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Tecnologia vai modificar drasticamente o mercado de trabalho até 2020

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Os avanços tecnológicos vão eliminar milhões de empregos. O leitor já ouviu essa previsão antes e a história do capitalismo está cheia delas. A diferença, desta vez, é que o alerta vem do Fórum Econômico Mundial, um tradicional defensor do liberalismo econômico.

No relatório “O Futuro do Trabalho”, publicado em janeiro, o Fórum diz que a economia mundial sentirá os efeitos da Quarta Revolução Industrial, que promete ser muito mais rápida, abrangente e impactante que as anteriores. É muita coisa ao mesmo tempo: computação em nuvem, Internet das Coisas, Big Data, robótica, inteligência artificial, impressão em 3D, biotecnologia e afins.

Até 2020, calcula o Fórum, essas tecnologias vão eliminar 5,1 milhões de vagas em 15 países e regiões que respondem por dois terços da força mundial de trabalho, incluindo o Brasil. A projeção, baseada em pesquisa com executivos de 2.450 companhias, poderá se revelar um fracasso, com os números “reais” ficando muito abaixo ou acima disso. Mas as advertências têm fundamento.

Diversos estudos sugerem que, ao longo do tempo, a inovação tem mais efeitos positivos que negativos sobre o nível do emprego. As ocupações extintas são substituídas por outras, ligadas a novos mercados. O problema é que, como os avanços atuais ocorrem num ritmo sem precedentes, a transição tende a ser mais traumática. Quem for dispensado pode demorar mais para se recolocar, engrossando por um bom tempo um exército de desempregados do planeta, estimado em 197 milhões de pessoas pela Organização Internacional do Trabalho.

“O crescimento do emprego deve vir de pequenas famílias de cargos altamente qualificados, incapazes de absorver as perdas vindas de outras áreas”, prevê o Fórum. De um lado, ele projeta a eliminação de quase 7,2 milhões de postos de trabalho, principalmente em cargos de escritório, mas também na indústria de transformação, na construção, na indústria extrativa e em áreas menores. Em contrapartida, serão admitidos pouco mais de 2 milhões de profissionais de computação, matemática, gestão, engenharia e outros.

O economista Naercio Menezes Filho, coordenador do Centro de Políticas Públicas do Insper, tem uma visão mais otimista. Ele concorda que a tecnologia deve provocar um aumento no desemprego num primeiro momento, mas vê uma reversão na sequência. “Quem para de desempenhar tarefa em um setor acaba migrando para outro”, diz.

Novas tecnologias levam à racionalização de processos, o que reduz a necessidade de mão de obra. Mas elas também levam à criação de produtos, serviços e empresas, abrindo novas frentes de expansão.

Raul Luís Assumpção Bastos, economista da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul.

Por um lado, novas tecnologias levam à racionalização de processos, o que reduz a necessidade de mão de obra. “Mas elas também levam à criação de produtos, serviços e empresas, abrindo novas frentes de expansão”, diz o economista Raul Luís Assumpção Bastos, da Fundação de Economia e Estatística (FEE) do Rio Grande do Sul. Sem o automóvel, que acabou com os condutores de charretes, não existiria emprego em montadoras. Sem a internet móvel, que provoca demissões nas operadoras de telefonia fixa, não haveria tanta gente desenvolvendo aplicativos para smartphone.

Qualificação

Apesar desse viés otimista, os melhores empregos vão exigir muito mais qualificação. O relatório do Fórum adverte que, “sem uma ação urgente para gerenciar a transição de curto prazo e construir uma força de trabalho com habilidades ‘à prova de futuro’, governos terão de lidar com desemprego e desigualdade crescentes e as empresas, com o encolhimento da base de consumidores”.

Ainda que todos os deslocados pela tecnologia consigam um novo trabalho, muitos terão de se conformar com ocupações e salários inferiores. A renda média corre o risco de ficar estagnada, ou até cair, nesta nova revolução. “Nos anos dourados das economias capitalistas, entre 1945 e 1970, tivemos um processo de expansão capaz de incorporar trabalhadores pouco qualificados. Hoje isso é muito limitado”, diz Bastos, da FEE.

Segundo Bruno Melo, diretor executivo da consultoria Thomas Case & Associados, o profissional terá de ampliar o leque de competências. “Não bastará o conhecimento técnico específico de uma área. Ele terá de se familiarizar com diferentes processos, participar da tomada de decisões.”

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