Paula Pedroza criou a startup após passar por uma aceleração no Vale do Silício| Foto: Divulgação Audima

Sabe aquela análise de 10 mil palavras sobre o governo Trump que você salvou há meses, para ler "quando estiver com tempo livre"? É um drama que a carioca Paula Pedroza conhece bem. Por isso ela criou uma tecnologia para ler sites em voz alta de um jeito natural, sem o tom robótico dos leitores de tela tradicionais. A Audima, sua startup, foi fundada há um ano, no Vale do Silício. 

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Os americanos gostaram da ideia. Dois investidores do Vale — além de outros dois no Brasil — injetaram dinheiro na Audima assim que Paula se "graduou" na aceleradora onde a ideia foi incubada. Além do foco na acessibilidade — ajudar pessoas com alguma limitação na visão — a Audima tenta atingir leitores que não têm muito tempo, ou até que preferem consumir informação em áudio. 

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É a mesma lógico dos audiolivros. É uma indústria que está crescendo porque muita gente prefere ouvir uma obra que está sendo contada em voz alta, mesmo que o livro possua versão em texto. A startup 12minutos, por exemplo, que resume bestsellers em “microbooks” para serem lidos em pouco tempo, disponibiliza versões em áudio de todas as obras.

A startup quer permitir que qualquer texto escrito seja ouvido como um audiolivro. A tecnologia de leitura de tela já existe, e é até popular — é assim que as pessoas cegas utilizam o celular, por exemplo. Mas essas aplicações normalmente descrevem tudo que está na página (“é até meio enlouquecedor”, comenta Paula), além de terem voz metalizada, não natural.

A Audima disponibiliza um player que precisa ser instalado no site para que ele forneça a opção de leitura em voz alta. Quando o usuário entra numa página de texto, encontra a opção “ouça este conteúdo”. É só dar o play.

A ferramenta está disponível em sites de notícia e educação. O site do Arquivo Nacional, por exemplo, instalou recentemente o plugin da Audima (na versão com voz metalizada). Outras páginas, como a da Sociedade Brasileira de Inteligência emocional, oferecem a opção com voz natural. 

Há uma versão grátis, com propaganda; e outra paga, em que é possível escolher a voz e até alterar a velocidade de leitura. O player precisa ser instalado no código do site. Mas é uma operação simples, que pode ser feita em três passos, segundo Paula. Uma nova versão, para celular, deve ser lançada até o meio do ano, com a opção de ler qualquer site. 

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Nos dez primeiros meses, a barra de play da Audima foi visualizada 250 milhões de vezes, segundo estimativa da própria startup. O serviço foi utilizado oito milhões de vezes. Os sites que pagaram pela ferramenta pagam um valor médio de R$ 19,90. As variações nos valores ocorrem, geralmente, pela quantidade de conteúdo que o site produz. 

Acessibilidade e impacto social

Uma das motivações de Paula para criar a startup foi o impacto social. A Audima quer chegar a muitos públicos, e um deles é o de pessoas cegas ou com baixa visão, que dependem deste tipo de aplicativo para conseguir navegar na internet.

É uma população gigante — o IBGE estima que 19% dos brasileiros têm algum tipo de deficiência na visão — e, muitas vezes, desassistida. “Já recebemos feedback de pessoas que tiveram mais facilidade na interpretação do texto quando estudava para a escola”, conta Paula.

O fato do leitor da Audima ter uma voz que se assemelha à humana, e que consegue respeitar o ritmo do texto, faz com que ele crie uma melhor experiência de leitura. “Há uma conscientização no mundo todo de que empresas que buscam impacto social também podem ser lucrativas. E a gente é isso. Somos super atraentes para investidores”, defende a CEO.

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A conquista do Vale 

A carioca Paula Pedroza tem 37 anos, se graduou em desenho industrial e estudou psicologia. Mas foi no empreendedorismo que se encontrou. A ideia da Audima surgiu em 2016, a partir de uma dor dela própria: "Eu sempre fui uma pessoa auditiva, gosto de estar no carro ouvindo conteúdos, Youtube. Mas as vezes demora até que um assunto vire livro e seja publicado". Ela queria algo mais versátil. 

O modelo do negócio foi maturado dentro GSV Labs, uma aceleradora de startups no Vale do Silício. Numa seleção com centenas de candidatos do mundo todo, apenas 14 projetos foram selecionados. Paula (uma das duas únicas mulheres da turma) ficou imersa no projeto de setembro de 2016 a janeiro de 2017, quando apresentou a ideia para investidores. Saiu dos EUA com duas propostas de investimento-anjo. 

Mas a empreendedora fez questão de buscar ajuda também no Brasil. Dois investidores locais participaram da rodada inicial, e foi em solo brasileiro que ela lançou a primeira versão da Audima. No escritório do Rio de Janeiro ficam lotadas as oito pessoas da equipe que cuidam de desenvolvimento, vendas e marketing. A sede da empresa é nos Estados Unidos.

Em abril, a empresa lançou uma versão norte-americana do seu aplicativo. A ideia é entrar no mercado dos Estados Unidos para chegar a outros países de língua inglesa.

“A gente quer ser uma empresa global. E vimos que a melhor maneira de fazer isso é ter esta presença no Vale do Silício, mas sem perder as nossas raízes que são no Brasil. Porque eu quero que o Brasil seja global, também. Um exemplo é o Spotify, que é da Suécia, mas chama a atenção do mundo todo”.

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Paula estava em São Francisco quando conversou com a Gazeta do Povo. Além de manter a rede de contatos em dia, ela busca investidores para uma nova rodada, desta vez de “pré-seed”. Assim como fez quando recebeu investimento anjo, a empreendedora também deve receber dinheiro de brasileiros nesta etapa.