O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central reduziu o ritmo de queda dos juros ao anunciar, nesta quarta-feira (5), o corte de 0,25 ponto percentual na taxa Selic, para 11,25% ao ano. Nas duas reuniões anteriores do Copom, em junho e julho, os juros haviam caído 0,5 ponto percentual em cada uma.
Com a decisão desta quarta, que veio em linha com o que acreditava a maior parte dos analistas do mercado financeiro, o BC está há dois anos, sem parar, reduzindo os juros. A redução começou em setembro de 2005. Entretanto, o mercado acredita que esse processo será interrompido ainda neste ano. Até o momento, a aposta é que acontecerá em dezembro, na última reunião de 2007.
Alguns economistas já acreditavam, porém, que a subida da inflação nos últimos meses, em conjunto com as turbulências externas, pudesse interromper o corte dos juros já na reunião deste mês. A decisão de corte de 0,25 ponto percentual na Selic nesta quarta foi tomada de forma unânime pelos membros do Copom - algo que não acontecia desde março deste ano.
Ao final do encontro, foi divulgada a seguinte frase: "O Copom avaliou a conjuntura macroeconômica e considerou que, neste momento, o balanço de riscos para a trajetória prospectiva da inflação ainda justificaria estímulo monetário adicional. Dessa forma, o Comitê decidiu, por unanimidade, reduzir a taxa Selic para 11,25% ao ano, sem viés. O Comitê irá monitorar atentamente a evolução do cenário macroeconômico até a sua próxima reunião para então definir os próximos passos na sua estratégia de política monetária".
Definição da taxa de juros
O BC define a taxa de juros com base no sistema de metas de inflação. Para este ano e para 2008, a meta central estabelecida é de 4,5%. Como existe um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima e para baixo, pode ficar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida.
Ao baixar os juros, o Banco Central estimula o consumo e, ao elevá-los, impede o crescimento dos gastos da população e, conseqüentemente, controla a inflação.
Neste momento, o Banco Central já está mirando na meta de inflação de 2008, visto que existe uma defasagem de seis meses para que um corte dos juros tenha impacto pleno na economia. A estimativa de inflação do mercado financeiro para o próximo ano está em 4%, - abaixo, portanto, da meta central de 4,5%.
Sinal amarelo
Apesar de a projeção do mercado para o IPCA do próximo ano ainda estar abaixo do centro da meta, a aceleração dos preços nos últimos meses tem causado preocupação no governo. Nesta terça-feira, por exemplo, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, defensor da queda dos juros, admitiu que a inflação acendeu o "sinal amarelo".
Nesta quarta, por sua vez, foram divulgadas informações sobre o Índice Geral de Preços Disponibilidade Interna (IGP-DI). No acumulado dos oito primeiros meses deste ano, o índice subiu 3,24% e, em doze meses até agosto, 5,19%. Embora o Copom se guie pelo IPCA, a subida do IGP-DI certamente não é favorável ao processo de redução dos juros.
Entre os produtos que estão pressionando os índices de inflação estão: leite e derivados, carne, milho, soja e trigo. Em todos os casos, os preços estão subindo por causa da "entressafra", que gera menor oferta, e, também, por conta do aumento da demanda externa pelos produtos.
Além da alta dos preços, as turbulências externas também não são favoráveis à política de corte de juros. Isso porque tendem gerar tensão e a diminuir a taxa de crescimento da economia mundial. Também contribuem para um ingresso menor de recursos no Brasil e, com isso, para a elevação a taxa de câmbio - que pode ter impacto na inflação.
Juros reais
Em 11,25% ao ano, a taxa básica de juros brasileira cai, de novo, ao seu menor nível da história. Segundo a consultoria Up Trend, no caso dos juros reais, com a inflação já descontada, o Brasil continua em segundo lugar no ranking mundial, sendo superado apenas pela Turquia.
Os juros reais brasileiros caíram para 7,3% ao ano com a decisão de hoje do Copom. Segundo a consultoria, abaixo dos 9,4% ao ano da Turquia. Em terceiro e quarto lugares, respectivamente, vêm a Austrália e a Inglaterra, com 4,6% e 4,4% ao ano respectivamente.
Juros altos geralmente atraem recursos para o país em questão. Entretanto, as turbulências externas interromperam, em agosto, o ingresso de aplicações financeiras na economia brasileira.