com o trimestre até maio de 2014, essa categoria aumentou 4,4%. Isso significa 934 mil pessoas a mais nessa condição. Os empregadores, por sua vez, cresceram 8,1% no período, um acréscimo de 299 mil pessoas. Por outro lado, em 12 meses até o trimestre encerrado em maio de 2015, 708 mil pessoas deixaram de ser trabalhadores formais no setor privado.
Mesmo assim, a leitura é de que a qualidade do emprego se cai no meio desse processo, já que o trabalhador perde o que se chama de rede de proteção, como o FGTS e o seguro-desemprego, entre outros benefícios. “A pesquisa mostra perda da carteira de trabalho, com queda no emprego. E sabemos que perder carteira de trabalho é perder estabilidade”, disse Cimar Azeredo, coordenador de Trabalho e Rendimento do IBGE.
Na comparação com o trimestre até maio do ano passado, há ao todo 1,269 milhão de pessoas a mais na fila do desemprego, uma alta de 18,4% no período, outro recorde. Isso porque a geração de vagas foi insuficiente para absorver tanta gente que agora sentiu necessidade de buscar uma fonte de renda. “O cenário econômico não está permitindo geração de vagas a ponto de suprir a demanda por emprego. Então, o desemprego está subindo”, explicou Azeredo.
De dezembro para cá, na verdade, houve retração nas contratações. A população ocupada encolheu, sinal de que o mercado de trabalho está perdendo força num ritmo mais veloz. “O aumento da taxa de desocupação teve um processo de aceleração forte”, reconheceu o pesquisador.
Dispensas
As dispensas são a principal razão para o aumento do desemprego, embora a maior procura signifique uma pressão adicional. “O que explica essa alta, no momento, são as demissões”, avaliou o economista André Gamerman, da Opus Gestora de Recursos. Segundo ele, o regresso ao mercado de pessoas que antes optavam por não trabalhar é um “processo natural” diante da desaceleração da economia.
A queda na renda também aprofunda a situação de dificuldade financeira das famílias. No trimestre até maio, o rendimento médio dos trabalhadores recuou 0,4% em relação a igual período de 2014, já descontados os efeitos da inflação. Ou seja, os brasileiros conseguem consumir menos do que há um ano com seus ganhos.
Para os próximos meses, a previsão é de que a deterioração nesse cenário vai continuar. “A tendência é piorar”, disse Luciano Nakabashi, professor da Universidade de São Paulo e pesquisador da Fundação de Pesquisa e Desenvolvimento da Administração, Contabilidade e Economia (Fundace/USP). “O emprego responde depois do PIB, da geração de renda. E esse ano o PIB está em queda.”