A telefonia e o acesso à internet no Brasil ainda estão entre os mais caros do mundo e os custos freiam a capacidade de garantir que os serviços cheguem a toda população.
A desigualdade social é traduzida também para uma desigualdade digital profunda. O alerta é da União Internacional de Telecomunicações (UIT), em um estudo publicado em Genebra.
No Brasil, o custo da internet para a população mais carente é 20 vezes o peso que o mesmo serviço representa para os mais ricos. E 44% das pessoas que têm computador em casa não conseguem pagar uma assinatura para ter internet.
O documento revela que o custo de uma ligação pelo telefone celular no Brasil é superior a todos os países europeus e consome uma proporção maior da renda que em países como Cuba, Paquistão, Argélia ou Guiné Equatorial.
De 166 países avaliados, apenas 47 deles têm um custo superior na ligação ao que o brasileiro paga no celular, entre eles Etiópia, Albânia, Ruanda e Madagascar. Os locais onde a ligação tem o menor custo são Macao, Hong Kong e Dinamarca.
Comparação
O pacote que serve de comparação seria a assinatura mensal de um celular, com 30 ligações por mês, mais 100 mensagens de texto. O valor médio do serviço no Brasil chegaria a US$ 48,32 por mês ao final de 2013. Em comparação à renda média do país, isso representa um custo pensar de 4,96%.
Em Macau, o mesmo serviço custa menos de US$ 6 e representa meros 0,11% da renda. Em pelo menos 36 países, o custo de um pacote parecido sairia por menos de 1% da renda mensal de um trabalhador.
Telefonia fixa
O Brasil ainda está em uma situação incômoda no que se refere aos custos da telefonia fixa. Dos 166 países avaliados, o Brasil aparece apenas na 110ª posição, com um custo de US$ 24 por uma assinatura mensal, mais 30 minutos de ligações locais. Isso representa 2,50% da renda média de um trabalhador.
No Irã, a taxa sai por apenas doze centavos de dólares por mês, contra 24 centavos em Cuba. Nesses países, a telefonia fixa custa por mês entre 0,03% e 0,05% da renda média. Numa conta geral, o Brasil aparece na 90ª posição entre os 166 países avaliados no que se refere ao custo da telefonia.
Hoje, são 22 telefones fixos para cada 100 pessoas. O número de celulares é de 135 para cada cem habitantes. Em 2012, a taxa era de 125.
Internet
No que se refere à internet, o Brasil registrou pela primeira ao final de 2013 mais de 50% de sua população conectada à rede. Em 2012, a taxa era de 48% e, no ano passado, a penetração chegou a 51%. E 42% tinham acesso à rede.
A taxa da sociedade brasileira com computadores em casa passou de 45% para 48% entre 2012 e 2013. No que se refere à banda larga fixa, o serviço atende a 10% dos brasileiros em suas residências. Já a internet rápida sem fio teve uma expansão e atinge 55% da população.
Em 2012, eram apenas 33% os brasileiros com o serviço. Essa situação permitiu que o Brasil subisse da 67ª posição em 2012 para a 65ª em 2013 no ranking das economias mais preparadas para usar as tecnologias da comunicação.
Mas o Brasil ainda é superado pelo Azerbaijão, Romênia e Argentina. O ranking é liderado pela Dinamarca, seguido pela Coreia do Sul e praticamente todos os países ricos. A Europa continua sendo a região onde a tecnologia da informação é mais avançada. Mas, uma vez mais, o custo é um obstáculo para o avanço das comunicações no Brasil.
Segundo a agência, "o preço continua uma barreira ao acesso à internet em casa em muitos países em desenvolvimento". "No Brasil, por exemplo, 44% das pessoas entrevistadas que tinham computadores em casa indicaram que não tinham internet por considerar o preço alto demais ou acima de suas possibilidades", indicou.
Se no Brasil 42% da população tem internet em casa, a taxa nos países ricos é de 78%. Na média mundial, o ano de 2014 deve terminar com 44%, contra 40% em 2013 e 30% em 2010.
O custo da banda larga no Brasil representa 1,42% da renda mensal média, o que coloca o país na 46º posição numa classificação onde o serviço é mais caro.
Na Áustria, onde a banda larga é a mais barata do mundo, o serviço consome apenas 0,13% da renda média mensal de um trabalhador. O preço da banda larga no celular no Brasil também está entre os mais caros.
Numa classificação de 166 países, o Brasil aparece apenas na 102ª posição. O custo representa 4,14% da renda mensal de um trabalhador brasileiro.
Segundo a UIT, entre 20% e 30% da população ainda considera que os serviços são caros demais para que possam pensar em ter um celular com internet rápida.
Contraponto
O SindiTelebrasil, sindicato que reúne as operadoras de telefonia no país, rebate os dados divulgados pela UIT. Segundo o órgão, o preço médio do minuto do celular no Brasil é de cerca de US$ 0,07, o que representaria 13% do preço apontado pelo levantamento internacional.
"A diferença de preços pode ser explicada pela metodologia utilizada pela UIT, que provoca uma distorção nos resultados ao levar em conta os planos 'homologados' pela Anatel, que são uma espécie de preço-teto do minuto da telefonia móvel, e não os valores efetivamente praticados no mercado brasileiro", defende o SindiTelebrasil, em nota divulgada nesta segunda-feira (24).
O sindicato das empresas leva em consideração um estudo elaborado pela consultoria Teleco, que aponta que o minuto do celular no Brasil é o quarto mais barato do mundo - no entanto, são considerados apenas 18 países, enquanto o estudo da UIT avaliou 116 países.
De acordo com o estudo da Teleco, feito diretamente nos sites das prestadoras de cada país, o preço do minuto no Brasil é de US$ 0,07, ficando atrás apenas da China, Índia e Rússia. O valor leva em conta dados de tráfego que mais se assemelham ao perfil de uso do celular no Brasil e já inclui os tributos.