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Mercado de trabalho

Por que o Brasil não sai da faixa dos 13 milhões de desempregados?

Milhares de brasileiros participam de mutirão de emprego organizado pela prefeitura de São Paulo, em março de 2019, no Vale do Anhangabaú.
Milhares de brasileiros participam de mutirão de emprego organizado pela prefeitura de São Paulo, em março de 2019, no Vale do Anhangabaú. (Foto: Luiz Guadanoli/Secom) (Foto: )

A retomada da economia no período pós-recessão tem caminhado a passos tão lentos que já se discute se o Brasil estaria indo rumo à estagnação ou depressão econômica. E um dos aspectos mais perversos desse cenário é a falta de trabalho. De 2017 pra cá, a taxa de desemprego recuou levemente, mas estacionou na casa dos 13 milhões de brasileiros, de acordo com dados da Pnad, do IBGE. O pior? A recuperação tímida dos empregos ocorreu com o aumento da informalidade.

Essa é a análise da Instituição Fiscal Independente (IFI), publicada no Relatório de Acompanhamento Fiscal (RAF) de julho. Esmiuçando dados do IBGE, a IFI mostrou que o desemprego no Brasil parou de cair a partir de 2018. A comparação vem com o período de agravamento da crise econômica brasileira, ainda em 2014, que fez com que o contingente de pessoas que estavam sem emprego, mas que procuravam por trabalho, crescesse rapidamente, até chegar aos 14 milhões de desempregados em 2017.

O fim da recessão e uma suave retomada da economia reduziu um pouco esse batalhão de desempregados ao longo de 2018, mas os indicadores estacionaram. “A interrupção da queda do estoque de desocupados e, portanto, da taxa de desemprego a partir do início de 2018 ocorreu em função da frustração do crescimento da economia, atingida por choques cujos efeitos ainda não se dissiparam completamente”, avalia a IFI.

Informalidade em alta, desalento e salários estagnados

Outros dados mostram como é inconstante a recuperação do mercado de trabalho, com o aumento da informalidade, o desalento na busca por emprego e a estagnação salarial. Como observa a IFI, é comum que o mercado responda com bastante atraso às mudanças de rumo da atividade econômica. Em 2017, no caso, a tímida recuperação do setor limitou-se ao aumento da informalidade, conforme dados da Pnad, do IBGE.

O que aconteceu nesse período foi um aumento do estoque de trabalhadores que não possuem carteira assinada e declaram trabalhar por conta própria. Um dos indicadores selecionados pela IFI mostra que nos 12 meses encerrados em maio, o número de ocupados sem carteira no setor privado e os trabalhadores por conta própria cresceram 3,9% e 3,3%, respectivamente. No mesmo período, a quantidade de trabalhadores com carteira assinada no setor privado recuou 0,1%. “Trata-se, em suma, de uma evidência da fraqueza da economia, que continua incapaz de absorver trabalhadores nos setores formais de atividade”, observa a instituição.

Essa estagnação é observada também nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). O saldo de trabalhadores com carteira assinada, admitidos e desligados, é de 474,3 mil, de acordo com os dados do acumulado em 12 meses até maio.

Apesar do número positivo, é um recuo do que foi registrado no mês anterior e mostra a dificuldade de se manter um patamar de geração de emprego formal: enquanto o saldo entre contratações e demissões em abril chegou a 129,6 mil, o número recuou para 32,1 mil no mês de maio. Isso demonstra que o mercado não consegue absorver os novos trabalhadores e gerar vagas para aqueles que estão desocupados, mas buscando emprego.

Esse movimento tem dois efeitos práticos que podem ser sentidos em pontas opostas do mercado. Por um lado, cresce o número de desalentados, aquelas pessoas que já desistiram de procurar emprego. No Brasil, são 4,9 milhões de pessoas nessa situação, recorde da série histórica.

De outro, a situação inconstante traz efeitos para os salários reais, que ficam estagnados. Especificamente em maio, ainda de acordo com a Pnad, o rendimento médio real recuou 0,1% no trimestre móvel encerrado em maio, na comparação com o mesmo período de 2018. Para os trabalhadores com carteira assinada, a queda foi de 1%. Para a IFI, demonstração da perda do poder de barganha dos trabalhadores.

Regionalismos pesam no mercado

A análise da IFI sobre o mercado de trabalho mostra que esses indicadores têm evolução distinta entre as regiões do país. Os dados da Pnad Contínua, na comparação dos últimos quatro trimestres encerrados em março de 2019, mostram que o emprego cresceu com mais força na região Centro-Oeste, que teve alta de 2,7% no primeiro trimestre deste ano. O resultado foi mais modesto no Nordeste (+0,9%) e no Sul (+0,3%).

O desemprego nas regiões Norte, Nordeste e Sudeste, por exemplo, está relativamente acima da média nacional. O pior desempenho é do Nordeste, em que a taxa chegou a 15,3% no trimestre encerrado em março. E o comportamento do mercado é diferente em cada região. No Norte, a taxa subiu nos últimos dois trimestres e no Centro-Oeste, houve aumento apenas nos primeiros três meses de 2019. Nas demais regiões, há redução na taxa há pelo menos dois trimestres.

Na outra ponta, a massa de salários cresceu mais no Nordeste – um avanço de 3,2% nos três primeiros meses de 2019. Em contrapartida, o menor desempenho foi registrado no Norte, com alta de 1,6%.  A massa de rendimentos efetivos, por sua vez, exibiu maior vigor de expansão no Nordeste nos primeiros três meses de 2019 (+3,2% na comparação de quatro trimestres), enquanto a menor taxa nessa base de comparação foi apurada na Região Norte (+1,6%).

A IFI pondera que é preciso analisar com mais profundidade os dados, mas é possível chegar a algumas conclusões preliminares. “Parece haver evidências de uma maior associação entre o pior desempenho relativo das vendas no varejo no Nordeste ao maior desemprego registrado naquela região, assim como menores taxas de expansão da ocupação no mercado de trabalho. Ao mesmo tempo, menor taxa de desemprego e maior aumento da massa salarial na Regiões Sul têm sustentado maiores taxas de expansão no consumo da região, relativamente às demais regiões do país”.

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