A Telefônica anunciou que está disposta a pagar até R$ 6,5 bilhões aos acionistas da GVT para comprar a operadora paranaense de telefonia fixa e banda larga. A oferta dos espanhóis compromete as negociações em curso entre GVT e a francesa Vivendi, que fecharia a aquisição por R$ 5,4 bilhões (2 bilhões de euros).
Apesar da proposta agressiva a GVT informou ter recebido a notícia por meio do comunicado da Telefônica à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) , especialistas afirmam que a movimentação era previsível, uma vez que a empresa nacional é a única do setor em expansão no Brasil. "A cada trimestre a GVT apresenta bons índices, ganhando clientes, ampliando a margem e aumentando a receita", cita o analista da consultoria IDC Brasil João Paulo Bruder.
Ainda assim, chama atenção de ser muito raro no Brasil esse tipo de oferta, em que os compradores simplesmente vão ao mercado anunciando a intenção de ficar com as ações sem antes negociar com os controladores. Alguns operadores do mercado financeiro chegaram a dizer que é a primeira vez que esse tipo de procedimento, conhecido como Oferta Pública de Ações (OPA), acontece de fato no Brasil.
"A Telefônica já estava estudando essa proposta há tempo; demorou menos de um mês para maturar a ideia e fazer as contas em cima da proposta da Vivendi. Certamente ela levou a sério o perigo de um novo competidor europeu no seu mercado brasileiro", diz Bruder, da IDC. Para o sócio da corretora DLM Invista, Luiz Fernando Iani, a Telefônica sempre foi número um na lista de prováveis compradores da empresa paranaense. "A estrutura da GVT é uma oportunidade única para os espanhóis, que detêm a concessão do serviço em São Paulo, entrarem em outros mercados", analisa. A GVT opera hoje nas Regiões Sul e Centro-Oeste, além dos estados de Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, Acre, Rondônia e Tocantins. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, a operadora presta serviço para o mercado corporativo. A Telefônica, por sua vez, é responsável pelas operações da Telecomunicações de São Paulo (Telesp), com atuação no mercado paulista também controla o portal Terra e a operadora de telefonia móvel Vivo.
Capital pulverizado
A GVT tem 65% de seu capital nas mãos de investidores independentes. O restante pertence aos controladores, a holandesa Global Village Telecom e as americanas Swarth Investments e T Rowe Price Inc. A partir de agora, os acionistas têm de analisar as duas propostas até 18 de novembro. Esse também é o prazo para a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), que terá de avaliar a nova oferta sob o ponto de vista regulatório.
Para avançarem, as negociações pressupõem a retirada de uma cláusula existente no estatuto da companhia brasileira. Ela impõe uma barreira, conhecida no mercado financeiro como "poison pill" (pílula do veneno), segundo a qual a GVT só pode ser vendida caso o interessado pague R$ 52 por ação.
Vencida essa etapa, caso 51% dos acionistas da opera dora paranaense vendam seus papéis, a Telefônica passa a ser dona da GVT. A proposta dos espanhóis é de R$ 48 por ação R$ 6 acima da oferta da Vivendi. Ainda não há data definida para a próxima reunião de acionistas da GVT. Nesse encontro, em que todos têm direito a voto, é que a mudança no estatuto pode ser aprovada.
Leilão
Parte do mercado já prevê um "leilão" pela compra da GVT, uma vez que a mexicana Telmex controladora da Net e da Embratel também tem interesse estratégico na rede de dados da empresa paranaense. O analista da consultoria Petra, Daniel Malheiros, avalia no entanto que dificilmente a proposta da Telefônica possa ser vencida. "A Telefônica pode investir mais, pois vai abater custos fixos com a sinergia de infraestrutura e de pessoal. Mesmo que emita dívida para realizar a compra, ela tem condições para isso. Já a Vivendi entraria em uma posição mais descoberta, entrando como player em uma estrutura ainda pequena", diz.