Carteira gorda
Os volumes de repasses de dividendos para as matrizes internacionais aumentaram em até 150%. Veja a média de cada uma delas. A GVT, do grupo Vivendi, não divulgou os dados, bem como Net, Claro e Embratel, do grupo América Móvil
Telecom Itália/TIM
A empresa repassa 67% dos dividendos para o caixa da Telecom Itália, uma alta de 150% de 2009 a 2013, de R$ 327,4 milhões para R$ 843 milhões.
Telefônica/Vivo
Destina 73,8% de seus dividendos para a Espanha. Dos R$ 18 bilhões pagos entre 2009 e 2013, R$ 13 bilhões foram enviados à sede.
Portugal Telecom/Oi
Entre 2011 e 2013, o grupo português reduziu o pagamento de dividendos em quase 60% à Telemar Participações (holding que controla a Oi e 10% da PT), de R$ 187,8 milhões para R$ 75,9 milhões. Os dividendos da Oi à PT teriam aumentado mais de quatro vezes, de acordo com fontes do setor. Procurada, a Oi não comentou, pois está em "período de silêncio" devido à fusão com a PT.
R$ 200 milhões é o valor do investimento negociado entre as principais operadoras de telefonia móvel no país Vivo, Claro, TIM, Nextel e Oi para garantir conexão 4G nos estádios onde serão realizados jogos da Copa do Mundo.
Não há usuário que não deseje mais investimentos em serviços de telecomunicações no Brasil, onde imperam a baixa qualidade e os preços altos. A julgar pelos lucros crescentes das companhias do setor, sobram recursos para realizar melhorias na infraestrutura. Parte do dinheiro, porém, segue direto para o exterior e engorda o caixa das matrizes dos grandes grupos globais. Segundo especialistas e empresas de classificação de risco, as subsidiárias brasileiras de telefonia vêm aumentando o envio de seus lucros para fora do país, impedindo um avanço maior nos investimentos aqui. Em alguns casos, a alta na remessa de dividendos atingiu 150% entre 2009 e 2013. E há empresas que "exportaram" até 95% de seus ganhos anuais.
TIM e Vivo enviaram para suas matrizes cerca de R$ 15 bilhões em dividendos desde 2009. A Oi, dizem analistas, remeteu R$ 1,2 bilhão para a Portugal Telecom (PT) no período. A GVT, da francesa Vivendi, não divulga o quanto envia, assim como as empresas do grupo mexicano América Móvil no Brasil: Embratel, Claro e Net.
Segundo consultores, o aumento no envio de dividendos das teles brasileiras ocorre porque suas sedes a maior parte na Europa não querem abrir mão desses recursos, uma forma de reduzir seu endividamento e de compensar a queda na receita, afetada com a crise econômica. "Todas as empresas no Brasil têm enviado às sedes mais recursos, que poderiam ser direcionados para elevar investimentos em infraestrutura, já que a qualidade dos serviços é ruim. As teles distribuem dividendos em um patamar bem maior que o mínimo de 25% do lucro", atesta o consultor Virgílio Freire, lembrando que a Vivo envia quase a totalidade do lucro.
Do outro lado do Atlântico, as matrizes querem os recursos das subsidiárias para não terem as notas de risco rebaixadas. "Ao analisar o rating de uma empresa, levamos em conta o quanto vão receber de dividendos das subsidiárias, pois esses recursos entram no caixa. Essas empresas tentam não abrir mão disso, extraindo o máximo possível das filiais, que poderiam usar esses recursos em mais investimentos (no Brasil)", diz Soummo Mukherjee, analista sênior da Moodys.
Eduardo Tude, presidente da consultoria Teleco lembra, porém, que os investimentos aqui já são altos, pois a rede está em construção. Em 2013, até setembro, as teles destinaram R$ 17,6 bi alta de 7% ante 2012. Mesmo assim, o número de reclamações só aumenta. Na Anatel, agência que regula o setor, as queixas cresceram 42%: de 8.452 em 2012 para 12 mil em 2013. A implementação da tecnologia 3G encontra desafios para avançar no país, onde 33,6% das cidades têm apenas uma operadora prestando serviços.
"O desafio é aumentar a capacidade da rede de dados. Além disso, o setor sofre com a alta carga tributária. A alíquota de ICMS varia de 25% a 35%", lembra Tude, destacando que o usuário brasileiro paga uma das contas mais altas do mundo.
Copa do Mundo é desafio em país com serviço caro e ruim
Em ano de Copa do Mundo em solo brasileiro, o setor de telecomunicações tem desafios de sobra no quesito investimentos. De acordo com a consultoria Teleco, cerca de 36% dos municípios ainda não contam com cobertura 3G. E mais: apenas 8,5% das cidades (471 no total) têm os serviços de quatro operadoras. Desde meados do ano passado, o número de localidades atendidas estacionou em 3,5 mil cidades. No caso da rede 4G, que confere alta velocidade à banda larga móvel, apenas 76 municípios oferecem a nova tecnologia.
Pelo acordo firmado entre as teles e o governo federal, somente as cidades que vão sediar os jogos da Copa e abrigar as seleções são obrigadas a ter 4G. O resto do país tem cronograma de instalação escalonado.
Atraso
A Copa é vista com preocupação pelas teles. Segundo o SindiTelebrasil, que reúne as companhias do setor, nenhum dos 12 estádios está com a instalação da infraestrutura de telecomunicações pronta. Em alguns casos, como no Maracanã, a previsão é que as redes sejam concluídas só em maio, às vésperas do Mundial. Nos estádios de São Paulo e de Curitiba, a situação é crítica, pois as negociações com as teles ainda estão em curso. Para permitir a conexão nos estádios na Copa, Vivo, Claro, TIM, Nextel e Oi se uniram em um consórcio para investir juntas cerca de R$ 200 milhões e compartilhar os equipamentos, como antenas e roteadores.
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