A Telefónica ainda pode derrubar o veto do governo português, que barrou a venda da participação da Portugal Telecom na Vivo para o grupo espanhol, apesar de a proposta de 7,15 bilhões de euros ter sido aprovada por 73,9% dos acionistas presentes na assembleia realizada nesta quarta-feira(30).
Segundo analistas de mercado, a Telefónica pode entrar com recurso no Tribunal de Justiça da União Europeia para tentar reverter a situação, ancorada na expressiva aprovação dos acionistas da PT para o fechamento do negócio. "Existe uma opção de recurso que a Telefónica pode impetrar contra esse veto e reverter essa negativa do governo", afirmou Elia San Miguel, analista de telecomunicações da consultoria Gartner. "O fato de os acionistas terem aceito (a proposta), pelos cálculos financeiros, a oferta de 7,15 bilhões é considerada justa, é um valor factível interessante", observou.
Outro ponto a favor da companhia espanhola é o fato de a Comunidade Europeia ter sido categórica ao expressar sua posição contrária ao uso de golden share, por considerar um instrumento incompatível com a legislação europeia. E no próximo dia 8 o Tribunal de Justiça europeu deve se pronunciar sobre a questão, o que levou muitos analistas a pensarem que a estratégia da Telefónica foi milimetricamente calculada, contando com uma revisão do veto português pela Justiça.
O assunto já estava no radar do tribunal, independentemente da assembleia da PT, mas para a Telefónica pode ter sido uma "feliz coincidência". "Se a decisão do tribunal estava marcada para o dia 8, pode ter sido uma estratégia para mostrar ao mercado que o uso da golden share prejudica o mercado", avalia Wagner Teixeira, sócio e diretor geral da Höft - Bernhoeft, Passos & Teixeira consultoria societária. "Como vai ter uma sessão específica para isso, pode ter sido calculado", reforçou.
Para especialistas, outro indício foi o anúncio feito pela espanhola da prorrogação do prazo para os portugueses aceitarem a oferta até o dia 16 de julho. A validade anterior da proposta, que foi majorada na última hora, na véspera da assembleia, de 6,5 bilhões de euros para 7,15 bilhões, expirava em 2 de julho. Essa estratégia pode ter sido adotada diante da dúvida se a decisão do tribunal teria efeito retroativo no resultado da assembleia desta quarta-feira. Para Elia San Miguel, esse recurso seria mais um passo para a Telefónica conseguir fazer valer sua proposta. "O veto da PT não seria o ponto final dessa história", reforçou.
Apesar de a Telefónica ter sido enfática em dizer que 7,15 bilhões de euros é seu único lance, já há rumores no mercado de que o grupo espanhol poderia elevar a oferta para arrematar a Vivo. "Embora a Telefónica tenho dito que não elevará mais a cota, é claro para nós do mercado que a Telefónica vai perseguir várias tentativas, até conseguir", observou. Julio Püshel, analista sênior da Informa Telecoms & Media, pondera que o páreo para convencer a Comunidade Europeia a derrubar o veto do governo português será duro. "O governo português tem um argumento forte: a Vivo representa mais de 50% do faturamento da Portugal Telecom.
Apesar de os acionistas receberem muito dinheiro nesse primeiro momento, isso não significa um aumento de receita no longo prazo, pois a principal fonte vai secar", afirmou. Para Jacqueline Lison, analista de telecomunicações do Banco Fator, porém, o fato de as ações da Vivo e da Telesp terem fechado em alta ontem são bons indicadores de que "a oferta será concluída"
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