Rafaela usa celular que parece telefone fixo: preço compensa| Foto: Marcelo Andrade/ Gazeta do Povo

Resistência

Telefone fixo e SMS não vão sair da rotina das pessoas tão cedo

Mesmo com a popularização crescente dos apps para aparelhos móveis, a utilização da telefonia fixa e do SMS ainda não tem data para sumir da rotina dos brasileiros. Dados da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) mostram que, em 2013, o número de linhas fixas teve aumento, chegando a 44,8 milhões no país. Nos últimos cinco anos, a quantidade de fixos aumentou 8%. Pesquisa da consultoria em telecomunicações Acision, divulgada ano passado, revelou que 92% dos usuários brasileiros utilizaram o serviço de SMS no primeiro trimestre do ano passado, contra 89% no mesmo período de 2012.

Por outro lado, o que pode balançar ainda mais o cenário da telefonia tradicional são os esperados avanços na melhoria da conexão móvel do país, considerada ainda bastante limitada pelos próprios usuários – há pouco mais de um mês, a associação Proteste chegou a ingressar com ações judiciais coletivas contra as operadoras devido à má qualidade do serviço 3G oferecido no Brasil.

"Hoje, o usuário exige a mesma qualidade no serviço de voz que tem em casa com o dispositivo móvel, seja no smartphone ou no tablet. E o aumento da qualidade da banda larga com o surgimento de novos apps já permitem que ele tenha uma experiência muito próxima da telefonia tradicional", afirma o consultor em telecomunicação Luis Mateus da Silva Matos.

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Opinião

"Quem conseguir se reinventar terá chance no mercado de telefonia"

Eduardo Levy, diretor-executivo do Sindicato Nacional das Empresas de Telefonia e de Serviços Móvel Celular e Pessoal (Sinditelebrasil).

A tecnologia – e os serviços que decorrem dela – tem a característica de romper com o passado de uma forma absurdamente fria. Essa rapidez com que certas tecnologias alcançam determinados patamares faz com que o mercado vá de um lado para o outro. Hoje, a operadora que conseguir se reinventar, que conseguir estar atenta às necessidades do consumidor, se antecipar a essas necessidades e ser rápida, tem chance no mercado.

O telefone fixo, por exemplo, está sendo substituído pelo celular e é natural que seja. Mas há ainda muitas aplicações para o fixo, principalmente à medida em que ele vai sendo vendido com combos – há empresas que fornecem o telefone fixo junto a uma assinatura básica de internet e TV e outras que, no meio desse combo, oferecem o fixo de graça.

O mesmo ocorre com a telefonia celular. Por meio da rede de dados, é possível acessar uma quantidade enorme de aplicativos que substituem o serviço de voz e o torpedo, como o FaceTime, no iPhone. O usuário pode achar que está fazendo a ligação de graça, mas o que está fazendo é pagando e usando seu plano de dados.

Então, começa a haver uma migração pra esse tipo de serviço. Se as empresas não estiverem atentas a essa migração e fizerem apostas sem levar em conta essa situação, vão dar com os burros na água.

Pesquisas recentes mostram que os brasileiros estão entre os mais conectados no mundo. Isto pode ser uma ameaça para as empresas de telefonia, mas também uma oportunidade, justamente para buscar esse tráfego de dados. Hoje, é preciso estar atento para essas novidades e preparado para mudanças rápidas para se prever, enfim, aquilo que é o futuro.

A difusão do acesso a conexões de banda larga colocou o modelo de negócios das empresas de telefonia contra a parede. Com a competição de aplicativos que substituem linhas telefônicas fixas e serviços de envio de mensagens de texto (SMS), as operadoras estão apostando todas as suas fichas agora na venda de pacotes de dados para a internet.

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INFOGRÁFICO: Veja dados sobre a telefonia

Hoje, dos 273,58 milhões de celulares ativos no país, 38% têm acesso à rede 3G – em 2009, esse porcentual não ultrapassava 2%. O acesso à banda larga móvel também popularizou os apps de troca de mensagens e arquivos, como o WhatsApp e o Facebook Messenger. Cada vez mais conectados, os usuários passaram a recorrer menos ao SMS e agora encontram mais alternativas às ligações via linhas convencionais.

