Ribeirão Preto O aumento da área de cana-de-açúcar e a onda do combustível renovável, provocada pela demanda de etanol nos Estados Unidos e biodiesel no Brasil, são responsáveis por uma reestruturação que começou no campo e agora chega à indústria de máquinas. O novo cenário, com lançamentos exclusivos para a cultura e que saem da fábrica com tecnologia para biodiesel, está sendo apresentado e discutido na Agrishow Ribeirão Preto, maior feira de tecnologia agrícola da América Latina, que ocorre no interior de São Paulo.
Para algumas marcas, tradicionais no setor de grãos, a cana já representa mais da metade do faturamento. O aquecimento nas vendas de máquinas para esse fim se justifica na ampliação da área destinada à cultura, proibição da queimada nas lavouras, escassez de mão-de-obra, e busca de produtividade. São mudanças que vêm sendo incorporadas pela cadeia produtiva e que exigem mecanização, explica Fábio Borgonhone, gerente de marketing da Case, indústria do Grupo CNH que responde por mais de 60% do mercado brasileiro de colheitadeiras de cana.
No país, a colheita mecanizada atinge 35% do total cultivado. Em São Paulo, maior produtor, 40%; e no Paraná, próximo de 10%. A área saltou de 6 milhões de hectares no ano passado, para 7,2 milhões este ano. Desse total, calcula-se que 4,1 milhões possam ser mecanizados 3,1 milhões seriam zonas marginais, onde a topografia limita a utilização de máquinas. De acordo com Borgonhone, seriam necessárias mais 1,2 mil colheitadeiras para atender somente a área existente, sem expansão nem renovação de frota. No ano passado, 50% do faturamento da Case veio das vendas para o setor canavieiro. Em 2007, mesmo com a recuperação dos grãos, a expectativa é que essa relação na receita da empresa se mantenha devido à expansão da área.
No caso da Valtra, a cana sustentou 51% dos negócios no primeiro trimestre deste ano. "As vendas estão ligadas a um segmento muito forte e aquecido", destaca Orlando Capelossa, diretor de vendas da empresa. De janeiro a março, a montadora vendeu 860 máquinas para uso na cana, ante 780 em igual período do ano passado. O faturamento total em 2006 foi de US$ 265 milhões. Para 2007 a expectativa é crescer de 15% a 20%, numa estimativa baseada na projeção de vendas para usinas e canavieiros.
A mecanização da colheita de cana já vem de pelo menos 10 anos. A novidade agora é o plantio mecanizado, que de maneira comercial começou na última safra. Na Agrishow, um dos destaques das dinâmicas de campo foram justamente as plantadeiras, que, assim como as colheitadeiras, têm como principal apelo a produtividade. Enquanto um homem corta de 8 a 10 toneladas de cana por dia, uma máquina colhe até 1 mil toneladas/dia. O argumento da indústria e do próprio produtor sobre a questão social com a eliminação de milhares de postos de trabalho é que hoje não existe mão-de-obra disponível para trabalhar como cortador de cana.
As máquinas e exposições da Agrishow comprovam a tese da indústria sobre a produtividade, mas também revelam que mecanizar os canaviais não sai barato. O preço médio de uma máquina para colher cana varia entre R$ 700 mil e R$ 900 mil, de acordo com a marca e configuração do trator e dos equipamentos.
Serviço A Agrishow teve início na segunda-feira e prossegue até sábado. A expectativa da organização é receber 140 mil vistantes.