A mudança é global. Estudo da consultoria inglesa Ovum afirma que a preferência pelos aplicativos faz com que as operadoras de telefonia em todo o mundo deixem de lucrar US$ 33 bilhões por ano com o SMS. A previsão é que, nos próximos dois anos, o valor da perda anual chegue a US$ 54 bilhões. Já em 2012, segundo a consultoria Informa, o número de mensagens trocadas por apps superou pela primeira vez a quantidade de textos enviados via SMS – foram 19 bilhões de mensagens por dia contra 17,6 bilhões.

Mais barato

Esse cenário ajudou a baixar o preço dos torpedos, antes cobrados por unidade. A Oi oferta até 500 mensagens por dia para números da operadora e outras 30 para as demais por R$ 0,75 por dia. Já a Vivo tem uma oferta de SMS à vontade para clientes da operadora e R$ 0,05 por mensagem para outras empresas por R$ 6,90 por semana.

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O foco na conexão à internet fez inclusive com que algumas operadoras lançassem recentemente suas próprias versões do WhatsApp. Usuários da TIM e de outras empresas tiveram acesso ao Blah, app gratuito que reúne os serviços de voz, mensagens e vídeo chamadas. Para se comunicar, basta estar conectado à internet. A Claro disponibilizou em agosto do ano passado o Joyn, com recursos semelhantes, mas voltados somente aos clientes da operadora, que podem utilizar o app sem ter o tráfego de dados tarifado.

"Pode haver sim queda no envio de SMS e um crescimento acelerado nos serviços de comunicação pela internet, mas acreditamos que esses serviços se complementam e não se substituem. Estamos nos movimentando para nos diferenciarmos cada vez mais nesses serviços com potencial de novas receitas e crescimento, mas não creio que essa explosão [da conexão à internet] vá acabar com as demais receitas", avalia o diretor regional da Claro para Paraná e Santa Catarina, Versione Souza.

As operadoras não revelam a parcela de receita referente a cada serviço, mas quem acompanha o setor vê o foco nos pacotes de dados como definitivo. "Apesar de ainda serem o principal serviço, as receitas de voz das operadoras na telefonia móvel estão caindo em alguns países e, no Brasil, parando de crescer. As operadoras já vêm investindo cada vez mais em banda larga fixa e móvel, que é de onde está vindo o crescimento da receita", diz o presidente da consultoria Teleco, Eduardo Tude.

Participação

Operadoras investem em ofertas para manter o aparelho fixo Apesar de ser preterido pelo celular em mais da metade dos lares brasileiros, o telefone fixo ainda é alvo de investimento de operadoras – inclusive das que, até pouco tempo atrás, apostavam as fichas na telefonia móvel. A Telefônica Vivo diz ter registrado um total de 15,3 milhões de acessos fixos em 2013, número 2,2% superior a 2012. Parte do incremento se deve ao serviço Vivo Fixo, por meio do qual o usuário coloca um chip da operadora em um celular e pode utilizá-lo no raio de um quilômetro de casa. O serviço está disponível no Paraná há pouco mais de dois anos. O pacote mais barato, de R$ 19,90, oferece ligações locais ilimitadas para qualquer fixo do país. O aparelho "híbrido" foi a forma encontrada pela empresária curitibana Rafaela Greca para diminuir as despesas com telefonia. Como ela trabalha em casa, na organização de eventos, não se viu incomodada pela limitação física do aparelho. "Sempre tive que ligar muito para telefones fixos de agências de publicidade, cerimoniais e casas de eventos. Aí, neste caso, não valia a pena ligar do celular", relata.

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Hoje, o mercado da telefonia fixa, assim como na telefonia móvel, é disputado por quatro grandes operadoras, que fecharam 2013 com 44,8 milhões de acessos fixos: Oi (39% de participação), Embratel (23%), Telefônica (23%) e GVT (9%).

Que nota você daria para os serviços de internet 3G? A conexão atende suas expectativas? Por quê?Deixe seu comentário abaixo e participe do debate.